Sobre o que leva um alcoolista à sobriedade, ainda não encontrei explicação mais elucidativa (e mais frustrante para quem busca evidências) que a de Carl Gustav Jung, em uma correspondência enviada para Bill W., um dos fundadores de Alcoólicos Anônimos. É preciso vivência de primeira pessoa ou uma leitura espiritual para 'simpatizar' com as supostamente obscuras e declaradamente hesitantes e sinceras palavras de Jung:
"[...] Sua avidez por álcool era o equivalente a um nível baixo de sede de nosso ser por completude, expresso em linguagem medieval: a união com Deus.
Como alguém pode formular tal insight em uma linguagem que não seja mal-entendida por outros?
A única e legítima forma de tal experiência é que isso acontece a você em realidade e isso só pode acontecer a você quando você caminha numa trilha que o leva a uma compreensão mais alta. Você pode ser conduzido àquele alvo por um ato de graça ou através de um contato com amigos ou através de uma alta educação da mente além dos confins do mero racionalismo. [...]
Estou fortemente convencido de que o princípio do mal prevalecente neste mundo conduz à necessidade espiritual não reconhecida à perdição, se isso não for contraposto ou por um insight religioso real ou pelo muro protetor da comunidade humana.
Uma pessoa comum, não protegida por uma ação vinda de cima e isolada em sociedade, não pode resistir ao poder do mal, que é chamado muito adequadamente de Diabo. Mas o uso dessas palavras levantam tantos erros que alguém deve manter-se longe delas tanto quanto possível. [...]
Veja, Álcool em Latim é “spiritus” e usamos a mesma palavra para a mais alta experiência religiosa assim como para o mais depravante veneno. A formula auxiliadora portanto é: spiritus contra spiritum."
Carta de Carl Gustav Jung a Bill W., em 30 de janeiro de 1961