‘CAFÉ FILOSÓFICO’ DA ‘UNIVERSIDADE
AMIGA DA PESSOA IDOSA’ (UNAI-UFU)
Proposta
do extensionista voluntário Leonardo Ferreira Almada para a coordenadora,
Profa. Dra. Karina do Valle Marques
Uberlândia-MG
27 a
29 de Setembro de 2024
SUMÁRIO
1. Apresentação 01
2. Propostas de
temas 05
2.1 Projeto ‘Café Filosófico’ 05
2.1.1 Sabedoria e
envelhecimento 05
2.1.2 O sentido da vida na
velhice 06
2.1.3 Liberdade e autonomia
na velhice 07
2.1.4 Memória e identidade 09
2.1.5 A felicidade na velhice 10
2.1.6 O papel da mulher na
sociedade ontem e hoje 12
2.1.7 Solidão e conexões na
velhice 13
2.1.8 Felicidade: o que é a
felicidade? 14
2.2 Projeto ‘Café com a Morte’ 15
2.2.1 A morte e a finitude 15
2.2.2 A Morte e morte
metafórica a partir da produção artística 16
2.2.3 A morte na ciência 17
2.2.4 A morte e a política 18
2.2.5 A morte e a religião 20
2.2.6 Morte, arte e música 22
2.2.7 A morte e o direito 24
2.2.8 A morte e o cotidiano 26
2.3 Considerações finais 29
3. A dinâmica dos
encontros do ‘Café Filosófico’ e ‘Café com a Morte’ 30
3.1 Atividades complementares 31
3.2 Práticas de Preparação e
Retorno (feedback) 31
4. Para reflexão:
Resta quanto tempo?, por Rubem Alves 32
5. Referências
(em construção) 35
5.1 Literatura (em
construção) 35
5.1.1 Poesias e prosas breves
(em construção) 39
5.2 Psicologia (em
construção) 40
5.3 Filosofia (em construção) 43
5.4 Filmes (em construção) 48
5.5 Artes plásticas (em
construção) 53
1. Apresentação
O ‘Café Filosófico’ é um projeto desenvolvidos por
iniciativa da Profa. Dra. Karina do Valle Marques, coordenadora do Programa de
Extensão ‘Universidade Amiga do Idoso’ (doravante, UNAI-UFU), vinculado e
registrado junto à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal
de Uberlândia (PROEXC-UFU), instituído pela Resolução 15/2009 do Conselho de
Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis da Universidade Federal de Uberlândia
(CONSEX-UFU).
O projeto ‘Café Filosófico’ é uma iniciativa cultural da
UNAI-UFU, mediante o qual serão oferecidos, às(aos) alunas(os), um espaço regular
de aprendizado, aprimoramento afetivo e cognitivo, diálogo, socialização, trocas
de ideias e reflexões sobre alguns dos temas e problemas (teóricos,
existenciais, filosóficos ou psicológicos) que, de uma forma ou de outra, ‘atravessam’
a população idosa. Do ponto de vista dos seus conteúdos, os projetos são
fomentados por produções consagradas e estabelecidas em livros (sejam
literários, psicológicos, científicos, sociológicos, filosóficos), filmes,
artes plásticas e/ou outros objetos de artes em geral.
Para a realização do projeto ‘Café Filosófico’, a sede da
UNAI-UFU (rua Duque de Caxias) oferecerá, a suas(seus) alunas(os), um espaço
acolhedor, envolto em uma aura de antiguidade e de memória. Os encontros ocorrerão
em meio ao antigo maquinário aos e tecidos disponíveis na sede da UNAI-UFU, confluindo
para deslocar nossa imaginação e lembranças para tempos antigos: as antigas máquinas
de costura se misturam a uma igualmente antiga máquina de escrever e a máquinas
de moer e torrar café. Para completar o cenário, pairará no ar o cheiro da mais
popular e congregadora bebida brasileira (e quiçá do mundo), e a qual dá nome
ao evento, o café. Nesse ambiente, projetado para nos lembrar a ‘casa de vó’, respiraremos,
juntos, e desde os primeiros momentos dos encontros, as memórias físicas e
espirituais das(os) nossas(os) alunas(os) idosas(os).
O projeto ‘Café Filosófico’ busca conciliar (i) o convite à
reflexão sobre temas existenciais, sociais, culturais, espirituais e
filosóficos a partir de uma abordagem acessível e envolvente com (ii) um espaço
de acolhimento, de estímulo à livre expressão e à diversidade das(os)
alunas(os), de compartilhamento de vivências e de ampliação de perspectivas.
Trata-se, pois, do esforço — há algum tempo empreendido com
êxito pelos cafés filosóficos que tanto êxito têm logrado junto ao público
geral — de aproximar o esforço conceitual e o pensamento filosófico com a
realidade cotidiana prática vivida. Portanto, o projeto ‘Café Filosófico’ não
se perde em meio a um eruditismo vazio. O êxito desse empreendimento depende da
capacidade que temos de mostrar aos nossos interlocutores como a
problematização filosófica está presente em cada uma das maneiras como
constituímos nosso mundo; em outras palavras, pela competência que temos de
explicitar como a filosofia está presente em cada um dos traços de nossa
cultura, de nossos costumes, de nossa moral e, portanto, de nossa própria visão
de mundo.
Considerando a realidade do público a que se destinam esses
projetos, acrescenta-se o nosso respeito à ausência de hierarquias intelectuais
e à desconstrução de um suposto exclusivismo do lugar de saber do mestre. Em
seu lugar, propomos o estabelecimento de uma posição horizontal que, ao final e
ao cabo, pende para a experiência e a sabedoria da população idosa, valorizando
os saberes e visões acumulados ao longo de décadas.
Voltado principalmente para pessoas acima de 60 anos, o
‘Café Filosófico’ da UNAI-UFU busca, desde a idealização de cada um dos
encontros, promover a inclusão intelectual e social por entremeio do estímulo
ao protagonismo e à autonomia das participantes no campo do pensamento e da
expressão. Nossa expectativa é a de que cada um dos encontros constitua uma
oportunidade de aprendizado mútuo, e que as trocas de ideias e a reflexão
conjunta fomentem um espaço de convivência enriquecedora e transformadora. A
associação entre o cultivo de questões filosóficas e a convivência em um
ambiente no qual as(os) alunas(os) se sentem tão bem acolhidas(os) há vários
anos potencializa não apenas o fortalecimento de laços afetivos e sociais entre
os participantes, mas também contribui para a valorização do envelhecimento
ativo, promovendo, na prática, o compartilhamento e a celebração da sabedoria e
das histórias de vida de cada um das(os) alunas(os) do projeto.
Por um lado, a proposta de um ‘Café Filosófico’ traz consigo
uma finalidade pedagógica de primeira grandeza, qual seja, a de fazer circular,
por meio de suas atividades, e no processo de interação com os beneficiários, novos
ou revisitados conteúdos, abordagens, perspectivas e visões de mundo.
Por outro lado, e como consequência dessa primeira finalidade,
o ‘Café Filosófico’— constituído para atender às demandas de saúde, bem-estar e
qualidade de vida da população idosa — busca ser mais algumas das formas a que
a UNAI-UFU recorre para promover o aprimoramento cognitivo de seus
beneficiários. Considerando a definição de psicologia cognitiva como o conjunto
de processos mentais inerentes à recepção, processamento, armazenamento e uso
de informações, o projeto ‘Café Filosófico’ busca estimular o enriquecimento cognitivo
de suas(seus) alunas(os) por meio das seguintes formas:
(i) Estimulação intelectual: com efeito, ainda que a
discussão de temas filosóficos em um ‘Café Filosófico’ transcorra em um nível o
mais acessível possível, o contato com a reflexão, à análise e à argumentação
que inerem à problematização filosófica de qualquer tema demanda um esforço
cognitivo. Problematizações filosóficas mobilizam nossas principais funções
cognitivas, dentre as quais a percepção, a atenção, a memória, a linguagem, o pensamento,
e a simulação mental de resolução de problemas e de tomada de decisão. Esse
exercício não apenas contribui para manter o cérebro ativo, como, em
consequência, para o desenvolvimento da cognição, isto é, da aquisição e
utilização de conhecimento para entender o mundo e agir sobre ele. Uma
consequência importante da estimulação intelectual é, portanto, a preservação e
o aprimoramento de funções cognitivas como memória, atenção, raciocínio lógico
e pensamento crítico;
(ii) Desenvolvimento de habilidades e repertórios
linguísticos: O engajamento com diálogos e problematizações filosóficas desempenha
um papel significativo no desenvolvimento da linguagem verbal, contribuindo,
dessa maneira, para um ganho em fluência, no vocabulário e na clareza na
comunicação. Dadas as relações entre pensamento e linguagem, o aprimoramento da
fluência, vocabulário e clareza na comunicação está associado ao
desenvolvimento na capacidade de estabelecer pensamentos, isto é, à estimulação
das ‘trilhas neurais’ importantes para o retardo dos processos demenciais
naturais;
(iii) Fomento ao pensamento crítico: independentemente do
tema que está sendo discutido, o exercício de problematização filosófica estimula
o questionamento e o debate de ideias que, muitas vezes, são precipitadamente
tomadas como certas pelo senso comum. Acreditamos, nesse sentido, que o projeto
‘Café Filosófico’ pode ser uma ferramenta de capacitação a pensamentos mais
complexos e funcionais, e a um modo mais reflexivo e aberto para avaliação de
suas crenças e estados mentais, o que também está associado à reformulação de
trilhas neurais associadas com o declínio cognitivo;
(iv) Socialização: As mais diversas perspectivas filosóficas
e científicas têm corroborado a compreensão aristotélica de que o homem é um
animal político, isto é, um animal da pólis, ou, para ser mais preciso, um
animal social. Nossa plena realização e desenvolvimento, nos ensina a
psicologia histórico-cultural, dependem de como são afetados e afetamos o meio.
A socialização é, sem dúvida, parte importante dos benefícios presentes em
todas as atividades da UNAI-UFU. O projeto ‘Café Filosófico’ busca ser mais uma
oportunidade de interação social entre as(os) alunas(os), constituindo,
destarte, um cultivo à saúde, contemplada em todos os seus níveis, a saber: a saúde
física, mental e emocional. A diminuição do isolamento social está relacionado
a um risco menor de problemas demenciais, de transtornos de humor e de
ansiedade e a um aumento do fortalecimento imunológico; em consequência, à
elevação da expectativa de vida e dos níveis de saúde, bem-estar e qualidade de
vida;
(v) Desenvolvimento de habilidades e repertórios emocionais
e afetivos e psicológicos: A exemplo dos benefícios que ocorrem em qualquer
ciclo do desenvolvimento humano a partir do contato com a literatura, com a
filosofia e com as artes em geral, a oportunidade de discutir questões
existenciais, éticas e morais e, em consequência, de explorar, em condições
controladas e responsáveis, emoções e valores profundos, pode propiciar, as(os)
alunas(os) da UNAI-UFU, ferramentas de autoconhecimento e mesmo uma sensação de
propósito. O autoconhecimento e a sensação de propósito estão
indissociavelmente associados com o fortalecimento da saúde emocional, na mesma
medida em que suas ausências estão associadas ao aumento de ideações suicidas,
e de transtornos de humor e de ansiedade, especialmente na velhice; e, dentre
outras formas possíveis de buscarmos estimular o enriquecimento cognitivo
das(os) alunas(os) da UNAI-UFU, podemos citar a
(vi) Flexibilidade cognitiva: o projeto ‘Café Filosófico’ propõem
a seus participantes o contato com novas ideias, pontos de vista e
perspectivas, desafiando-os a exercitar suas funções cognitivas a partir do
convite à flexibilização de seus pontos de vista e à ampliação da capacidade de
adaptação a novos cenários (reais ou simulados). O projeto ‘Café Filosófico’ é,
portanto, potencialmente benéfico para o alargamento da plasticidade cognitiva,
essencial para um envelhecimento saudável.
No ‘Café Filosófico’, introduziremos sessões especiais do ‘Café
com a Morte’, que segue o exemplo bem-sucedido da experiência inglesa com o ‘Death
Cafe’, no qual o tema geral é a morte em seus múltiplos aspectos, isto é,
para além da dimensão biológica. Nos encontros do projeto ‘Café com a Morte’, buscaremos
trabalhar, com nossas(os) alunas(os), seus anseios, seus pensamentos e
experiências sobre a morte e o morrer, suas compreensões psicológicas de ‘morte
em vida’, de ‘morte de sentimentos’, de ‘morte em cultura’ e, dentre outros
tantos temas possíveis, ‘a morte e a espiritualidade’, no âmbito da compreensão
sustentada pela psicologia do desenvolvimento, a saber: a de que há
desenvolvimento na velhice.
O ‘Café com a Morte’ é um
subprograma do ‘Café Filosófico’.
2. Propostas de temas
Seguem, abaixo, algumas propostas gerais de temas, todas
passíveis de múltiplos desdobramentos e, portanto, de muitas apresentações
diferentes. Cada um dos temas listados são grandes tópicos capazes de abarcar
incontáveis discussões particulares. Portanto, além de novos temas poderem ser
acrescentados a esta lista nada exaustiva, os itens já presentes podem ser
desdobrados em subitens e itens afins.
2.1 Projeto ‘Café Filosófico’
2.1.1 Sabedoria e
Envelhecimento
Pergunta-guia: O que é sabedoria? Como a experiência
da vida molda o nosso entendimento do mundo? A sabedoria é um privilégio do
envelhecimento ou pode ser alcançada em qualquer fase da vida?
Discussão: Refletir sobre como a idade traz novas
formas de ver a vida, e como o envelhecimento pode ser uma fonte de ‘empoderamento
pessoal’ e de aprendizado. A sabedoria tende a estar associada à idade, na
medida em que, com o passar do tempo, acumulamos uma vasta gama de
experiências, sucessos, fracassos e aprendizados. O envelhecimento traz uma
perspectiva mais ampla, permitindo-nos ver a vida com menos pressa e mais
aceitação. Com o passar dos anos, muitas pessoas desenvolvem uma habilidade
especial de filtrar o que é realmente importante, diferenciando o que é
passageiro do que é duradouro. Ocorre que, no entanto, o conceito de sabedoria
pode ser visto não apenas como um acúmulo de conhecimento, mas como a
capacidade de aplicar esse conhecimento de forma equilibrada, em situações
desafiadoras da vida. Sabedoria, pois, envolve não só inteligência, mas também
empatia, paciência e o entendimento das complexidades humanas.
Na velhice, as pessoas frequentemente passam a valorizar
mais o momento presente e a cultivar uma compreensão mais profunda de si mesmas
e dos outros. O envelhecimento também pode trazer uma aceitação das limitações
da vida e uma serenidade diante das adversidades. Além disso, a sabedoria é uma
via para fortalecer o papel dos idosos como mentores e guias, compartilhando
experiências e conselhos valiosos com as gerações mais jovens.
No entanto, também é relevante discutir como a sociedade
moderna pode subvalorizar ou desconsiderar a sabedoria dos mais velhos, devido
ao foco exagerado no novo e no tecnológico. Como podemos resgatar e valorizar o
papel dos idosos na transmissão de conhecimento e sabedoria? E, por outro lado,
é possível que a sabedoria não esteja necessariamente vinculada à idade, mas ao
amadurecimento emocional e às lições que extraímos de nossas experiências,
independentemente de quão jovens ou velhos somos?
Exemplo filosófico: Sócrates, o filósofo grego, é
conhecido por sua afirmação: ‘Só sei que nada sei’. Esta afirmação reflete a
ideia de que a verdadeira sabedoria vem do reconhecimento de nossa própria
ignorância. Essa humildade intelectual pode ser uma característica cultivada
com o tempo, à medida que o envelhecimento nos ensina a aceitar a incerteza da
vida. Outros filósofos, como Confúcio, também associam a sabedoria à ética e à
justiça, destacando a importância do autoconhecimento e do equilíbrio nas relações
humanas. Em sua filosofia, envelhecer é alcançar um estado de harmonia
interior, de sorte que a sabedoria serve como guia para a ação ética e
compassiva.
2.1.2 O Sentido da Vida na Velhice
Pergunta-guia: O que faz a vida valer a pena? Como o
sentido da vida muda ao longo dos anos? É possível envelhecer e manter o
propósito em uma sociedade que valoriza a juventude? Quais os desafios e as
oportunidades do envelhecimento? Qual a importância de projetos de vida e
sonhos na velhice?
Discussão: Explorar como o sentido da vida pode se
transformar com o passar do tempo e as prioridades mudam. A importância das
conexões humanas, legado e bem-estar emocional. De fato, nosso sentido de
propósito e as coisas que consideramos importantes tendem a mudar ao longo da
vida. Quando jovens, somos muitas vezes impulsionados por objetivos de
crescimento profissional, formação de família ou conquistas pessoais. No
entanto, conforme envelhecemos, novas prioridades surgem. A reflexão sobre o
sentido da vida na velhice é uma oportunidade de entender como os projetos e os
sonhos evoluem, e como as conexões humanas, o legado e o bem-estar emocional
tornam-se centrais para o sentido de realização.
Na velhice, o sentido da vida pode estar mais relacionado à
satisfação com as experiências vividas, à transmissão de valores e histórias
para as gerações futuras, à manutenção de vínculos afetivos e ao autocuidado. A
reflexão sobre a vida ganha outra dimensão, muitas vezes orientada pela
sabedoria acumulada e pela serenidade em relação ao ciclo da vida. Projetos e
sonhos podem continuar a ser fundamentais, seja em pequenas metas pessoais,
como aprender algo novo, seja em ambições maiores, como contribuir para a
comunidade.
Um dos maiores desafios, no entanto, está na maneira como a
sociedade contemporânea frequentemente associa valor à juventude, ao sucesso
material e à produtividade, desconsiderando a importância da experiência e da
sabedoria dos mais velhos. Isso pode levar ao sentimento de invisibilidade ou
de perda de propósito para algumas pessoas idosas.
Portanto, uma das reflexões possíveis é: como podemos
ressignificar a velhice, de modo que o envelhecimento seja visto como uma fase
de novas oportunidades e descobertas, em vez de um declínio inevitável?
Outro ponto relevante é a importância de manter um propósito
claro, mesmo em idades avançadas. Ter projetos de vida — sejam eles simples ou
ambiciosos — pode manter a mente ativa e proporcionar uma sensação de motivação
e bem-estar. Mesmo pequenos objetivos, como cultivar um hobby, participar de
atividades comunitárias ou criar conexões sociais podem trazer significado e
alegria.
A busca por sentido também está ligada ao legado que
deixamos. Para muitos, envelhecer significa refletir sobre como nossas ações e
nossas escolhas afetaram os outros, e de que maneira podemos continuar a
influenciar positivamente o mundo ao nosso redor. O sentido da vida, então,
passa a incluir o impacto que deixamos nas gerações mais jovens e na
comunidade.
Exemplo filosófico: O pensamento existencialista de
Jean-Paul Sartre é ilustrativo a esse propósito, ao destacar que a vida não tem
um sentido predefinido, mas que somos responsáveis por criar significado a
partir de nossas escolhas e ações. Isso sugere que, mesmo na velhice, temos o
poder de definir e redirecionar nosso propósito. Já Viktor Frankl, em Em
Busca de Sentido, enfatiza que o ser humano pode encontrar sentido até
mesmo nas adversidades, e que esse sentido é fundamental para nossa
sobrevivência emocional. Frankl afirma que ter um propósito — seja o amor por
alguém, um trabalho significativo ou a crença em algo maior — é essencial para
viver plenamente, independentemente da fase da vida em que nos encontramos.
2.1.3 Liberdade e Autonomia na
Velhice
Pergunta-guia: O que significa ser verdadeiramente
livre? Como a percepção da liberdade pessoal se transforma ao longo da vida,
mormente na velhice? De que maneira a autonomia se relaciona com o
envelhecimento e quais são os desafios que os idosos enfrentam para manter sua
independência?
Discussão: A liberdade é um dos conceitos mais
valiosos da vida humana, mas sua compreensão e aplicação podem mudar com o
tempo. Na juventude, a liberdade muitas vezes está associada à ausência de
limitações, ao direito de fazer escolhas amplas e de explorar o mundo sem
muitas restrições. No entanto, conforme envelhecemos, surgem novas questões
sobre o que significa ser livre, especialmente à medida que o corpo e as
circunstâncias podem impor novas limitações.
Na velhice, a liberdade se entrelaça fortemente com a
autonomia, ou seja, com a capacidade de tomar decisões por si mesmo e controlar
aspectos fundamentais da própria vida, como a saúde, o bem-estar financeiro, a
moradia e o convívio social. Manter a autonomia pode ser um desafio quando
fatores como declínio físico ou mental começam a interferir, o que pode
resultar em maior dependência de familiares, cuidadores ou instituições. Um
ponto importante para a discussão é a tensão entre a preservação da autonomia
pessoal e as necessidades de cuidados, seja pela família ou pelo sistema de
saúde.
A autonomia também está relacionada à capacidade de fazer
escolhas sobre a própria saúde, como aceitar ou recusar determinados
tratamentos médicos, decidir onde e com quem viver, e como lidar com o
envelhecimento de forma digna e satisfatória. Refletir sobre essas questões é
importante, pois muitos idosos enfrentam pressões sociais e familiares que
podem minar sua capacidade de tomar essas decisões. A sociedade, por vezes,
impõe limites à autonomia dos mais velhos, sob o argumento da segurança e da
proteção, o que pode levar à perda de liberdade.
Além disso, em uma sociedade que valoriza amplamente a
juventude e a produtividade, os idosos muitas vezes são marginalizados e têm
sua capacidade de autodeterminação questionada. É relevante discutir como
garantir que a liberdade e a autonomia dos idosos sejam respeitadas, mesmo em
situações de maior vulnerabilidade, e como a sociedade pode criar um ambiente
onde o envelhecimento seja visto como uma fase de vida que ainda traz
oportunidades de decisão e independência.
Outra questão fundamental é a relação entre liberdade e
responsabilidade. Com o passar dos anos, muitos idosos relatam que sua
concepção de liberdade se transforma, passando a valorizar mais a
responsabilidade com os outros — familiares, amigos, comunidade — do que a
liberdade individualista. Isso levanta a reflexão sobre o que significa ser
livre, em termos de relações humanas, escolhas coletivas e pertencimento
social.
Exemplo filosófico: Jean-Jacques Rousseau, em seu
livro O Contrato Social, defende que a verdadeira liberdade consiste em
viver de acordo com regras que nós mesmos estabelecemos, em harmonia com os
outros. Aplicando isso à velhice, a liberdade pode ser vista não apenas como a
ausência de restrições, mas como a capacidade de manter a dignidade e a
autonomia em meio às mudanças da vida. Immanuel Kant, por sua vez, argumenta
que a liberdade verdadeira está ligada à autonomia moral — a capacidade de agir
de acordo com princípios racionais que escolhemos para nós mesmos,
independentemente de pressões externas. Na velhice, essa ideia pode ser
aplicada às decisões sobre como viver de forma autêntica e digna, mesmo diante
de desafios impostos pela idade.
Essas reflexões destacam que, na velhice, a liberdade pode
assumir significados mais profundos, sendo fortemente ligada à preservação da
autonomia e à capacidade de fazer escolhas significativas sobre a própria vida.
2.1.4 Memória e Identidade
Pergunta-guia: Como nossas memórias moldam quem
somos? De que forma elas constroem nossa identidade ao longo da vida? O que
perdemos e ganhamos com o passar do tempo em termos de memória? Qual a
importância de preservar nossas memórias e histórias de vida, especialmente na
velhice?
Discussão: A memória desempenha um papel fundamental
na construção da identidade. É por meio das lembranças que formamos uma
narrativa coerente sobre quem somos, de onde viemos e como nos tornamos o que
somos hoje. Nossas experiências passadas, as decisões que tomamos, os
relacionamentos que mantivemos e até os fracassos que enfrentamos são
armazenados na memória e contribuem para a percepção atual de nossa identidade.
Assim, a memória é uma ponte que conecta o passado ao presente, ajudando a
formar o sentido do ‘eu’.
Na velhice, o papel da memória pode se tornar ainda mais
proeminente, pois é um momento de vida em que muitas pessoas dedicam mais tempo
à reflexão sobre o passado. Memórias de infância, juventude, trabalho e
relações familiares são frequentemente revisitadas, e a forma como essas
memórias são organizadas pode influenciar a sensação de realização ou
arrependimento. Ao recontar nossas histórias, seja para nós mesmos ou para os
outros, reforçamos nossa identidade e buscamos dar sentido à trajetória que percorremos.
No entanto, o envelhecimento também pode trazer desafios
relacionados à memória, como o esquecimento de detalhes ou até de eventos
inteiros. A perda de memória, seja natural ou decorrente de doenças como o
Alzheimer, pode afetar a percepção de identidade, levando à sensação de
desorientação ou confusão sobre quem se é. Isso levanta a questão: se as
memórias constituem nossa identidade, o que acontece quando elas desaparecem?
Ao mesmo tempo, é importante considerar que, com o tempo, ganhamos novas formas
de ver e interpretar nossas memórias, o que pode enriquecer nossa compreensão
de nós mesmos.
Outro aspecto relevante é a memória coletiva, que ultrapassa
o âmbito individual. A história de vida de uma pessoa não é apenas uma série de
eventos pessoais, mas também está inserida em contextos sociais, culturais e
históricos. Para os idosos, preservar e compartilhar suas memórias pode ser uma
maneira de transmitir conhecimento e sabedoria às gerações mais jovens,
fortalecendo a continuidade entre passado, presente e futuro.
Além disso, o ato de rememorar pode ser uma fonte de
bem-estar emocional. Recordar momentos felizes ou significativos pode trazer
conforto, e, por outro lado, revisitar momentos difíceis pode proporcionar
novas interpretações e até um certo alívio. Nesse sentido, o cuidado com as
memórias, seja por meio de relatos escritos, fotos ou conversas, é essencial
não só para manter a identidade, mas também para fortalecer os laços afetivos
com familiares e amigos.
Exemplo filosófico: O filósofo Paul Ricoeur, em sua
abordagem fenomenológica da memória, explora como a memória não é uma simples
reprodução do passado, mas uma reconstrução ativa que afeta nossa identidade.
Para ele, lembrar é um ato interpretativo, e a forma como escolhemos narrar
nossas memórias influencia a maneira como entendemos quem somos. Ricoeur
destaca que a memória também é vinculada ao esquecimento, e o que escolhemos
esquecer ou lembrar pode ser tão significativo quanto o próprio conteúdo das lembranças.
A memória, então, é tanto uma fonte de identidade quanto de transformação, à
medida que reavaliamos nossas histórias ao longo da vida. Essas reflexões sobre
a memória ajudam a compreender a profunda relação entre o ato de lembrar e a
construção da identidade, especialmente na fase da velhice, onde as histórias
de vida ganham um papel central na preservação do ‘eu’.
2.1.5 A Felicidade na Velhice
Pergunta-guia: O que é felicidade? Como a visão da
felicidade se altera à medida que envelhecemos? É possível encontrar felicidade
na velhice, e como essa felicidade se manifesta?
Discussão: A felicidade é um conceito universal, mas
sua definição pode variar bastante ao longo da vida. Na juventude, a felicidade
muitas vezes está relacionada à realização de metas, ao sucesso pessoal e à
exploração de novas oportunidades. No entanto, conforme o tempo passa, a noção
de felicidade pode mudar de foco, assumindo uma forma mais introspectiva e
serena. Na velhice, a felicidade pode estar mais ligada ao contentamento, à
aceitação da vida vivida, e à gratidão pelas experiências e conexões que se
mantiveram ao longo do tempo.
A reflexão sobre a felicidade na velhice pode girar em torno
de diferentes aspectos, como o papel das relações humanas e da comunidade, a
sensação de legado deixado para as próximas gerações e o equilíbrio emocional.
Enquanto na juventude muitas pessoas buscam a felicidade em conquistas e
desafios, na velhice pode haver um desvio para um tipo de felicidade mais
relacionado ao bem-estar interno e à serenidade. Isso pode incluir a aceitação
de limitações, a capacidade de viver o momento presente e o desfrute de
pequenas alegrias cotidianas, como a convivência com familiares, amigos e a
prática de atividades simples e prazerosas.
A velhice, no entanto, também pode trazer desafios que
afetam a felicidade, como questões de saúde, perdas afetivas ou a sensação de
isolamento. Nesse contexto, uma reflexão importante é sobre como cultivar um
senso de felicidade mesmo diante das adversidades naturais do envelhecimento. A
capacidade de encontrar alegria na vida, apesar das dificuldades, pode estar
vinculada à gratidão, à aceitação e à resiliência emocional. O ato de focar nas
experiências que ainda podem ser vividas, em vez de lamentar o que foi perdido,
pode ser uma fonte de contentamento profundo.
Além disso, a velhice oferece uma oportunidade única para
reavaliar o que realmente importa para cada pessoa. O que antes era visto como
essencial para a felicidade pode perder seu peso, enquanto outros elementos,
como a tranquilidade e o equilíbrio emocional, ganham maior relevância. A
felicidade na velhice pode ser uma busca por uma vida mais plena e
significativa, menos atrelada a desejos materiais e mais conectada a valores
como paz interior, convivência e realização emocional.
Para muitos, a felicidade na velhice pode se manifestar
através de um sentimento de gratidão pelo caminho percorrido e pelas conquistas
emocionais, ao invés de focar em ganhos materiais ou na necessidade de ‘fazer
mais’. A serenidade que vem com a aceitação das escolhas feitas e do ciclo
natural da vida pode ser uma poderosa fonte de felicidade duradoura.
Exemplo filosófico: Aristóteles, em sua Ética a
Nicômaco, discute a ideia de eudaimonia, muitas vezes traduzida como
felicidade ou bem-estar. Para ele, a verdadeira felicidade está em levar uma
vida virtuosa, ou seja, viver de acordo com a excelência das qualidades
humanas, como a sabedoria, a justiça e a coragem. Ele acredita que a felicidade
não é uma questão de prazer momentâneo, mas de alcançar uma vida bem vivida, em
harmonia com os próprios valores e princípios. Na velhice, isso poderia ser
interpretado como a realização de uma vida cheia de virtude e sabedoria, em que
a pessoa encontra felicidade não apenas nas realizações externas, mas na
plenitude interior e na tranquilidade de saber que viveu de forma íntegra e
significativa. Essas ideias destacam que a felicidade na velhice pode ser uma
forma de contentamento profundo, baseada na sabedoria acumulada e na capacidade
de viver com serenidade, gratidão e aceitação.
2.1.6 O Papel da Mulher na
Sociedade ontem e hoje
Pergunta-guia: Como o papel da mulher mudou ao longo
das décadas? Quais são as conquistas e desafios que ainda precisam ser
enfrentados? O que significa envelhecer como mulher na sociedade contemporânea?
Discussão: O papel da mulher na sociedade tem
evoluído significativamente ao longo das décadas, refletindo mudanças sociais,
culturais e políticas. Historicamente, as mulheres eram frequentemente
relegadas a papéis domésticos e de cuidado, com limitações em suas opções
educacionais e profissionais. Contudo, com o advento dos movimentos feministas
no século XX, as mulheres começaram a reivindicar direitos e igualdade,
buscando não apenas acesso ao mercado de trabalho, mas também autonomia sobre
suas próprias vidas.
À medida que as décadas passaram, muitas conquistas foram
alcançadas: o direito ao voto, a educação superior, a participação em
profissões antes dominadas por homens e o reconhecimento de direitos
reprodutivos. Essas mudanças não apenas ampliaram as oportunidades para as
mulheres, mas também começaram a transformar a percepção da sociedade sobre o
que significa ser mulher.
No entanto, mesmo com esses avanços, desafios persistem.
Muitas mulheres ainda enfrentam discriminação no local de trabalho,
desigualdade salarial e a expectativa de cumprir papéis tradicionais, como o
cuidado da casa e da família. A interseccionalidade também se torna uma questão
importante: mulheres de diferentes classes sociais, etnias e orientações
sexuais enfrentam realidades distintas. Portanto, é essencial considerar como
as mudanças nas normas sociais ainda precisam ser aprofundadas e como as mulheres
podem se unir para continuar a luta por igualdade.
Envelhecer como mulher na sociedade contemporânea traz sua
própria complexidade. A sociedade frequentemente valoriza a juventude, e as
mulheres podem sentir a pressão de manter padrões estéticos e sociais
associados à juventude. Isso pode levar a sentimentos de invisibilidade e
marginalização, especialmente quando se trata de questões de saúde, sexualidade
e vida social.
Entretanto, o envelhecimento também pode oferecer uma nova
perspectiva. Muitas mulheres relatam um aumento na liberdade e na confiança à
medida que envelhecem, com a possibilidade de redescobrir paixões e interesses
pessoais. A experiência e a sabedoria acumuladas ao longo dos anos podem ser
vistas como recursos valiosos, permitindo que essas mulheres contribuam de
forma significativa para a sociedade, oferecendo exemplo pessoal para as
gerações mais jovens e desafiando estereótipos sobre a velhice.
O papel da mulher na sociedade hoje é multifacetado, e a
busca por igualdade de direitos continua. As discussões sobre como as mulheres
podem ser mais valorizadas em todas as fases da vida são essenciais para
promover uma sociedade mais justa e equitativa.
Exemplo filosófico: Simone de Beauvoir, em sua obra O
Segundo Sexo, oferece uma análise profunda sobre a condição das mulheres na
sociedade. Ela argumenta que as mulheres historicamente foram vistas como o
‘Outro’ em relação ao homem, sendo definidas em termos de sua relação com eles,
em vez de serem reconhecidas como indivíduos autônomos. Simone de Beauvoir
discute como a educação e a cultura moldam as expectativas sobre o que
significa ser mulher, e ela defende a importância da liberdade e da escolha.
Sua filosofia enfatiza que as mulheres devem se libertar das amarras sociais e
lutar pela sua autonomia e identidade, o que ressoa profundamente nas questões
contemporâneas sobre envelhecimento e o papel da mulher na sociedade. Essas
reflexões podem levar a um diálogo enriquecedor sobre o papel da mulher, tanto
na história quanto na sociedade atual, permitindo que as participantes
compartilhem suas experiências e visões sobre o futuro.
2.1.7 Solidão e Conexões na
Velhice
Pergunta-guia: Qual é o papel das conexões humanas em
nossa vida? Como lidar com a solidão à medida que envelhecemos? Qual a
importância da amizade no envelhecimento? Como as amizades moldam nossa vida
nessas fases? Quais valores têm sido fundamentais ao longo de nossa vida, e
como eles mudaram com o tempo?
Discussão: As conexões humanas são fundamentais para
a nossa saúde emocional e mental, especialmente na velhice. A solidão pode se
tornar um desafio significativo, à medida que mudanças de vida, como a
aposentadoria, a perda de entes queridos e a diminuição da mobilidade, podem
levar ao isolamento. Neste contexto, a amizade e os laços familiares se tornam
ainda mais importantes, fornecendo apoio emocional e um senso de pertencimento.
A amizade, muitas vezes, pode servir como um substituto ou
complemento aos laços familiares, oferecendo compreensão, empatia e uma
sensação de comunidade. À medida que envelhecemos, as amizades tendem a
evoluir, com algumas se fortalecendo e outras se dissipando. A reflexão sobre
os valores que sustentaram essas conexões ao longo da vida — como lealdade,
respeito e amor — pode trazer insights sobre o que realmente importa nas
relações humanas.
A construção e a manutenção de conexões sociais são
essenciais para combater a solidão. Participar de grupos comunitários, clubes
ou atividades sociais pode ser uma forma eficaz de manter-se conectado e ativo.
Além disso, a amizade na velhice pode se manifestar de maneiras únicas,
trazendo alegria e um novo senso de propósito, ao mesmo tempo em que cria um
espaço para o compartilhamento de experiências e histórias de vida.
Exemplo filosófico: Aristóteles, em sua obra Ética
a Nicômaco, discute a amizade como uma das virtudes mais importantes para a
vida feliz. Ele classifica a amizade em três tipos: a amizade baseada na
utilidade, a amizade prazerosa e a amizade baseada na virtude, sendo esta
última a mais elevada, pois se fundamenta em um respeito mútuo e em valores
compartilhados. A reflexão sobre a solidão também pode ser enriquecida por
pensadores existencialistas, como Martin Heidegger, que analisa a solidão como
parte integrante da condição humana, levando a uma compreensão mais profunda da
própria existência.
2.1.8 A Felicidade: O Que é a
Felicidade?
Pergunta-guia: O que é felicidade? É algo que podemos
alcançar ou é uma jornada contínua? É possível manter a felicidade ao longo de
todas as fases da vida? Como as experiências e as relações humanas moldam nossa
felicidade?
Discussão: O conceito de felicidade é multifacetado e
evolui ao longo das diferentes fases da vida. Para muitas pessoas, a juventude
é frequentemente associada a uma busca intensa pela felicidade, frequentemente
ligada a conquistas e novas experiências. No entanto, na velhice, a definição
de felicidade pode se transformar, muitas vezes se centrando na gratidão, na
serenidade e na aceitação do que foi vivido.
Discutir a felicidade implica também explorar como as
relações humanas e as experiências vividas influenciam nossa percepção de
felicidade. A capacidade de cultivar a felicidade em todas as idades, mesmo
diante de desafios, é uma reflexão importante. Questões como a capacidade de
encontrar alegria nas pequenas coisas, a resiliência diante das adversidades e
a importância das conexões sociais são elementos essenciais para uma vida
feliz.
É crucial reconhecer que a felicidade pode ser cultivada
através de práticas de gratidão, aceitação e autocompaixão. A sabedoria
adquirida ao longo da vida pode proporcionar um novo entendimento do que
significa ser feliz, enfatizando que felicidade não é um estado constante, mas
sim uma série de momentos que podem ser apreciados e vividos plenamente.
Exemplo filosófico: Epicuro sugere que a felicidade é
encontrada na busca de prazeres simples e na ausência de sofrimento. Sua
filosofia propõe que, ao focar nas pequenas alegrias da vida e evitar o
excessivo desejo por bens materiais, podemos alcançar uma vida mais plena. Além
disso, a filosofia estoica, representada por pensadores como Sêneca e Marco
Aurélio, enfatiza a importância de ter controle sobre nossas reações emocionais
e de aceitar serenamente as circunstâncias da vida como chave para a verdadeira
felicidade.
2.2 Palestras do Programa ‘Café
com a Morte’
2.2.1. A Morte e a Finitude
Pergunta-guia: Como a morte e a finitude moldam nossa
visão da vida? Como lidar com a ideia de que a morte é inevitável? O que dá
significado à vida quando pensamos na morte? Como podemos encontrar sentido
sabendo que a vida é finita?
Discussão: A reflexão sobre a morte e a finitude pode
ser uma fonte profunda de significado e clareza na vida. À medida que
envelhecemos, a consciência da morte se torna mais presente, e esse
reconhecimento pode nos levar a uma valorização maior dos momentos vividos e
das experiências compartilhadas. Aceitar a morte como parte natural da
existência pode nos ajudar a viver de forma mais plena, aproveitando cada
momento e buscando conexões significativas com os outros.
Discutir como a finitude nos convida a refletir sobre o
legado que deixamos, as contribuições que fizemos e o impacto que tivemos na
vida das pessoas ao nosso redor. Essa reflexão pode abrir espaço para conversas
sobre o que realmente importa e como podemos viver de maneira autêntica e
significativa, mesmo diante da inevitabilidade da morte.
A aceitação da morte pode ser um passo crucial para a paz
interior, permitindo que as pessoas concentrem sua atenção no presente e em
como desejam passar seus dias. Considerar o que dá sentido à vida e como as
experiências e relações moldam essa busca é essencial para encontrar
significado, mesmo nas fases finais da vida.
Exemplo filosófico: Martin Heidegger, em Ser e
Tempo, discute a consciência da morte como essencial para viver uma vida
autêntica, destacando que a compreensão da própria finitude nos impulsiona a
buscar um propósito verdadeiro. Viktor Frankl, em Em Busca de Sentido,
argumenta que a busca de significado é uma das motivações mais profundas do ser
humano, mesmo diante do sofrimento e da finitude. Ele enfatiza que encontrar
sentido nas experiências de vida, mesmo as dolorosas, pode nos proporcionar uma
força interna para enfrentar as adversidades.
2.2.2 A Morte e morte metafórica
a partir da produção artística
Pergunta-guia: Como a morte, literal e simbólica, é
retratada na arte e na literatura? De que forma a morte metafórica pode
representar transformações, encerramentos de ciclos ou mudanças profundas? Como
essas representações artísticas podem nos ajudar a compreender e aceitar as
transições inevitáveis da vida?
Discussão: A arte tem sido, ao longo da história, um
meio privilegiado para expressar as dimensões mais profundas da experiência
humana, incluindo a morte e as suas metáforas. A morte, representada de forma
literal ou simbólica, é um tema central em diversas obras clássicas e
contemporâneas, permitindo uma exploração mais ampla das questões existenciais,
como o fim da vida, o luto, a perda e as transições que marcam as fases da
nossa existência.
A morte literal aparece frequentemente nas artes visuais, na
literatura e no cinema como um ponto culminante ou uma catástrofe. Obras como Hamlet,
de William Shakespeare, retratam a morte como um elemento central na narrativa
e como fonte de reflexão filosófica e existencial. Já no cinema, filmes como O
Sétimo Selo, de Ingmar Bergman, exploram a inevitabilidade da morte, muitas
vezes personificando-a como uma figura concreta com a qual os personagens
interagem.
Por outro lado, a morte metafórica é amplamente utilizada
como representação de transformação e renascimento. Nas artes visuais e na
literatura, essa morte pode simbolizar o fim de uma fase ou aspecto da vida,
permitindo o surgimento de algo novo. Em A Metamorfose, de Franz Kafka,
a transformação física do personagem Gregor Samsa pode ser vista como uma
metáfora para a morte de sua antiga identidade e o início de um novo, porém
trágico, estado de ser. Já no poema Tabacaria, de Fernando Pessoa, o
eu-lírico vive uma espécie de morte psicológica, onde a sensação de alienação e
vazio existencial leva à dissolução da própria identidade.
A arte é, portanto, um canal poderoso para retratar a morte
em suas várias formas, desde o luto pessoal até a mudança de paradigmas e
identidades. A morte simbólica também pode ser vista no campo das artes
plásticas, como nas obras de Pablo Picasso, cujo período Azul reflete
uma visão melancólica e quase fúnebre da condição humana. Obras como Guernica
também trazem a morte à tona de forma brutal, como uma denúncia do sofrimento e
da destruição causada pela guerra.
Exemplo filosófico: O filósofo Friedrich Nietzsche,
em Assim Falou Zaratustra, fala da morte de Deus como uma metáfora para
o fim das antigas crenças e valores, abrindo espaço para o surgimento de uma
nova visão de mundo. Essa morte simbólica não é apenas um fim, mas um convite à
transformação pessoal e cultural. Sigmund Freud, em Luto e Melancolia,
explora como o luto e a perda podem ser vistos como uma forma de morte
psíquica, que ao ser processada adequadamente, pode resultar em renovação.
Nesse sentido, esse tema abrange os aspectos principais de
como a morte e a morte metafórica são abordadas na arte e na produção
simbólica, conectando o tema a exemplos literários e filosóficos relevantes.
2.2.3 A morte na ciência
Pergunta-guia: O que acontece biologicamente com o
corpo após a morte? Quais são os avanços científicos que desafiam os limites da
vida? Como a medicina equilibra o prolongamento da vida e o direito de morrer
com dignidade?
Discussão: Na biologia, a morte é um processo natural
e inevitável para todos os organismos vivos. O corpo humano, após a morte,
passa por uma série de mudanças conhecidas como rigor mortis, livor
mortis e algor mortis, que envolvem a rigidez dos músculos, o
acúmulo de sangue em áreas mais baixas do corpo e o resfriamento corporal. Após
esses processos, a decomposição começa, e o corpo é gradualmente decomposto por
bactérias e outros micro-organismos. Esse ciclo biológico, que termina com a
decomposição, é essencial para a reciclagem de nutrientes na natureza,
mostrando como a morte também alimenta a vida nos ecossistemas.
Os avanços científicos têm desafiado os limites da morte.
Criogenia, a prática de preservar corpos ou cérebros em temperaturas
extremamente baixas na esperança de ressuscitá-los no futuro, é um campo que
busca estender a vida além do que a biologia natural permite. Embora ainda
controversa e sem sucesso comprovado, a criogenia levanta questões filosóficas
e éticas sobre o que realmente significa estar vivo e quando a morte é
definitiva. Além disso, a pesquisa sobre a extensão da vida, como intervenções genéticas
e medicamentos que retardam o envelhecimento, continua a evoluir, questionando
a fronteira entre vida prolongada e a eventualidade da morte.
Na medicina, o debate entre o prolongamento da vida e o
direito de morrer com dignidade é um dos mais complexos e sensíveis. Com o
avanço das tecnologias médicas, tornou-se possível prolongar a vida em estágios
que antes resultariam em morte certa. No entanto, isso levanta questões éticas
sobre a qualidade de vida versus a quantidade de vida. Cuidados paliativos
surgiram como uma resposta médica focada em melhorar a qualidade de vida de
pacientes com doenças terminais, oferecendo alívio da dor e suporte emocional,
sem a intenção de prolongar indefinidamente o processo de morte.
A eutanásia e o suicídio assistido são exemplos de práticas
que refletem o debate sobre o direito de morrer com dignidade. Em muitos
países, a eutanásia é ilegal ou fortemente regulada, enquanto outros permitem
que pacientes terminais escolham quando e como desejam morrer. Este dilema
envolve questões profundas sobre a autonomia individual, o valor da vida e os
limites da intervenção médica. A ética médica também questiona o papel dos
médicos em prolongar a vida a qualquer custo, ou em respeitar os desejos do
paciente de evitar tratamentos fúteis e morrer com dignidade.
Exemplo científico: O neurocientista David Eagleman,
em seu livro Sum: Forty Tales from the Afterlives, explora as
possibilidades da mente e da consciência após a morte, considerando não apenas
os aspectos biológicos, mas também as implicações éticas e filosóficas dos
avanços tecnológicos.
Exemplo filosófico: Hans Jonas, em sua obra O
Princípio Responsabilidade, aborda a responsabilidade da ciência em relação
à vida e à morte, discutindo os limites da intervenção humana no prolongamento
artificial da vida e o impacto das decisões éticas sobre o futuro da
humanidade.
Esse tema, pois, explora os aspectos biológicos da morte e
as implicações éticas e tecnológicas da medicina, conectando-os à ciência e à
filosofia.
2.2.4 A Morte e a Política
Pergunta-guia: Quais são os dilemas éticos e
políticos em torno da pena de morte? Como a morte foi usada como ferramenta de
poder e controle em genocídios e mortes coletivas na história?
Discussão: A pena de morte é um dos tópicos mais polarizadores
no cenário político global, envolvendo questões éticas, morais e legais.
Defensores da pena de morte argumentam que ela serve como um poderoso dissuasor
contra crimes graves, como homicídios, além de garantir a punição de criminosos
que cometeram atos hediondos. Para essas pessoas, a pena capital é vista como
uma forma de fazer justiça às vítimas e à sociedade. Países como os Estados
Unidos, China e Irã ainda mantêm a prática da pena de morte, muitas vezes como
parte de seu sistema judicial em casos de crimes considerados de extrema
gravidade.
Por outro lado, os críticos da pena de morte argumentam que
ela viola os direitos humanos fundamentais, particularmente o direito à vida.
Além disso, a possibilidade de erro judicial – e, consequentemente, a execução
de inocentes – torna o uso da pena capital uma prática extremamente
controversa. Organizações internacionais, como a Anistia Internacional, têm se
posicionado fortemente contra a pena de morte, e muitos países, como os da
União Europeia e o Canadá, baniram completamente essa prática. A ideia de que o
Estado pode tirar a vida de uma pessoa também levanta questões sobre o poder
que as instituições políticas têm sobre a vida dos indivíduos, e se tal poder
pode ser legitimamente exercido.
Além da pena de morte, a política da morte também se
manifesta em genocídios e mortes coletivas. Episódios históricos como o
Holocausto, perpetrado pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial,
e os genocídios em Ruanda e no Darfur, são exemplos devastadores de como a
morte foi usada como ferramenta política para consolidar o poder e eliminar
grupos étnicos ou culturais considerados ‘indesejáveis’. O genocídio é mais do
que um ato de extermínio em massa; é um projeto político que visa destruir as bases
culturais, étnicas ou religiosas de uma sociedade.
Esses eventos não ocorrem isoladamente, mas são
frequentemente facilitados por narrativas políticas que desumanizam certos
grupos, retratando-os como inimigos do Estado ou ameaças à ordem pública. O
genocídio também levanta questões sobre a responsabilidade internacional. A
inação das grandes potências mundiais diante de genocídios, como no caso de
Ruanda, reflete a complexidade da intervenção política e militar em crises
humanitárias, onde o custo de agir – ou de não agir – pode ser a vida de
milhares de pessoas.
A morte coletiva, portanto, muitas vezes resulta de uma
combinação entre poder político, controle social e a construção de narrativas
ideológicas. Em muitas sociedades, a manipulação do medo da morte é usada como
uma ferramenta para justificar guerras, repressões e outras formas de violência
em larga escala.
Exemplo histórico: O Holocausto, durante a Segunda
Guerra Mundial, é um dos episódios mais amplamente estudados de genocídio, onde
cerca de 6 milhões de judeus foram sistematicamente exterminados pelos
nazistas. Da mesma forma, o genocídio de Ruanda em 1994 resultou na morte de
cerca de 800.000 tutsis e hutus moderados em apenas 100 dias, um dos genocídios
mais rápidos e brutais da história moderna.
Exemplo filosófico: Hannah Arendt, em sua obra As
Origens do Totalitarismo, explora como regimes totalitários, como o
nazismo, utilizam a morte como um instrumento político, em que o extermínio em
massa se torna uma extensão da lógica de controle absoluto sobre a população.
Arendt também discute o conceito de ‘banalidade do mal’, referindo-se à forma
como pessoas comuns podem ser envolvidas em atos de genocídio sem uma profunda
reflexão moral.
Esse tema reflete o debate em torno da pena de morte e as
implicações políticas da morte coletiva em genocídios, conectando-as com
contextos históricos e filosóficos.
2.2.5 A Morte e a Religião
Pergunta-guia: Como diferentes religiões concebem a
vida após a morte? Qual o papel dos rituais fúnebres nas culturas religiosas
para lidar com a morte e o luto?
Discussão: A morte é uma questão central em muitas
religiões, que oferecem diferentes visões sobre o que acontece após o fim da
vida terrena. Essas perspectivas moldam a maneira como os adeptos vivem suas
vidas e enfrentam a ideia da finitude. A vida após a morte é vista de maneira
diversa nas religiões do mundo:
Na cristandade, o conceito de vida após a morte é marcado
pela crença na ressurreição e na eternidade, com a promessa de vida eterna no
céu para os justos e a condenação para os ímpios no inferno. Para os cristãos,
a morte não é o fim, mas a transição para um destino eterno, influenciado pelas
ações morais e pela fé em vida.
No budismo, a morte é parte do ciclo contínuo de nascimento,
morte e renascimento (samsara). A vida após a morte depende do carma
acumulado ao longo das vidas anteriores, e o objetivo final é alcançar o
nirvana, escapando desse ciclo de sofrimento e impermanência. Não há um
‘paraíso’ ou ‘inferno’ no sentido tradicional, mas uma busca pelo despertar e
pela libertação.
A visão hindu compartilha com o budismo a crença no
renascimento, em que a alma (atman) passa por ciclos de reencarnação até
atingir a moksha, a libertação do ciclo de samsara. Dependendo
das ações em vida (dharma), a alma pode ascender a uma forma de
existência superior ou inferior na próxima vida.
No islamismo, a vida após a morte também desempenha um papel
crucial. Os muçulmanos acreditam que, após a morte, haverá um dia do julgamento
(Yawm al-Qiyamah), onde as almas serão recompensadas ou punidas com base
em suas ações. O paraíso (Jannah) aguarda os justos, enquanto o inferno
(Jahannam) é o destino dos ímpios.
Outras tradições espirituais, como as religiões indígenas e
animistas, têm visões mais centradas na continuidade da alma no mundo natural
ou no reencontro com os ancestrais após a morte.
Os rituais fúnebres têm um papel importante em muitas
culturas e religiões, proporcionando uma maneira de lidar com a perda e de
oferecer uma passagem simbólica para a vida após a morte. Esses rituais ajudam
os vivos a encontrar sentido na morte e a processar o luto. Em muitas
tradições, os rituais são vistos como formas de ajudar a alma do falecido a
fazer a transição para o além.
No cristianismo, os funerais são cerimônias para honrar a
vida da pessoa falecida e reafirmar a esperança na ressurreição. As missas de
corpo presente e as orações pelos mortos, como o réquiem, são formas de pedir a
Deus pela alma da pessoa e dar conforto aos enlutados.
No budismo e no hinduísmo, os rituais fúnebres
frequentemente incluem cremações como uma maneira de ajudar a alma a se
libertar do corpo físico e seguir para a próxima reencarnação. No hinduísmo, há
também a prática de espalhar as cinzas no rio Ganges, considerado sagrado, como
uma forma de purificação.
No islamismo, o funeral islâmico (janazah) é um
processo simples, em que o corpo é lavado, envolto em um tecido branco e
enterrado o mais rápido possível, com orações para que a alma encontre paz no
além.
Em muitas culturas indígenas, a morte é tratada como um
ritual de passagem, onde a alma do falecido pode continuar a existir em uma
forma espiritual ou se tornar parte da natureza, mantendo uma relação de
interdependência com os vivos.
Os rituais fúnebres também servem como momentos de
transcendência, onde os enlutados se conectam com o sagrado e buscam
compreender o mistério da morte. Esses rituais dão às pessoas uma estrutura
simbólica para lidar com a perda e encontrar paz, mesmo diante da dor do luto.
Exemplo filosófico: O teólogo Paul Tillich, em A
Coragem de Ser, explora a morte como uma fonte de angústia existencial, mas
também como uma oportunidade para se conectar com o sagrado e encontrar
sentido. Ele sugere que, em vez de negar a morte, podemos enfrentá-la com
coragem, apoiados pelas tradições religiosas que nos ajudam a dar sentido ao
que está além da vida.
Exemplo religioso: No Tibete, o Livro Tibetano dos
Mortos é uma das obras mais famosas sobre a vida após a morte. Ele descreve
os estágios pelos quais a consciência passa após a morte, oferecendo uma visão
detalhada de como a alma pode alcançar a libertação ou renascer.
Esse tema se dedica a refletir como a morte e a vida após a
morte são abordadas em diferentes religiões, enfatizando o papel dos rituais
fúnebres e o conceito de transcendência.
2.2.6 Morte, Arte e Música
Pergunta-guia: Como a morte é retratada na arte e na
música? De que maneiras as expressões artísticas nos ajudam a lidar com a
finitude? O que a morte nos revela sobre a condição humana quando explorada
através dessas formas de expressão?
Discussão: A morte tem sido um tema recorrente nas
artes visuais e na música ao longo da história, frequentemente abordada como
uma maneira de lidar com a finitude e encontrar significado na transitoriedade
da vida. A arte e a música são veículos poderosos para expressar emoções
complexas em torno da morte, como dor, perda, aceitação e transcendência. Ao
retratar a morte, os artistas e músicos refletem sobre a condição humana,
explorando o medo, a beleza e a inevitabilidade do fim.
Na arte, a morte é um tema central que aparece em várias
formas, como pinturas, esculturas e instalações. A partir da Idade Média, obras
como as danças macabras e as naturezas-mortas (vanitas) serviam para
lembrar as pessoas da transitoriedade da vida e da proximidade da morte. Essas
obras, com símbolos como caveiras, velas apagadas e ampulhetas, convidavam o
espectador a refletir sobre a morte e a brevidade da vida.
O pintor Hans Holbein, em suas gravuras da Dança Macabra,
exemplifica como a morte não discrimina entre ricos e pobres, poderosos e
humildes, trazendo todos ao mesmo destino.
Na pintura A Morte de Marat, de Jacques-Louis David,
o martírio do revolucionário francês é retratado de forma dramática,
simbolizando como a morte pode ser politizada e heroificada na arte.
Já no período moderno, artistas como Frida Kahlo abordam a
morte de maneira introspectiva, conectando-a a temas pessoais de dor e
sofrimento. Suas obras, como A Árvore da Esperança, expressam a relação
íntima com a mortalidade e a fragilidade do corpo.
No campo da música, a morte também é uma das grandes
inspirações. Composições como os Réquiens de Mozart e Fauré são exemplos
profundos de como a música pode ser usada para refletir sobre a morte, seja de
maneira religiosa ou espiritual, seja como um lamento.
O Réquiem de Mozart, inacabado, carrega uma mistura
de grandeza e solenidade, expressando tanto o medo quanto a aceitação da morte.
O Réquiem de Fauré, por outro lado, é mais sereno,
com tons de paz e aceitação, oferecendo consolo em vez de desespero.
Outros gêneros musicais também abordam o tema da morte de
maneiras únicas:
No rock e no heavy metal, a morte muitas vezes é retratada
com rebeldia, desafiando convenções e tabus culturais sobre a mortalidade.
Canções como The End, dos The Doors e Death, de Black Sabbath
falam diretamente sobre a morte e o ciclo de vida.
Na música popular brasileira, compositores como Chico
Buarque exploram a morte metaforicamente, como em sua canção Funeral de um
Lavrador, que lida com a injustiça social e a morte de pessoas comuns em um
contexto poético e político. O que dizer então da música que, para muitos, é a
maior produção da história da música popular brasileira, Construção, em
que um operário morre “na contramão atrapalhando o tráfego”.
A morte simbólica também é explorada através da arte e da
música, quando o conceito vai além da morte física e aborda transformações e
renascimentos pessoais. Músicas e obras que falam de transições na vida — como
o fim de uma era ou a transformação de uma identidade — também se encaixam
nessa ideia de morte como um processo contínuo de mudança.
Exemplo filosófico: O filósofo Friedrich Nietzsche,
em Assim Falou Zaratustra, reflete sobre a morte como um processo de
superação e transformação pessoal. Para Nietzsche, a morte simbólica é
essencial para a criação de um novo ser humano, o Übermensch, que
transcende as limitações impostas pela existência comum. A arte e a música,
nesse sentido, podem ser ferramentas poderosas para expressar e catalisar essas
transformações.
Exemplo artístico: As obras de Damien Hirst, como For
the Love of God, que apresenta um crânio humano coberto de diamantes,
exploram a obsessão contemporânea com a mortalidade e a busca pela imortalidade
através da arte e do luxo. A morte, em suas obras, é ao mesmo tempo
aterrorizante e fascinante, questionando nossos valores culturais em relação à
vida e ao legado.
Esse tema, por sua vez, explora como a morte é expressa nas
formas artísticas e musicais, destacando a importância da arte como uma
ferramenta para entender e processar a mortalidade humana.
2.2.7 A Morte e o Direito
Pergunta-guia: Quais são os direitos relacionados à
morte e ao luto? Como as diferentes culturas e sistemas legais tratam questões
como eutanásia e suicídio assistido? Quem tem o direito de decidir sobre o fim
da vida?
Discussão: O direito à morte e ao luto são questões
que atravessam tanto o campo jurídico quanto o ético, trazendo à tona dilemas
profundos sobre o valor da vida, a autonomia individual e o papel do Estado em
regulamentar esses aspectos. Muitas legislações ao redor do mundo reconhecem o
impacto do luto e proporcionam algumas garantias legais aos enlutados, como o
direito a licenças trabalhistas e assistência para funerais, mas as normas
variam amplamente entre os países e até mesmo dentro de diferentes regiões de
um mesmo país.
No que tange ao direito ao luto, muitos sistemas jurídicos
oferecem licenças trabalhistas para aqueles que perderam um ente querido. Essas
licenças variam em duração e nos critérios para quem pode acessá-las. Em alguns
países, políticas públicas também garantem assistência funerária, especialmente
para famílias de baixa renda, reconhecendo a importância de rituais de
despedida para o processo de luto.
Além disso, o papel do Estado na regulação das políticas
públicas de suporte ao luto tem crescido, refletindo uma compreensão mais ampla
da saúde mental e da necessidade de apoio emocional para os enlutados. As leis
que amparam o direito ao luto reconhecem o impacto psicológico profundo que a
morte pode ter, e muitos governos têm se esforçado para criar redes de apoio
mais acessíveis.
A questão do suicídio assistido e da eutanásia envolve
debates éticos e legais que tocam o direito à autonomia e à dignidade no final
da vida. Em várias jurisdições, esses procedimentos são proibidos, sendo
considerados uma violação ao direito à vida, enquanto em outros, como em países
europeus como Holanda, Bélgica e Suíça, a eutanásia e o suicídio assistido são
permitidos em circunstâncias específicas e rigidamente regulamentadas.
A eutanásia pode ser ativa, quando um médico diretamente
administra substâncias letais, ou passiva, quando tratamentos vitais são
interrompidos. Em ambos os casos, o princípio da morte digna se baseia na ideia
de que prolongar o sofrimento, em alguns contextos, pode ser mais prejudicial
do que abreviar a vida de alguém que está em condição terminal ou sem
perspectiva de cura.
O suicídio assistido, por sua vez, ocorre quando o próprio
paciente administra a substância letal, sendo assistido por profissionais
médicos. Esse procedimento é legal em algumas regiões dos Estados Unidos, como
em estados como Oregon, Washington e Califórnia, nos quais existem leis de ‘morte
assistida’.
Esses dilemas tocam na questão central: quem tem o direito
de decidir sobre o fim da vida?. O debate sobre eutanásia e suicídio assistido
geralmente envolve dois princípios concorrentes: a autonomia individual, que
defende que os indivíduos devem ter o direito de escolher como e quando querem
morrer, e o valor intrínseco da vida, que argumenta que a vida humana deve ser
preservada a todo custo, independentemente das circunstâncias.
Questões culturais também desempenham um papel importante
nessas discussões. Em sociedades onde a vida é vista como sagrada ou sob a
proteção de princípios religiosos, como em muitos países de maioria cristã ou
islâmica, a eutanásia é fortemente rejeitada. Em contrapartida, em culturas
mais seculares ou em que a autonomia individual é altamente valorizada, como em
partes da Europa ocidental, a eutanásia pode ser vista como uma escolha
legítima.
Exemplo jurídico: Na Suíça, o suicídio assistido é
legal, mas com várias restrições. Associações como a Dignitas ajudam
pessoas, muitas vezes estrangeiras, a encerrar suas vidas sob supervisão
médica, o que levanta debates internacionais sobre o ‘turismo da morte’ e os
dilemas éticos envolvidos na regulamentação de tais práticas. O caso suíço é um
exemplo de como um país pode estruturar um sistema legal em torno de escolhas
de fim de vida, proporcionando alternativas para aqueles que buscam uma morte
digna.
Exemplo filosófico: O filósofo britânico John Stuart
Mill, em sua obra Sobre a Liberdade, argumenta que os indivíduos devem
ter soberania sobre seu próprio corpo e mente, desde que suas ações não
prejudiquem os outros. Essa visão liberal de autonomia pessoal muitas vezes é
usada como base para justificar o direito ao suicídio assistido e à eutanásia,
especialmente em casos de sofrimento extremo.
A complexidade do tema envolve tanto a proteção à vida
quanto o respeito à autonomia pessoal, exigindo uma ponderação cuidadosa entre
valores éticos, direitos individuais e a intervenção do Estado.
Esse tema explora como o direito e as políticas públicas
lidam com questões ligadas ao luto, à eutanásia e ao suicídio assistido,
refletindo sobre os dilemas éticos e culturais envolvidos nessas discussões.
2.2.8 A Morte e o Cotidiano
Pergunta-guia: O que acontece com nossa identidade
digital após a morte? Como a sociedade contemporânea lida com a morte no
contexto do envelhecimento e da cultura digital?
Discussão: No mundo atual, em que grande parte de
nossas interações ocorrem em ambientes digitais, a morte no contexto virtual
abre novas questões sobre o que significa ‘morrer’. A presença digital de uma
pessoa, composta por perfis em redes sociais, contas de e-mail, blogs e outras
plataformas, continua a existir após sua morte. Isso levanta questões sobre
quem tem o direito de gerenciar essas contas e o que acontece com esse legado
digital.
Plataformas como o Facebook e o Instagram já
oferecem a possibilidade de transformar perfis de usuários falecidos em
‘memoriais’, permitindo que amigos e familiares deixem homenagens e preservem
suas memórias virtuais. Porém, isso também levanta dilemas sobre o direito à
privacidade e o controle dos dados digitais de uma pessoa após sua morte.
Muitos países ainda estão ajustando suas leis para lidar com a herança digital,
criando políticas sobre o acesso a contas e dados pessoais por familiares ou
representantes legais.
O legado digital é, portanto, uma extensão da nossa vida em
uma era cada vez mais conectada, e debater o que será feito dos nossos dados
digitais após nossa partida torna-se crucial. Além disso, é relevante refletir
sobre como a morte virtual impacta aqueles que ficam: a possibilidade de
interagir com perfis digitais de pessoas falecidas pode tanto ajudar no
processo de luto quanto causar mais sofrimento, prolongando a sensação de
presença do falecido de uma maneira difícil de processar emocionalmente.
Outra questão importante sobre a morte no cotidiano envolve
a maneira como a sociedade contemporânea, especialmente nas culturas
ocidentais, encara o envelhecimento e sua proximidade com a morte. Existe uma
pressão social intensa, alimentada por padrões de beleza e consumo, para evitar
os sinais de envelhecimento a qualquer custo, fenômeno conhecido como ageísmo.
Esse preconceito contra os idosos e o envelhecimento é evidente em diversas
esferas da sociedade, como o mercado de trabalho, a mídia e a moda, onde a
juventude é frequentemente glorificada como sinônimo de valor e vitalidade.
À medida que as pessoas envelhecem, a proximidade da morte
se torna mais palpável. No entanto, em vez de encarar essa realidade com
aceitação e sabedoria, muitas vezes há um esforço coletivo para negá-la ou
adiá-la, através de intervenções médicas, cosméticas e até tecnológicas. Isso
pode resultar em uma cultura que valoriza excessivamente a juventude e minimiza
a importância do processo natural de envelhecimento e morte. A pressão para
permanecer jovem pode dificultar a aceitação da morte como parte do ciclo
natural da vida, gerando frustração, ansiedade e até marginalização daqueles
que são vistos como ‘velhos’.
Morte e o envelhecimento são, portanto, aspectos do
cotidiano que nos forçam a refletir sobre como a cultura ocidental, obcecada
com a juventude e a longevidade, negligencia o papel da sabedoria e da
aceitação que podem vir com o envelhecimento. Em vez de temer a morte e o
processo de envelhecer, talvez seja mais saudável encarar ambos como
oportunidades para refletir sobre o significado da vida e sobre como podemos
viver de maneira mais plena, abraçando cada etapa da existência.
Exemplo filosófico: O filósofo francês Jean
Baudrillard, em sua obra A Transparência do Mal, fala sobre como a
virtualidade e a digitalização da vida mudam nossa relação com a morte. O mundo
digital nos confunde, prolongando a presença dos mortos de uma maneira que não
é mais física, mas simbólica, desafiando a separação clara entre vida e morte
que tínhamos anteriormente.
Exemplo cultural: Na cultura ocidental contemporânea,
a indústria de cosméticos e antienvelhecimento exemplifica a pressão para
evitar sinais visíveis de envelhecimento e, por extensão, da morte. Isso
reflete uma sociedade que teme o envelhecimento e não aceita a finitude da vida
de forma natural. Por outro lado, em culturas orientais, como no Japão, o
envelhecimento é visto como um sinal de sabedoria e respeitabilidade, e a morte
é entendida como parte do ciclo de vida, integrada com rituais significativos
de transição.
Esse tema, portanto, aborda como a presença digital após a
morte e as pressões da sociedade para evitar sinais de envelhecimento impactam
nossa relação com a morte no cotidiano, explorando tanto o contexto virtual
quanto o cultural.
2.2.9 Morte e Ecologia
Pergunta-guia: Qual é o papel da morte nos ciclos
ecológicos? Como a destruição ambiental e as mudanças climáticas afetam nossa
percepção da morte em escala planetária?
Discussão: No contexto da ecologia, a morte é vista
como uma parte essencial e inevitável dos ciclos de vida na natureza. Sem a
morte, o equilíbrio ecológico seria impossível, já que a decomposição e a
compostagem são processos cruciais que permitem a reciclagem de nutrientes nos
ecossistemas. O que morre se transforma em fonte de vida para novos organismos,
alimentando plantas, micro-organismos e outros seres vivos. A morte natural é,
portanto, um fator de renovação e sustentabilidade nos sistemas biológicos,
sendo um elo vital para o funcionamento dos ecossistemas.
A compostagem, por exemplo, ilustra o ciclo natural da vida
e morte. Restos de plantas e alimentos, quando decompostos, voltam à terra em
forma de nutrientes, enriquecendo o solo e promovendo o crescimento de novas
plantas. Esse processo de reciclagem biológica ressalta que a morte é um
momento de transição e continuidade, não o fim definitivo, dentro dos
ecossistemas naturais.
Por outro lado, a ideia da morte do planeta levanta uma
discussão sombria sobre o estado atual da crise ambiental e a forma como a
humanidade tem contribuído para a destruição dos ecossistemas. A morte da
natureza, provocada por fatores como o desmatamento, a poluição e as mudanças
climáticas, ameaça a sobrevivência de inúmeras espécies e altera drasticamente
o equilíbrio ecológico. As extinções em massa que estão ocorrendo atualmente,
muitas vezes atribuídas à ação humana, são comparáveis a catástrofes naturais
de eras geológicas passadas, mas agora são amplamente causadas por atividades
industriais e de consumo humano.
A morte do meio ambiente impacta diretamente a vida humana,
uma vez que dependemos dos ecossistemas para obter água, alimentos, ar limpo e
outros recursos essenciais. À medida que os ecossistemas colapsam, a
sobrevivência de várias espécies, incluindo a nossa, fica em risco. O aumento
das temperaturas globais, o derretimento das calotas polares e a acidificação
dos oceanos são exemplos de como o planeta está morrendo em um sentido
ecológico, ameaçando não apenas as gerações futuras, mas também as populações
mais vulneráveis no presente.
Esse cenário levanta a questão de como podemos viver de
maneira sustentável, respeitando os ciclos de vida e morte da natureza. O
combate às mudanças climáticas e a preservação do meio ambiente são esforços
que buscam restaurar o equilíbrio natural e evitar a extinção de espécies, a
degradação dos solos e a perda de biodiversidade. No entanto, a luta contra a
morte ecológica exige uma transformação radical em nossa forma de pensar e agir
em relação ao planeta, priorizando a sustentabilidade e a responsabilidade
ambiental sobre o consumo excessivo e a exploração desenfreada de recursos.
Exemplo filosófico: O filósofo francês Michel Serres,
em sua obra O Contrato Natural, discute a ideia de que o ser humano deve
estabelecer um contrato de respeito com a natureza, reconhecendo que a morte
ecológica é também a nossa morte. Ele argumenta que, ao destruir o meio
ambiente, estamos, na verdade, comprometendo nossa própria existência, uma vez
que fazemos parte desse ciclo natural.
Exemplo científico: O conceito de Antropoceno, uma
era geológica marcada pelo impacto humano no planeta, é frequentemente
discutido no contexto das mudanças climáticas e das extinções em massa.
Cientistas como Paul Crutzen argumentam que a humanidade se tornou uma força geológica
significativa, capaz de alterar o curso da vida na Terra. O Antropoceno é uma
época que evidencia como a morte do meio ambiente pode levar à morte de muitas
formas de vida, incluindo a nossa.
Exemplo cultural: Documentários como Uma verdade
inconveniente (2006) e O Dilema das Redes (2020) ilustram o impacto
da degradação ambiental e das mudanças climáticas sobre a vida no planeta.
Esses filmes provocam reflexões sobre como nossas ações diárias contribuem para
a morte do planeta e o que podemos fazer para reverter esse curso.
Esse tema aborda tanto a morte natural e regenerativa nos
ciclos ecológicos quanto a morte destrutiva provocada pela crise ambiental,
explorando como essas formas de morte impactam a vida humana e nossa
responsabilidade no processo.
2.3 Considerações finais
Em todas essas modalidades, o
trabalho pode desencadear interações entre os participantes, com momentos de
reflexão, debate ou até arte colaborativa, dependendo da natureza do evento.
Cada um deles pode ajudar a explorar a morte em suas diferentes manifestações e
contextos, promovendo uma discussão profunda e diversa.
3. A dinâmica dos encontros
O projeto ‘Café Filosófico’ tem como objetivo promover um
espaço de reflexão e diálogo sobre temas relevantes para a vida, especialmente
em um contexto que abrange a sabedoria e o envelhecimento. A dinâmica proposta
envolve várias etapas que garantem a participação ativa das(os) alunas(os) e a
criação de um ambiente acolhedor e enriquecedor.
Escolha do Tema: O processo começa com a seleção de
um tema pertinente, que será divulgado junto às alunas e alunos. A escolha do
tema deve incentivar a curiosidade e a discussão, refletindo questões que
estejam conectadas à experiência humana e ao envelhecimento.
Reuniões de Aprovação: Para assegurar a qualidade e a
profundidade da discussão, serão realizadas reuniões com a Dra. Karina,
responsável pela supervisão do evento. Nessas reuniões, a pauta será discutida
e ajustada conforme necessário, garantindo que os conteúdos abordados sejam
relevantes e instigantes.
Preparação do Espaço: A criação de um ambiente físico
adequado é fundamental para o sucesso do café filosófico. O espaço deve ser
acolhedor, permitindo que os participantes se sintam confortáveis e à vontade
para compartilhar suas opiniões.
Recursos Visuais: Embora não seja obrigatório, a
utilização de recursos visuais, como imagens, vídeos ou textos curtos, pode
enriquecer a apresentação do tema. Esses materiais visuais têm o potencial de
introduzir o assunto de forma dinâmica, estimulando a reflexão e a discussão.
Distribuição Espacial: A disposição dos participantes
no espaço deve facilitar a conversa para promover uma comunicação mais fluida e
garantir que todos tenham a oportunidade de se expressar, contribuindo para um
diálogo mais inclusivo.
Diálogo Acolhedor: É essencial cultivar um ambiente
onde a diversidade de opiniões seja respeitada e valorizada. A prática do
diálogo acolhedor envolve escuta ativa e empatia, permitindo que cada
participante se sinta seguro para compartilhar suas perspectivas.
3.1 Atividades Complementares
Para enriquecer a experiência do projeto ‘Café Filosófico’,
são propostas algumas atividades complementares:
Divulgação de Textos Motivadores: Para fomentar a
reflexão prévia, será feita a divulgação de textos que abordem o tema a ser
discutido. Essa leitura prévia permitirá que os participantes cheguem mais
preparados e com questionamentos prontos para a discussão.
Associação de Temas: Será explorada a relação entre temas
já percorridos ou a percorrer, além da possibilidade de utilizar filmes que
dialoguem com os temas abordados. Isso ampliará as referências e as conexões
entre as ideias discutidas.
Convidados Esporádicos: Convidar especialistas ou
pessoas que tenham experiências relevantes pode enriquecer as discussões,
trazendo novas perspectivas e conhecimentos.
3.2 Práticas de Preparação e
Retorno (feedback)
A dinâmica do Café Filosófico será continuamente aprimorada
por meio das seguintes práticas:
Flexibilização de Conteúdos: Os conteúdos serão
adaptados às atividades, às necessidades e aos interesses do grupo. Essa
flexibilidade permitirá uma abordagem mais personalizada e engajante.
Avaliação dos Participantes: A coleta de feedback dos
participantes após cada encontro será fundamental para avaliar o formato do
café filosófico e identificar áreas de melhoria.
Divulgação da Agenda: Para manter todos informados e
engajados, a agenda das atividades será divulgada junto às alunas e alunos da
UNAI-UFU. Essa transparência ajudará a criar um senso de comunidade e
participação ativa no processo.
Com essas diretrizes, espera-se que o projeto ‘Café
Filosófico’ se torne um espaço rico de aprendizado e troca de experiências,
promovendo a reflexão sobre temas significativos para a vida e o
envelhecimento.
4. Para reflexão: Resta quanto
tempo?, por Rubem Alves
Gostaria de finalizar o Projeto com um texto reflexivo cujo
tema é “Resta quanto tempo?”, de Rubem Alves, uma das crônicas presente no seu
livro-coletânea intitulado Pimentas: para provocar um incêndio, não é preciso
fogo.
“COMOVO-ME AO RECORDAR-ME DO POEMA do Vinícius “O haver”. É
um poema crepuscular. Ele contempla o horizonte avermelhado, volta-se para trás
e faz um inventário do que sobrou. Fiquei com vontade de fazer algo parecido,
sabendo que não sou Vinícius, não sou poeta, nada sei sobre métrica e rimas. E
eu começaria cada parágrafo com a mesma palavra com que ele começou suas estrofes:
Resta...
Resta a luz do crepúsculo, essa mistura dilacerante de
beleza e tristeza. Antes que ele comece ao fim do dia, o crepúsculo começa na
gente. O Miguelim menino já sentia assim: “O tempo não cabia. De manhã já era
noite...”. Assim eu me sinto, um ser crepuscular. Um verso de Rilke me conta a
verdade sobre a vida: “Quem foi que assim nos fascinou para que tivéssemos um
ar de despedida em tudo o que fazemos?”.
Restam os amigos. Quando tudo está perdido, os amigos
permanecem. Lembro-me da antiga canção de Carole King “You got a friend”: “Se
você está triste, no fundo do abismo e tudo está dando errado, precisando de
alguém que o ajude — feche os olhos e pense em mim. Logo logo estarei ao seu
lado para iluminar a noite escura. Basta que você chame o meu nome... Você sabe
que eu virei correndo pra ver você de novo. Inverno, primavera, verão ou
outono, basta chamar que eu estarei ao seu lado. Você tem um amigo...”. Eu
tenho muitos amigos que continuam a gostar de mim a despeito de me conhecerem.
E tenho também muitos amigos que nunca vi.
Resta a experiência de um tempo que passa cada vez mais
depressa. “Tempus Fugit”. “Quando se vê já são seis horas. Quando se vê já é
sexta-feira. Quando se vê já é Natal. Quando se vê já terminou o ano. Quando se
vê não sabemos por onde andam nossos amigos. Quando se vê já passaram cinquenta
anos...” (Mário Quintana)
Resta um amor por nossa Terra, nossa namorada, tão
maltratada por pessoas que não a amam. Meu deus mora nas fontes, nos rios, nos
mares, nas matas. Mora nos bichos grandes e nos bichos pequenos. Mora no vento,
nas nuvens, na chuva. Eu poderia ter sido um jardineiro... Como não fui, tento
fazer jardinagem como educador, ensinando às crianças, minhas amigas, o encanto
pela natureza.
Resta um Rubem por vezes áspero, com quem luto
permanentemente e que, frequentemente, burlando a minha guarda, aflora no meu
rosto e nas minhas palavras, machucando aqueles que amo.
Resta uma catedral em ruínas onde outrora moravam meus
deuses. Agora ela está vazia. Meus deuses morreram. Suas cinzas, então, voaram
ao vento.
Resta, na catedral vazia, a luz dos vitrais coloridos, o
silêncio, o repicar dos sinos, o canto gregoriano, a música de Bach, de
Beethoven, de Brahms, de Rachmaninoff, de Fauré, de Ravel...
Resta ainda, nos pátios da catedral arruinada, a música do
Jobim, do Chico, de Piazzola...
Resta uma pergunta para a qual não tenho resposta.
Perguntaram-me se acredito em Deus. Respondi com versos do Chico: “Saudade é o
revés do parto. É arrumar o quarto para o filho que já morreu”. Qual é a mãe
que mais ama? A que arruma o quarto para o filho que vai voltar ou a que arruma
o quarto para o filho que não vai voltar? Sou um construtor de altares. É o meu
jeito de arrumar o quarto. Construo meus altares à beira de um abismo escuro e silencioso.
Eu os construo com poesia e música. Os fogos que neles acendo iluminam o meu
rosto e me aquecem. Mas o abismo permanece escuro e silencioso.
Resta uma criança que mora nesse corpo de velho e procura
companheiros para brincar. De que é que a alma tem sede? “De qualquer coisa
como tudo que foi a nossa infância. Dos brinquedos mortos, das tias idas. Essas
coisas é que são a realidade, embora já morressem. Não há império que valha que
por ele se parta uma boneca de criança” (Bernardo Soares ).
Resta um palhaço... Na véspera de minha volta ao Brasil, a
jovem ruiva sardenta que havia sido minha aluna entrou na minha sala e me
disse: “Sonhei com você. Sonhei que você era um palhaço”. E sorriu. Tenho
prazer em fazer os outros rirem com minhas palhacices. O que escrevo,
frequentemente, é um espetáculo de circo. Faço malabarismos com palavras. Pois
a vida não é um circo?
Resta uma ternura por tudo o que é fraco, do pássaro de asa
quebrada ao velho trôpego e surdo. Fui um adolescente fraco e amedrontado.
Apanhei sem reagir. Cresceu então dentro de mim uma fera que dorme. Toda vez
que vejo uma pessoa humilde e indefesa sendo humilhada por uma pessoa que se
julga grande coisa, a fera acorda e ruge. Tenho medo dela.
Resta a minha fidelidade às minhas opiniões que teimo em
tornar públicas, o que me tem valido muitas tristezas e sucessivos exílios. Mas
sei que minhas opiniões, todas as opiniões, não passam de opiniões. Não são a
verdade. Ninguém sabe o que é a verdade. Meu passado está cheio de certezas
absolutas que ruíram com os meus deuses. Todas as pessoas que se julgam
possuidoras da verdade se tornam inquisidoras. Por isso é preciso tolerância.
Resta uma tristeza de morrer. A vida é tão bonita. Não é
medo. É tristeza mesmo. Lembro-me dos versos da Cecília, que sentia a mesma
coisa. “E fico a meditar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se
chega. O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas e nem gaivotas. Apenas
sobre humanas companhias. De longe o horizonte avisto, aproximado e sem
recurso. Que pena a vida ser só isso...”
Resta um medo do morrer — aquelas coisas que vêm antes que a
morte chegue. Acho que as pessoas deveriam ter o direito de dizer, se
quisessem: “É hora de partir...”. E partissem. Se Deus existe e se Deus é
bondade, não posso crer que Ele ou Ela nos tenha condenado ao sofrimento, como
última frase da nossa sonata. A última frase deve ser bela.
Resta quanto tempo? Não sei. O relógio da vida não tem
ponteiros. Só se ouve o tique-taque... Só posso dizer: “Carpe Diem” — colha o
dia como um morango vermelho que cresce à beira do abismo. É o que tento fazer.”
5. Referências (em construção)
5.1 Literatura (em construção)
“Memórias de Minhas Putas Tristes”, de Gabriel García
Márquez
Este romance curto aborda a vida de um homem idoso que
reflete sobre sua solidão, desejo e o que significa envelhecer enquanto
experimenta uma nova relação que o transforma.
“A Morte de Ivan Ilitch”, de Liev Tolstói
Tolstói trata da velhice e da morte de forma filosófica, ao
narrar a história de Ivan Ilitch, um magistrado que, ao se aproximar da morte,
questiona o sentido de sua vida e a superficialidade de suas escolhas.
“O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway
A luta de um pescador idoso contra um peixe gigante
simboliza a resiliência, o envelhecimento e a dignidade que vêm com a
experiência de vida, mesmo em face da derrota e da morte.
“O Amor nos Tempos do Cólera” de Gabriel García Márquez
Uma história de amor que atravessa décadas, mostrando como o
tempo, a idade e o envelhecimento afetam as relações, os desejos e as escolhas
dos personagens.
“Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez
Embora o livro seja uma saga familiar, o envelhecimento dos
personagens é central à narrativa, destacando a repetição de ciclos e a
transformação física e emocional que acompanha o tempo.
“Mrs. Dalloway”, de Virginia Woolf
O romance trata, entre outras questões, da passagem do tempo
e do envelhecimento através dos olhos de Clarissa Dalloway, que reflete sobre
as escolhas feitas na juventude enquanto lida com a vida na meia-idade.
“Rei Lear”, de William Shakespeare
Uma das peças mais famosas de Shakespeare, “Rei Lear” aborda
o envelhecimento, a perda do poder e a loucura que pode surgir na velhice, com
o rei Lear enfrentando o declínio de sua saúde mental e física.
“A Casa dos Espíritos”, de Isabel Allende
Através de várias gerações, este romance aborda a passagem
do tempo, o envelhecimento e como a velhice molda a memória e a identidade,
especialmente na figura da matriarca Clara.
“O Aleph”, de Jorge Luis Borges
A obra de Borges frequentemente toca no envelhecimento e na
sabedoria acumulada ao longo da vida. Seus contos filosóficos, como “O Aleph”,
desafiam as noções de tempo, memória e o que significa envelhecer com
conhecimento.
“Orgulho e Preconceito”, de Jane Austen
A sabedoria nascida da maturidade e do envelhecimento
aparece na figura de Mr. Bennet, que, apesar de suas falhas, revela-se um
personagem que reflete sobre as dinâmicas familiares e sociais com um humor
sagaz.
“Diário de um ano ruim”, de J.M Coetzee
Em Diário de um Ano Ruim, um velho e célebre escritor, no
umbral da aflição do mal de Parkinson, sente-se atraído por uma jovem vizinha,
de origem filipina, que vive em concubinato com um australiano, de 42 anos de
idade, profissional do mercado financeiro.
“As Intermitências da Morte”, de José Saramago
Embora o livro trate
da ausência da morte em uma sociedade, há uma reflexão profunda sobre a vida, o
envelhecimento e a inevitabilidade do fim, além de discutir a relação da
sociedade com a velhice.
“Trem Noturno para Lisboa”, de Pascal Mercier
A história gira em torno de um professor de línguas que, já
em idade avançada, reflete sobre as escolhas da vida e decide embarcar em uma
viagem em busca de novos significados para a sua existência.
“A Velha Casa”, de Lygia Fagundes Telles
Este conto reflete sobre a decadência física e emocional do
envelhecimento, explorando memórias, arrependimentos e o peso do tempo na vida
de uma mulher idosa.
“A Casa da Madrinha”, de Lygia Bojunga Nunes
Embora seja uma obra voltada para o público infantojuvenil,
o livro aborda temas universais, como a passagem do tempo e a relação de
gerações, retratando a figura da madrinha idosa como símbolo de sabedoria e
acolhimento.
“A Tartaruga de Darwin”, de Juan Mayorga
Esta peça teatral, que também pode ser vista como um texto
literário, explora o envelhecimento através da lente de uma tartaruga
centenária que vivenciou os principais eventos da história contemporânea,
metaforizando a relação entre tempo, memória e sobrevivência.
“A Segunda vida de Missy”, de Beth Morrey
Um retrato emocionante e reflexivo sobre a vida adulta e o
envelhecimento, A segunda vida de Missy é uma celebração de como os dias comuns
podem ser extraordinários quando estamos cercados de pessoas queridas e do
poder de perdoar a si mesmo, em qualquer idade.
“O Diário de um Velho Louco”, de Jun'ichirō Tanizaki
Neste romance, um homem idoso lida com sua decadência física
enquanto escreve em seu diário sobre o desejo, a morte e as fantasias que
surgem com o envelhecimento.
“A Casa das Belas Adormecidas”, de Yasunari Kawabata
Este romance apresenta um homem idoso que frequenta uma casa
onde homens mais velhos passam noites ao lado de jovens adormecidas, sem a
possibilidade de tocá-las, levando a uma reflexão sobre desejo, velhice e
morte.
“Gilead”, de Marilynne Robinson
Este romance apresenta a história de um pastor idoso que,
ciente de sua mortalidade, escreve uma carta para seu jovem filho, refletindo
sobre a vida, a fé e a sabedoria adquirida ao longo dos anos.
“The Mountain”, de Elisabeth Bishop
Em “The Mountain”, Elizabeth Bishop apresenta a velhice como
uma experiência de profunda alienação — de si mesmo, do ambiente físico e
sensorial e do mundo social mais amplo. Essa alienação tem aspectos sensoriais
e interiores: a deterioração da visão e da audição, combinada com o que parece
ser mobilidade e memória reduzidas, faz com que o falante se sinta isolado do
ambiente. Também tem aspectos sociais: em resposta à mudança de condição do
falante, ele sente que os outros o ignoram ou o impugnam, o que exacerba sua
sensação de solidão. Os poetas abordaram o tema do envelhecimento de uma ampla
variedade de perspectivas, às vezes escrevendo do ponto de vista de uma pessoa
mais velha falando com uma mais jovem, ou do ponto de vista de uma pessoa mais
jovem imaginando sua velhice. Aqui, veremos como alguns outros poetas abordaram
o tema do envelhecimento.
“Uma nova chance para o Sr. Doubler”, de Seni Glaister
O sr. Doubler mora sozinho na Mirth Farm, no topo de uma
montanha, tendo como única companhia a sra. Millwood, que cuida da sua casa.
Não que isso o incomode, ele até prefere a vida isolada dedicada aos seus
tubérculos. Plantadas com grande dedicação, as batatas do sr. Doubler são o seu
legado, e nada mais lhe importa. No entanto, quando a sra. Millwood fica
doente, o mundo como o sr. Doubler conhece desmorona, e ele se vê forçado a uma
nova realidade - repleta de estranhos. Agora, de volta ao mundo renegado por
ele, será que o sr. Doubler vai encontrar na gentileza de desconhecidos uma nova
forma de enxergar a vida?
“Noites Brancas”, de Fiódor Dostoiévski
Embora não trate diretamente da velhice, a obra oferece uma
reflexão sobre o tempo e a solidão, temas que ressoam com o envelhecimento e a
nostalgia.
5.1.1 Poesias e prosas breves
(em construção)
Poesias
Versos de Natal (Manuel Bandeira)
Envelhecer (Mário Quintana)
Poema da Gare de Astapovo (Mário Quintana)
Seiscentos e Sessenta e Seis (Mário Quintana)
Meu Pai (Ferreira Gullar)
Acidente na Sala (Ferreira Gullar)
Aprendizado (Ferreira Gullar)
Envelhecer (Hermann Hesse)
Pior Velhice (Florbela Espanca)
Páscoa (Adélia Prado)
Os Velhos (Carlos Drummond de Andrade)
Velhas árvores (Olavo Bilac)
O tempo anda passando a mão em mim (Viviane Mosé)
Envelhecer (Albert Camus)
Retrato (Cecília Meireles)
Mestre (Ricardo Reis)
Prosas breves
Como Teodora, minha avó (Marilene Dias dos Santos
Grandisoli)
Elas envelheceram (J. B. Pontalis, em À Margem das Noites)
Pont Neuf (J. B. Pontalis, em Elas)
Lentidão (Norberto Bobbio, em O Tempo da Memória)
Um velho rock and roll (Mário Bortolotto, em Souvernis da
Guerra)
Filhos c(uida)/(astra)dores (Hemerson Ari Mendes)
5.2 Psicologia (em construção)
“Tratado de geriatria e gerontologia”, de Elizabete Viana
Freitas e Ligia Py.
Um clássico da geriatria e gerontologia, já disponível em 5ª
edição revista, ampliada e revisada: “Tratado de Geriatria e Gerontologia
completa 20 anos, mantendo seu objetivo primordial: servir como fonte de
informações atualizadas e relevantes à realidade brasileira para os
profissionais da área da saúde e do cuidado social. Esta quinta edição atualizada,
que conta com a colaboração de um seleto grupo de especialistas, mantém a mesma
estrutura conceitual, porém com 38 novas revisões e avaliações críticas a
respeito da pesquisa, da clínica e das modalidades de intervenção no campo do
envelhecimento, tais como: desigualdades sociais no Brasil, Biodireito,
economia da longevidade, conceitos de tempo em Gerontologia, população negra e
cidadania, Idoso rural, velhice LGBT, educação financeira, imunidade,
imunização e covid-19, Medicina nuclear em Geriatria e telemedicina. Outra
novidade impactante são os 23 capítulos que integram a Parte 1 do livro, cujos
conteúdos estão disponíveis online no ambiente virtual de aprendizagem do Grupo
GEN para todos os leitores que o adquirirem.”
“Desenvolvimento humano”, de Diana Papalia e Gabriela
Martorell
Um clássico da psicologia do desenvolvimento humano, já
disponível em 14ª edição revista, ampliada e revisado: “O livro clássico de
Papalia e Martorell, Desenvolvimento humano, chega à sua 14ª edição
apresentando conteúdos atualizados que permitem aos estudantes uma compreensão
ampla da experiência humana em toda sua complexidade e diversidade. A partir de
uma abordagem cronológica, o livro acompanha todas as fases do desenvolvimento,
desde a formação de uma nova vida até o momento da morte. Para cada etapa, são
apresentados dados tanto sobre o desenvolvimento físico e cognitivo quanto
sobre o desenvolvimento psicossocial. Sua já consagrada abordagem didática
inclui recursos que guiam a leitura e reforçam a aprendizagem, como Pontos
principais, Objetivos de aprendizagem, Verificadores “Você é capaz de…”,
Resumos e Palavras-chave. Além disso, inclui as seções Janela para o Mundo, que
possibilitam uma visão de diferentes tópicos sob uma perspectiva cultural (p.
ex., cuidados pré-natais, brigas entre irmãos, relação entre cultura e
cognição, uso da internet, estereótipos sobre o envelhecimento, cuidado com os
idosos, rituais fúnebres, entre outros), e Pesquisa em Ação, que trazem dados
recentes sobre Temas atuais, como mudanças de carreira na meia-idade,
abuso contra idosos, suicídio assistido, entre outros”.
“A Velhice” de Simone de Beauvoir
“Em A Velhice, Simone de Beauvoir nos convida a uma
exploração profunda e comovente da fase da vida que muitas vezes é
negligenciada. Ela não apenas fornece uma revisão histórica detalhada da
velhice, mas também propõe uma mudança radical na maneira como a encaramos.
Desafiando a visão tradicional da senilidade, a autora mergulha em análises
rigorosas, apoiadas por pesquisas e estatísticas. No entanto, Beauvoir mantém
uma sensibilidade única, evitando ser cativa das frias certezas dos números.
Este livro é uma obra de grande densidade, revelando uma realidade por vezes
cruel, mas também rica em experiências”.
“Psicologia do Envelhecimento”, de Ian Stuart-Hamilton
Esta obra, que está em sua 3ª ed., oferece uma introdução ao
estudo psicológico do envelhecimento, abordando aspectos como memória,
personalidade, adaptação emocional e o impacto das mudanças cognitivas na
velhice.
“Bioética, envelhecimento humano e dignidade no adeus à
vida”, de Leo Pessini.
A presença do capítulo do Pessini (2016 [2002]) no Tratado
de geriatria e gerontologia não é à toa: o capítulo gira em torno a dois
objetos da bioética, a saber: (i) o envelhecimento humano e (ii) a morte, o que
Pessini (2016 [2002], p. 199) chama de “momento crucial”, quando então “teremos
pela frente como desafio assumir com sabedoria a dimensão de finitude de nossa
existência” e, em consequência, “nos despedir da vida com dignidade e elegância”.
Memória e sociedade: lembrança de velhos, de Ecléa Bosi
Um lindo trabalho sobre memória e lembranças de velhos: “Ensaio
polifônico sobre a memória e suas relações com a vida dos imigrantes e
operários da cidade de São Paulo, elaborado a partir de depoimentos de pessoas
idosas - de ‘lembranças de velhos’. Uma fonte preciosa de ensinamentos sobre o
mundo do trabalho no Brasil”.
O processo de envelhecimento e a atribuição de sentido à
vida, de Taiane do Nascimento Andrade-Boccato e Adriana de Fátima Franco
Belíssimo artigo sobre o sentido da vida no envelhecimento.
5.3 Filosofia (em construção)
“A República”, de Platão
Tema: O papel da velhice na sabedoria e na justiça. Explicação:
Platão, por meio da figura de Sócrates, aborda a ideia de que a velhice pode
trazer sabedoria, sendo um tempo em que a mente se liberta das paixões e
desejos da juventude. Para Platão, os anciãos são ideais para governar, pois a
experiência e a prudência os capacitam a buscar o bem comum, acima dos
interesses pessoais.
“Sobre a Velhice”, de Cícero
Tema: A velhice como parte natural da vida. Explicação:
Cícero oferece uma defesa da velhice, contrariando a visão negativa de que a
idade avançada é um fardo. Ele argumenta que a velhice traz vantagens, como o
aumento da sabedoria e a oportunidade para viver uma vida mais contemplativa.
Ele também enfatiza a importância de continuar ativo mental e fisicamente para
manter a vitalidade na velhice.
“Ser e Tempo”, de Martin Heidegger
Tema: O envelhecimento e a finitude da existência. Explicação:
Heidegger propõe que o ser humano é um “ser-para-a-morte” e que a consciência
de nossa finitude molda o modo como vivemos. O envelhecimento é um processo que
nos aproxima da realização desse fato. A velhice, nesse sentido, pode ser vista
como uma fase crucial para a reflexão sobre a existência autêntica, ou seja,
viver de acordo com o reconhecimento da finitude.
“A Dialética do Esclarecimento”, de Theodor Adorno e Max
Horkheimer
Tema: O envelhecimento e a sociedade contemporânea. Explicação:
Adorno e Horkheimer discutem como o capitalismo e a racionalidade técnica
transformam a velhice em um tempo de marginalização. Para eles, a sociedade
industrial tende a valorizar a produtividade e a juventude, relegando os idosos
a uma posição de inutilidade. Eles criticam a forma como a modernidade aliena
os idosos, privando-os de um papel significativo na sociedade.
“A velhice”, de Simone de Beauvoir
Tema: A velhice como um fenômeno social e
existencial. Explicação: Simone de Beauvoir, em sua análise sobre a
velhice, argumenta que o envelhecimento é tanto um processo biológico quanto
uma construção social. Ela critica a maneira como a sociedade marginaliza os
idosos e explora a perda de autonomia e o isolamento experimentados na velhice.
Beauvoir também reflete sobre como a cultura determina a percepção do
envelhecimento e o papel que os idosos podem desempenhar.
“Fenomenologia da Percepção”, de Maurice Merleau-Ponty
Tema: O corpo envelhecido e a experiência da velhice.
Explicação: Merleau-Ponty destaca a importância do corpo na maneira como
nos relacionamos com o mundo. No contexto da velhice, o corpo envelhecido
transforma nossa experiência de tempo, espaço e interação com os outros. A
velhice muda a percepção corporal e a forma como nos posicionamos no mundo,
oferecendo uma oportunidade para refletir sobre a consciência e a presença.
“Ética a Nicômaco”, de Aristóteles
Tema: A velhice e a vida virtuosa. Explicação:
Aristóteles, em sua obra sobre ética, explora a ideia de que a virtude é o
caminho para a eudaimonia (felicidade ou florescimento humano). Na velhice, a
virtude se manifesta através da sabedoria prática, pois a experiência adquirida
ao longo da vida permite decisões mais ponderadas e prudentes. Ele também
afirma que a felicidade plena é possível mesmo na velhice, desde que a pessoa
viva uma vida virtuosa.
“O Mito de Sísifo”, de Albert Camus
Tema: Enfrentar o envelhecimento com a aceitação do
absurdo. Explicação: Camus discute o absurdo da vida humana, a busca de
sentido em um mundo que não oferece respostas definitivas. No contexto da
velhice, essa visão pode ser aplicada à ideia de que, apesar da inevitabilidade
do declínio físico e da proximidade da morte, é possível viver a vida com
dignidade e rebeldia. A aceitação do absurdo pode libertar o indivíduo para
viver a velhice sem a angústia de encontrar um significado último.
“O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir
Tema: A velhice e a condição feminina. Explicação:
Embora o foco principal de Beauvoir seja o papel da mulher na sociedade, ela
também discute a questão do envelhecimento, especialmente para as mulheres. Na
velhice, as mulheres muitas vezes enfrentam dupla marginalização – pelo
envelhecimento e pelo sexismo. Beauvoir reflete sobre como o corpo feminino,
que outrora foi valorizado pela juventude e beleza, torna-se objeto de descaso
na velhice, e como isso afeta a identidade feminina.
“Condição Humana”, de Hannah Arendt
Tema: A velhice e o espaço público. Explicação:
Arendt não trata diretamente da velhice, mas suas ideias sobre a ação e o
espaço público podem ser aplicadas ao envelhecimento. Ela sugere que a
participação no espaço público e a interação com os outros são fundamentais
para a vida humana plena. Na velhice, isso pode ser interpretado como a
necessidade de manter a conexão com a sociedade, encontrando maneiras de
continuar atuante e relevante no espaço público, em vez de se isolar.
“Tempo e Narrativa”, de Paul Ricoeur
Tema: A memória, a identidade e o envelhecimento. Explicação:
Ricoeur explora a relação entre tempo, narrativa e identidade pessoal. Na
velhice, a forma como contamos nossa própria história tem um impacto profundo
na nossa percepção de quem somos. A memória assume um papel central, e o
envelhecimento pode ser visto como um momento em que as narrativas pessoais são
reavaliadas e reinterpretadas à luz de uma perspectiva temporal mais ampla.
“O Existencialismo é um Humanismo”, de Jean-Paul Sartre
Tema: Liberdade e responsabilidade na velhice. Explicação:
Sartre argumenta que a existência precede a essência, e que o ser humano é
livre para criar o próprio destino, independentemente das circunstâncias. Na
velhice, essa filosofia implica que o indivíduo, apesar das limitações físicas
e sociais, ainda possui a liberdade de definir o que fazer com o tempo que lhe
resta. A velhice pode ser vista como um estágio em que a responsabilidade por
dar sentido à vida se torna ainda mais evidente.
“Meditações”, de Marco Aurélio
Tema: A velhice e a filosofia estoica. Explicação:
Marco Aurélio, um dos principais expoentes do estoicismo, reflete sobre a
mortalidade, a finitude e a aceitação do ciclo natural da vida. Na velhice,
segundo a filosofia estoica, a serenidade pode ser alcançada ao aceitar que o
envelhecimento e a morte são partes naturais da existência. Marco Aurélio
sugere que a mente treinada pela filosofia pode encarar a velhice com
tranquilidade e dignidade, sem se deixar abater pelas perdas físicas ou
sociais.
“Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust
Tema: O tempo, a memória e o envelhecimento. Explicação:
Embora seja uma obra literária, o tratado de Proust é profundamente filosófico,
especialmente em relação à percepção do tempo e da memória. À medida que os
personagens envelhecem, há uma crescente consciência de como o tempo altera
suas identidades e relações. Proust explora como a memória reconfigura o
passado e como o envelhecimento afeta a percepção do eu ao longo da vida.
“A Morte de Ivan Ilitch”, de Leon Tolstói
Tema: O enfrentamento da morte e o significado da
vida na velhice. Explicação: Tolstói, embora seja também um literato,
propõe nesta obra uma reflexão filosófica sobre o sentido da vida diante da
morte iminente. O protagonista, Ivan Ilitch, ao enfrentar sua morte, reavalia
suas escolhas e percebe que viveu de maneira superficial. A obra reflete sobre
como a velhice pode ser um momento de intenso autoconhecimento e busca de
sentido, quando confrontada com a mortalidade.
“Ser Singular Plural”, de Jean-Luc Nancy
Tema: A coexistência e a velhice. Explicação:
Nancy propõe que a existência humana é essencialmente compartilhada, um “ser-com”.
Na velhice, essa filosofia pode ser interpretada como a importância de manter a
interconexão com os outros, já que o isolamento muitas vezes afeta os idosos. A
velhice seria, portanto, uma fase em que as relações interpessoais e a presença
do outro são fundamentais para preservar a dignidade e o sentido de identidade.
“A Arte de Viver”, de Epicteto
Tema: Enfrentar o envelhecimento com serenidade. Explicação:
Epicteto, um dos filósofos estoicos mais influentes, ensina que devemos focar
no que podemos controlar e aceitar com serenidade o que está além do nosso
controle, como o envelhecimento. Para ele, o envelhecimento é uma oportunidade
para exercitar a filosofia prática e viver de acordo com a natureza, aceitando
a transitoriedade da vida sem temor.
“As Confissões”, de Santo Agostinho
Tema: A reflexão sobre o tempo e a mortalidade. Explicação:
Santo Agostinho, em sua obra autobiográfica, discute a natureza do tempo e como
ele afeta a percepção da vida. Na velhice, a passagem do tempo torna-se um Tema
central, levando à reflexão sobre o que significa viver bem e como a eternidade
se relaciona com a finitude humana. O envelhecimento, para Agostinho, pode ser
um momento de aproximação com o divino e de preparação para a vida após a
morte.
“O Mundo como Vontade e Representação”, de Arthur
Schopenhauer
Tema: O sofrimento e a aceitação do ciclo de vida. Explicação:
Schopenhauer vê a vida como uma constante luta e sofrimento, em que o desejo
humano nunca é plenamente satisfeito. Na velhice, esse ciclo de desejos e
frustrações diminui, o que ele interpreta como uma libertação parcial das
pressões da vida. A aceitação do envelhecimento, e da morte que se aproxima,
pode ser vista como o fim natural de uma existência marcada por desejos
incessantes.
5.4 Filmes (em construção)
“Amor” (2012), de Michael Haneke
Tema: A fragilidade na velhice e o cuidado. Explicação:
Este filme retrata um casal de idosos, Georges e Anne, cuja relação é
profundamente abalada quando Anne sofre um derrame que a deixa progressivamente
incapacitada. O filme explora o amor, a dedicação e as dificuldades que surgem
ao cuidar de alguém que está envelhecendo e enfrentando doenças debilitantes.
“Longe Dela” (2006), de Sarah Polley
Tema: Alzheimer e a perda de identidade na velhice. Explicação:
Fiona, uma mulher idosa, começa a perder a memória devido ao Alzheimer e é
internada em uma instituição de cuidados. Seu marido, Grant, precisa lidar com
o afastamento emocional à medida que Fiona se esquece dele e começa a se
relacionar com outra pessoa. O filme explora as complexas emoções de amor,
perda e identidade no contexto da velhice.
“Cocoon” (1985), de Ron Howard
Tema: O envelhecimento e o desejo de
rejuvenescimento. Explicação: Um grupo de idosos encontra uma piscina
com poderes regenerativos, permitindo-lhes recuperar a vitalidade e a
juventude. O filme aborda a eterna busca pela juventude e a aceitação do ciclo
natural da vida, questionando o que significa envelhecer com dignidade e viver
plenamente.
“As Invasões Bárbaras” (2003), de Denys Arcand
Tema: Reflexões sobre a vida e a morte na velhice. Explicação:
O filme acompanha Rémy, um homem idoso e doente terminal, que recebe visitas de
antigos amigos e familiares enquanto enfrenta a morte iminente. As conversas
refletem sobre o envelhecimento, o legado pessoal e as mudanças nos valores
sociais ao longo do tempo, abordando a velhice como um momento de reavaliação
da vida.
“Nebraska” (2013), de Alexander Payne
Tema: O envelhecimento e os laços familiares. Explicação:
Woody Grant, um homem idoso e teimoso, acredita ter ganhado um prêmio em
dinheiro e decide viajar até o Nebraska para reivindicá-lo. Acompanhado por seu
filho, o filme explora as complexidades das relações familiares, o isolamento e
os sonhos que persistem na velhice, com uma abordagem realista sobre o
envelhecimento.
“As Confissões de Schmidt” (2002), de Alexander Payne
Tema: O vazio existencial na aposentadoria. Explicação:
Warren Schmidt, recém-aposentado e viúvo, percebe que sua vida não tem o
significado que ele esperava. O filme explora a crise existencial que muitos
enfrentam na velhice, quando as estruturas que sustentavam suas identidades
(trabalho, casamento), desmoronam, deixando espaço para a reflexão sobre o
sentido da vida.
“Up: Altas Aventuras” (2009), da Pixar
Tema: O luto e a aventura na velhice. Explicação:
Esta animação acompanha Carl Fredricksen, um idoso viúvo que decide realizar o
sonho que ele e sua esposa falecida tinham: viajar para a América do Sul em sua
casa flutuante. Embora seja uma animação, o filme trata com delicadeza Temas
como o luto, as memórias, e a possibilidade de novas aventuras e significados
na velhice.
“O Exótico Hotel Marigold” (2011), de John Madden
Tema: Redescobertas e novas experiências na
aposentadoria. Explicação: Um grupo de aposentados britânicos viaja para
a Índia, atraído pela promessa de um luxuoso hotel de baixo custo. Ao chegar,
percebem que o hotel está em ruínas, mas a experiência acaba
proporcionando-lhes novas perspectivas sobre a vida, amizade e o envelhecimento.
“Conduzindo Miss Daisy” (1989), de Bruce Beresford
Tema: Amizade intergeracional e o envelhecimento. Explicação:
O filme acompanha a relação entre Miss Daisy, uma senhora idosa e teimosa, e
Hoke, seu motorista afro-americano. Com o passar dos anos, eles desenvolvem uma
amizade profunda, e o filme explora questões sobre preconceito, solidão e como
o envelhecimento afeta as dinâmicas sociais e pessoais.
“O Filho da Noiva” (2001), de Juan José Campanella
Tema: Amor na velhice e reconciliação familiar. Explicação:
Rafael, dono de um restaurante, passa por uma crise pessoal e reflete sobre
suas relações familiares, especialmente com sua mãe, Norma, que sofre de
Alzheimer. O filme aborda o envelhecimento com sensibilidade, especialmente no
contexto das relações familiares e a necessidade de amor e reconciliação na
velhice.
“E se Vivêssemos Todos Juntos?” (2011), de Stéphane
Robelin
Tema: A vida em comunidade na velhice. Explicação:
O filme retrata cinco amigos idosos que, diante das dificuldades de viverem
sozinhos, decidem morar juntos para cuidar uns dos outros. Ele aborda questões
como a amizade, a autonomia e a interdependência na velhice, desafiando a ideia
de que os idosos devem ser isolados em asilos ou instituições.
“Hanami –
Cerejeiras em Flor” (2008), de Doris Dörrie
Tema: Luto, velhice e a busca de significado. Explicação:
O filme segue Trudi e Rudi, um casal de idosos, e explora o luto quando Trudi
falece inesperadamente. Após a morte de sua esposa, Rudi embarca em uma jornada
para realizar os sonhos de Trudi e encontrar seu próprio propósito na vida. A
velhice é retratada como um momento de redescoberta e aceitação do luto.
“Elsa & Fred” (2005), de Marcos Carnevale
Tema: O amor na velhice e a busca por sonhos. Explicação:
Elsa, uma mulher idosa cheia de vida, e Fred, um viúvo solitário, se encontram
e iniciam um romance na velhice. O filme celebra a possibilidade de viver
intensamente, mesmo na última fase da vida, e mostra que o envelhecimento não
impede o amor ou a busca por novas aventuras.
“A Balada de Narayama” (1983), de Shôhei Imamura
Tema: Tradições e o envelhecimento. Explicação:
Este filme japonês explora uma tradição fictícia em que, aos 70 anos, os idosos
de uma vila devem ser levados ao topo de uma montanha para morrer. O filme
aborda o envelhecimento em um contexto cultural que valoriza a sobrevivência do
grupo, mas reflete sobre os valores humanos, dignidade e o ciclo natural da
vida e morte.
“Viver Duas Vezes” (2019), de Maria Ripoll
Tema: Alzheimer e as relações familiares na velhice. Explicação:
O filme segue Emilio, um homem idoso diagnosticado com Alzheimer, que decide
procurar seu primeiro amor antes que sua memória desapareça completamente. Ao
lado de sua família, a história explora as complexidades do envelhecimento, da
perda de memória e dos laços familiares que se tornam fundamentais durante esse
processo.
“Antes de Partir” (2007), de Rob Reiner
Tema: Reflexões sobre a morte e a velhice. Explicação:
Edward e Carter, dois homens idosos que estão enfrentando doenças terminais,
decidem criar uma lista de coisas para fazer antes de morrer e embarcam em uma
jornada para realizar esses desejos. O filme trata da velhice como uma fase de
reflexão sobre o significado da vida, os arrependimentos e as últimas
oportunidades de viver plenamente.
“A Última Gargalhada” (1924), de F. W. Murnau
Tema: Perda de status e dignidade na velhice. Explicação:
Este clássico do cinema mudo acompanha a história de um porteiro de hotel idoso
que é rebaixado de seu cargo de prestígio, o que o leva a uma profunda crise de
identidade e dignidade. O filme aborda como o envelhecimento afeta a autoestima
e o papel que a sociedade dá aos idosos, refletindo sobre o valor que
associamos ao trabalho e à aparência.
“O Declínio do Império Americano” (1986), de Denys Arcand
Tema: Reflexões sobre a vida na meia-idade e na
velhice. Explicação: O filme traz um grupo de amigos de meia-idade que
refletem sobre a vida, o amor e suas escolhas, com uma perspectiva que antecipa
o envelhecimento. Embora o foco seja na meia-idade, o filme lida com o tempo
que passa e a inevitabilidade da velhice, abordando as crises e expectativas
relacionadas ao envelhecer.
“Histórias que Contamos” (2012), de Sarah Polley
Tema: Memória, narrativa e identidade. Explicação:
Este documentário explora a história de uma família e revela como a memória é
construída e interpretada de maneira diferente por cada membro. Embora o foco
não seja diretamente o envelhecimento, o filme faz uma reflexão profunda sobre
o papel da memória e identidade na vida das pessoas à medida que envelhecem,
mostrando como nossas narrativas mudam ao longo do tempo.
“A Família Savage” (2007), de Tamara Jenkins
Tema: A relação entre pais e filhos na velhice. Explicação:
Dois irmãos, Wendy e Jon Savage, precisam cuidar de seu pai idoso e doente, com
quem tinham uma relação distante. O filme explora o impacto emocional e prático
do envelhecimento, tanto para os idosos quanto para seus cuidadores, mostrando
a complexidade dos laços familiares e o enfrentamento das responsabilidades na
velhice.
“Venus” (2006), de Roger Michell
Tema: Sexualidade e desejo na velhice. Explicação:
Este filme segue a história de Maurice, um ator idoso que desenvolve um
interesse romântico por uma jovem. Embora Maurice esteja na velhice, o filme
desafia as expectativas sobre o envelhecimento, ao lidar com o desejo sexual, a
vitalidade e a busca por conexões, mesmo em uma idade avançada.
Jerusa (2017), Jeferson De
Tema: A história gira em torno de Jerusa, uma mulher
de 70 anos que vive uma vida repleta de desafios e lutas, especialmente em
relação ao seu lugar na sociedade e às suas relações familiares Explicação:
A trama é marcada por temas como envelhecimento, solidão e a busca por conexão,
apresentando uma perspectiva sensível sobre as experiências de vida de uma
mulher idosa. Jerusa lida com as dificuldades de um mundo que muitas vezes
marginaliza os mais velhos e tenta encontrar significado em suas interações com
os outros, incluindo sua filha e amigos.
5.5 Artes plásticas (em
construção)
“Retrato de uma Mulher Idosa” (1639), de Rembrandt
Tema: Realismo e dignidade na velhice. Explicação:
Rembrandt foi um mestre em capturar a humanidade de seus retratados, e seus
retratos de idosos são especialmente notáveis pela expressão de dignidade e
introspecção. Esta obra, em particular, mostra a riqueza emocional da velhice,
com a mulher representada com realismo e sem idealizações, destacando suas
rugas e a profundidade de sua experiência.
“Os Velhos” (1894), de Goya
Tema: A decadência física e o envelhecimento. Explicação:
Esta obra faz parte da série “Pinturas Negras” de Goya, nas quais ele explora Temas
sombrios e inquietantes, incluindo o envelhecimento. Goya mostra os idosos em
um estado de fragilidade física e mental, sugerindo as consequências da
passagem do tempo. A obra reflete as ansiedades em torno da velhice e da morte.
“Três Idades da Mulher” (1905), de Gustav Klimt
Tema: O ciclo da vida e a velhice. Explicação:
Esta pintura simbolista representa três fases da vida feminina: infância,
maturidade e velhice. A mulher idosa está representada de forma nua e
vulnerável, contrastando com a vitalidade da mulher mais jovem. A obra reflete
sobre a inevitabilidade do envelhecimento e a beleza que pode ser encontrada em
todas as fases da vida.
“O Despertar da Humanidade” (1947), de Jean Dubuffet
Tema: A sabedoria e a ancestralidade. Explicação:
Dubuffet foi um expoente da arte bruta, e em várias de suas obras, ele celebra
figuras idosas como guardiões da sabedoria e da memória cultural. Em “O
Despertar da Humanidade”, ele retrata figuras arquetípicas que simbolizam a
experiência acumulada e a conexão com as raízes mais profundas da civilização.
“A Vovó” (1888), de Henryk Siemiradzki
Tema: Ternura e afeto na velhice. Explicação:
Este quadro retrata uma avó idosa e uma criança em uma cena familiar e
acolhedora. Siemiradzki usa a luz e as cores suaves para destacar a ternura e a
continuidade entre gerações, enfatizando o papel vital dos idosos na
transmissão de afeto e conhecimento para os mais jovens.
“O Velho Guitarrista” (1903), de Pablo Picasso
Tema: Solidão e sofrimento na velhice. Explicação:
Criada durante o “período azul” de Picasso, esta pintura retrata um idoso
desolado tocando guitarra, em uma postura melancólica e frágil. A obra reflete
a solidão e a vulnerabilidade que muitas vezes acompanham o envelhecimento,
utilizando tons frios e uma composição sombria para destacar o sentimento de
desolação.
“Mãe Idosa” (1922), de Kathe Kollwitz
Tema: A maternidade na velhice e o luto. Explicação:
Kathe Kollwitz foi uma artista alemã conhecida por suas obras profundamente
emocionais, muitas das quais abordam a perda e o sofrimento. Em “Mãe Idosa”,
ela retrata uma mulher idosa envolvida em tristeza, refletindo sobre a
maternidade na velhice e as cicatrizes emocionais que o tempo deixa.
“A Anciã” (1882), de Édouard Manet
Tema: Beleza e simplicidade na velhice. Explicação:
Manet retrata uma mulher idosa com simplicidade e dignidade, afastando-se dos
padrões de beleza da época que valorizavam a juventude. A anciã é representada
de maneira realista, com suas rugas e feições marcadas pelo tempo, sugerindo
uma aceitação da beleza que vem com o envelhecimento.
“Os Desastres da Guerra” (1810-1820), de Francisco Goya
Tema: O envelhecimento diante da violência e do
sofrimento. Explicação: Embora esta série de gravuras trate da guerra e
de suas consequências, muitas das imagens de Goya incluem figuras idosas que
representam o impacto do tempo em um contexto de destruição. Os idosos nessas
gravuras estão frequentemente entre os mais vulneráveis, vítimas do conflito e
da degradação física, simbolizando a fragilidade da vida humana.
“Mãe e Filha” (1913), de Paula Modersohn-Becker
Tema: Envelhecimento e maternidade. Explicação:
A obra explora a relação intergeracional entre uma mãe e sua filha, refletindo
sobre o ciclo da vida e o papel da mulher ao longo das diferentes fases do
envelhecimento. Modersohn-Becker usa uma linguagem visual simplificada para
capturar a essência da maternidade e o passar do tempo.
“Vieux Paysan” (1890), de Camille Pissarro
Tema: O trabalhador idoso e o ciclo da vida. Explicação:
Pissarro, um dos principais pintores impressionistas, muitas vezes retratou a
vida rural. “Vieux Paysan” (Velho Camponês) é uma obra que retrata um
trabalhador idoso, refletindo sobre a dignidade dos trabalhadores rurais mesmo
na velhice. A pintura destaca o envelhecimento como uma fase da vida, onde a
continuidade com a terra e o trabalho persiste.
“Cabanes des Pêcheurs” (1912), de Claude Monet
Tema: Reflexão sobre a natureza e o tempo. Explicação:
Embora Monet não tenha focado diretamente no envelhecimento humano, suas séries
de pinturas sobre a natureza, especialmente as últimas, criadas durante a
velhice, refletem uma percepção cada vez mais intensa do tempo e de sua
passagem. Suas paisagens, muitas vezes envoltas em neblina, sugerem a
efemeridade e o ciclo natural do envelhecimento e da morte.
“A Velhice” (1894), de Gustave Courbet
Tema: A fragilidade e a dignidade da velhice. Explicação:
Courbet retrata uma mulher idosa em um estado de vulnerabilidade, mas ao mesmo
tempo, digna. A obra mostra o corpo envelhecido de forma crua, mas com uma
beleza única que desafia os estereótipos de beleza associados à juventude,
convidando à reflexão sobre o respeito pela experiência acumulada ao longo da
vida.
“Idoso Comendo Frutas” (1866), de Édouard Manet
Tema: A simplicidade da vida cotidiana. Explicação:
Manet retrata um idoso em um momento cotidiano de comer frutas, sugerindo que a
vida continua a ter seus prazeres, mesmo na velhice. A obra evoca uma sensação
de tranquilidade e aceitação, celebrando a simplicidade das pequenas coisas.
“O Último Dia de Um Condenado” (1880), de Francisco Goya
Tema: A reflexão sobre a vida e a morte. Explicação:
Embora o foco principal seja a pena de morte, Goya utiliza figuras idosas para
simbolizar a reflexão sobre a vida, o tempo e a inevitabilidade da morte. A
representação da velhice neste contexto é uma crítica poderosa à condição
humana e à fragilidade da vida.
“Mulher Idosa com um Chapéu” (1906), de Henri Matisse
Tema: A beleza da vida em todas as idades. Explicação:
Matisse, conhecido por suas cores vibrantes e formas ousadas, retrata uma
mulher idosa com um chapéu elegante, celebrando a individualidade e a beleza em
qualquer fase da vida. A obra enfatiza a alegria e a autoaceitação que podem
vir com a idade.
“Os Velhos” (1900), de Henri Rousseau
Tema: A inocência e a simplicidade da vida. Explicação:
Rousseau retrata um casal idoso em um ambiente sereno, refletindo sobre a paz e
a sabedoria que vêm com a idade. A simplicidade da cena e o uso de cores vivas
convidam à contemplação sobre o significado da vida na velhice.
“A Morte de Sardanápalo” (1827), de Eugène Delacroix
Tema: A luta entre vida e morte. Explicação:
Embora a obra não trate diretamente da velhice, a representação de figuras
idosas entre os personagens em agonia sugere a fragilidade da vida. Delacroix
capta a tensão entre a vitalidade e a inevitabilidade da morte, refletindo
sobre a transitoriedade da existência.
“Retrato de Velho” (1840), de Jean-Auguste-Dominique
Ingres
Tema: A dignidade na velhice. Explicação:
Ingres retrata um homem idoso com uma expressão serena, revelando a dignidade e
o caráter que vêm com a experiência. A atenção aos detalhes e à textura da pele
na pintura convida à apreciação da beleza que reside na maturidade.
“Self-Portrait
with Gray Felt Hat” (1886), de Vincent van Gogh
Tema: O envelhecimento e a identidade. Explicação:
Neste autorretrato, Van Gogh explora o Tema do envelhecimento e da
introspecção. A expressão pensativa e as marcas do tempo em seu rosto capturam
a complexidade da identidade ao longo dos anos, refletindo sobre a jornada da
vida e as transformações que ocorrem com o passar do tempo.
“A Velhice” (1899), de Pierre-Auguste Renoir
Tema: A alegria na velhice. Explicação: Renoir
apresenta uma mulher idosa em uma cena alegre e vibrante, ressaltando que a
velhice não precisa ser sinônimo de tristeza ou solidão. A paleta de cores
quentes e a composição cheia de vida transmitem uma mensagem de otimismo e
celebração da vida na maturidade.