BELLINI, Giovanni St Jerome in the Desert c. 1480 Oil on panel, 152 x 114 cm Galleria degli Uffizi, Florence |
22 de julho de 2024. Pensamentos durante a corrida
Não acredito no milagre do mindfulness, mas estou certo de que uma das piores formas de boicote que você pode fazer em relação a si mesmo durante suas atividades é parar para conferir notificações do smartphone ou se perder mentalmente em relação a seus devaneios ou problemas. A sensação de que uma atividade foi realizada de maneira bem-feita pode depender da certeza de que você se entregou inteiramente à sua prática. Não pretendo mais prejudicar minhas atividades atendendo às demandas externas.
O movimento slow é uma resistência ao espírito frenético de nossos tempos. Já são conhecidos os benefícios do movimento slow em nossa relação com a alimentação. Igualmente benéfica é a orientação slow para a leitura: no lugar do excesso de informação e da contagem de páginas e livros, o olhar atento, detido e cuidadoso ao que se lê. Quantas passagens ricas e quantos detalhes estupendos perdemos na ânsia de finalizar um texto. Talvez seja bom cuidarmos mais da jornada. É por ter essa compreensão que tenho buscado escolher de maneira muito criteriosa os livros que leio. Mas o movimento slow não vale apenas para a alimentação e a leitura: os princípios do slow valem para muitas dimensões da vida.
Muitas são as interpretações possíveis para a pergunta: por que o pequeno príncipe não respondia às perguntas do aviador? Ocorreu-me que talvez o menino não quisesse correr o risco de não ser ouvido ou simplesmente estava certo de que fato ser ouvido é coisa tão rara que não vale a pena gastar energia falando com os outros sobre si mesmo.
Perguntaram-me hoje se eu tenho uma posição quanto ao estatuto de verdade da psicanálise. Pego de surpresa pela pergunta, e talvez por saber que a vontade de ouvir tende a girar entre ser pequena e ser nula, fingi uma resposta. Durante a corrida, pensei: minha analista se orienta pelos ensinamentos e transmissão de Freud e Lacan, e comigo tem dado certo. Minha análise tem sido uma experiência libertadora. Sigo estudando Freud e os pós-freudianos com o coração aberto e a escuta plena.
Sou a favor da irrestrita liberdade de expressão. Considero abominável e anti-humana qualquer forma de censura. No entanto, pagamos um preço pelo que falamos. O poder da palavra é muito grande.
Para mim, a vida é muito curta para me entregar qualquer energia a questões de política e de opinião pública. Adoro a liberdade que tenho de não ter opinião. Exerço essa liberdade para quase tudo. Talvez passada a metade do meu tempo de vida, prefiro devotar o que tenho de tempo às artes, à literatura, à filosofia, à psicanálise, à psicologia e à minha família.
O movimento slow é uma resistência ao espírito frenético de nossos tempos. Já são conhecidos os benefícios do movimento slow em nossa relação com a alimentação. Igualmente benéfica é a orientação slow para a leitura: no lugar do excesso de informação e da contagem de páginas e livros, o olhar atento, detido e cuidadoso ao que se lê. Quantas passagens ricas e quantos detalhes estupendos perdemos na ânsia de finalizar um texto. Talvez seja bom cuidarmos mais da jornada. É por ter essa compreensão que tenho buscado escolher de maneira muito criteriosa os livros que leio. Mas o movimento slow não vale apenas para a alimentação e a leitura: os princípios do slow valem para muitas dimensões da vida.
Muitas são as interpretações possíveis para a pergunta: por que o pequeno príncipe não respondia às perguntas do aviador? Ocorreu-me que talvez o menino não quisesse correr o risco de não ser ouvido ou simplesmente estava certo de que fato ser ouvido é coisa tão rara que não vale a pena gastar energia falando com os outros sobre si mesmo.
Perguntaram-me hoje se eu tenho uma posição quanto ao estatuto de verdade da psicanálise. Pego de surpresa pela pergunta, e talvez por saber que a vontade de ouvir tende a girar entre ser pequena e ser nula, fingi uma resposta. Durante a corrida, pensei: minha analista se orienta pelos ensinamentos e transmissão de Freud e Lacan, e comigo tem dado certo. Minha análise tem sido uma experiência libertadora. Sigo estudando Freud e os pós-freudianos com o coração aberto e a escuta plena.
Sou a favor da irrestrita liberdade de expressão. Considero abominável e anti-humana qualquer forma de censura. No entanto, pagamos um preço pelo que falamos. O poder da palavra é muito grande.
Para mim, a vida é muito curta para me entregar qualquer energia a questões de política e de opinião pública. Adoro a liberdade que tenho de não ter opinião. Exerço essa liberdade para quase tudo. Talvez passada a metade do meu tempo de vida, prefiro devotar o que tenho de tempo às artes, à literatura, à filosofia, à psicanálise, à psicologia e à minha família.