‘CAFÉ FILOSÓFICO’ DA ‘UNIVERSIDADE AMIGA DA PESSOA IDOSA’ (UNAI-UFU)
Proposta do extensionista voluntário Leonardo Ferreira Almada para a coordenadora, Profa. Dra. Karina do Valle Marques
Uberlândia-MG
27 a 29 de Setembro de 2024
SUMÁRIO
1. Apresentação 01
2. Propostas de temas 05
2.1 Projeto ‘Café Filosófico’ 05
2.1.1 Sabedoria e envelhecimento 05
2.1.2 O sentido da vida na velhice 06
2.1.3 Liberdade e autonomia na velhice 07
2.1.4 Memória e identidade 09
2.1.5 A felicidade na velhice 10
2.1.6 O papel da mulher na sociedade ontem e hoje 12
2.1.7 Solidão e conexões na velhice 13
2.1.8 Felicidade: o que é a felicidade? 14
2.2 Projeto ‘Café com a Morte’ 15
2.2.1 A morte e a finitude 15
2.2.2 A Morte e morte metafórica a partir da produção artística 16
2.2.3 A morte na ciência 17
2.2.4 A morte e a política 18
2.2.5 A morte e a religião 20
2.2.6 Morte, arte e música 22
2.2.7 A morte e o direito 24
2.2.8 A morte e o cotidiano 26
2.3 Considerações finais 29
3. A dinâmica dos encontros do ‘Café Filosófico’ e ‘Café com a Morte’ 30
3.1 Atividades complementares 31
3.2 Práticas de Preparação e Retorno (feedback) 31
4. Para reflexão: Resta quanto tempo?, por Rubem Alves 32
5. Referências (em construção) 35
5.1 Literatura (em construção) 35
5.1.1 Poesias e prosas breves (em construção) 39
5.2 Psicologia (em construção) 40
5.3 Filosofia (em construção) 43
5.4 Filmes (em construção) 48
5.5 Artes plásticas (em construção) 53
1. Apresentação
O ‘Café Filosófico’ é um projeto desenvolvidos por iniciativa da Profa. Dra. Karina do Valle Marques, coordenadora do Programa de Extensão ‘Universidade Amiga do Idoso’ (doravante, UNAI-UFU), vinculado e registrado junto à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Uberlândia (PROEXC-UFU), instituído pela Resolução 15/2009 do Conselho de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis da Universidade Federal de Uberlândia (CONSEX-UFU).
O projeto ‘Café Filosófico’ é uma iniciativa cultural da UNAI-UFU, mediante o qual serão oferecidos, às(aos) alunas(os), um espaço regular de aprendizado, aprimoramento afetivo e cognitivo, diálogo, socialização, trocas de ideias e reflexões sobre alguns dos temas e problemas (teóricos, existenciais, filosóficos ou psicológicos) que, de uma forma ou de outra, ‘atravessam’ a população idosa. Do ponto de vista dos seus conteúdos, os projetos são fomentados por produções consagradas e estabelecidas em livros (sejam literários, psicológicos, científicos, sociológicos, filosóficos), filmes, artes plásticas e/ou outros objetos de artes em geral.
Para a realização do projeto ‘Café Filosófico’, a sede da UNAI-UFU (rua Duque de Caxias) oferecerá, a suas(seus) alunas(os), um espaço acolhedor, envolto em uma aura de antiguidade e de memória. Os encontros ocorrerão em meio ao antigo maquinário aos e tecidos disponíveis na sede da UNAI-UFU, confluindo para deslocar nossa imaginação e lembranças para tempos antigos: as antigas máquinas de costura se misturam a uma igualmente antiga máquina de escrever e a máquinas de moer e torrar café. Para completar o cenário, pairará no ar o cheiro da mais popular e congregadora bebida brasileira (e quiçá do mundo), e a qual dá nome ao evento, o café. Nesse ambiente, projetado para nos lembrar a ‘casa de vó’, respiraremos, juntos, e desde os primeiros momentos dos encontros, as memórias físicas e espirituais das(os) nossas(os) alunas(os) idosas(os).
O projeto ‘Café Filosófico’ busca conciliar (i) o convite à reflexão sobre temas existenciais, sociais, culturais, espirituais e filosóficos a partir de uma abordagem acessível e envolvente com (ii) um espaço de acolhimento, de estímulo à livre expressão e à diversidade das(os) alunas(os), de compartilhamento de vivências e de ampliação de perspectivas.
Trata-se, pois, do esforço — há algum tempo empreendido com êxito pelos cafés filosóficos que tanto êxito têm logrado junto ao público geral — de aproximar o esforço conceitual e o pensamento filosófico com a realidade cotidiana prática vivida. Portanto, o projeto ‘Café Filosófico’ não se perde em meio a um eruditismo vazio. O êxito desse empreendimento depende da capacidade que temos de mostrar aos nossos interlocutores como a problematização filosófica está presente em cada uma das maneiras como constituímos nosso mundo; em outras palavras, pela competência que temos de explicitar como a filosofia está presente em cada um dos traços de nossa cultura, de nossos costumes, de nossa moral e, portanto, de nossa própria visão de mundo.
Considerando a realidade do público a que se destinam esses projetos, acrescenta-se o nosso respeito à ausência de hierarquias intelectuais e à desconstrução de um suposto exclusivismo do lugar de saber do mestre. Em seu lugar, propomos o estabelecimento de uma posição horizontal que, ao final e ao cabo, pende para a experiência e a sabedoria da população idosa, valorizando os saberes e visões acumulados ao longo de décadas.
Voltado principalmente para pessoas acima de 60 anos, o ‘Café Filosófico’ da UNAI-UFU busca, desde a idealização de cada um dos encontros, promover a inclusão intelectual e social por entremeio do estímulo ao protagonismo e à autonomia das participantes no campo do pensamento e da expressão. Nossa expectativa é a de que cada um dos encontros constitua uma oportunidade de aprendizado mútuo, e que as trocas de ideias e a reflexão conjunta fomentem um espaço de convivência enriquecedora e transformadora. A associação entre o cultivo de questões filosóficas e a convivência em um ambiente no qual as(os) alunas(os) se sentem tão bem acolhidas(os) há vários anos potencializa não apenas o fortalecimento de laços afetivos e sociais entre os participantes, mas também contribui para a valorização do envelhecimento ativo, promovendo, na prática, o compartilhamento e a celebração da sabedoria e das histórias de vida de cada um das(os) alunas(os) do projeto.
Por um lado, a proposta de um ‘Café Filosófico’ traz consigo uma finalidade pedagógica de primeira grandeza, qual seja, a de fazer circular, por meio de suas atividades, e no processo de interação com os beneficiários, novos ou revisitados conteúdos, abordagens, perspectivas e visões de mundo.
Por outro lado, e como consequência dessa primeira finalidade, o ‘Café Filosófico’— constituído para atender às demandas de saúde, bem-estar e qualidade de vida da população idosa — busca ser mais algumas das formas a que a UNAI-UFU recorre para promover o aprimoramento cognitivo de seus beneficiários. Considerando a definição de psicologia cognitiva como o conjunto de processos mentais inerentes à recepção, processamento, armazenamento e uso de informações, o projeto ‘Café Filosófico’ busca estimular o enriquecimento cognitivo de suas(seus) alunas(os) por meio das seguintes formas:
(i) Estimulação intelectual: com efeito, ainda que a discussão de temas filosóficos em um ‘Café Filosófico’ transcorra em um nível o mais acessível possível, o contato com a reflexão, à análise e à argumentação que inerem à problematização filosófica de qualquer tema demanda um esforço cognitivo. Problematizações filosóficas mobilizam nossas principais funções cognitivas, dentre as quais a percepção, a atenção, a memória, a linguagem, o pensamento, e a simulação mental de resolução de problemas e de tomada de decisão. Esse exercício não apenas contribui para manter o cérebro ativo, como, em consequência, para o desenvolvimento da cognição, isto é, da aquisição e utilização de conhecimento para entender o mundo e agir sobre ele. Uma consequência importante da estimulação intelectual é, portanto, a preservação e o aprimoramento de funções cognitivas como memória, atenção, raciocínio lógico e pensamento crítico;
(ii) Desenvolvimento de habilidades e repertórios linguísticos: O engajamento com diálogos e problematizações filosóficas desempenha um papel significativo no desenvolvimento da linguagem verbal, contribuindo, dessa maneira, para um ganho em fluência, no vocabulário e na clareza na comunicação. Dadas as relações entre pensamento e linguagem, o aprimoramento da fluência, vocabulário e clareza na comunicação está associado ao desenvolvimento na capacidade de estabelecer pensamentos, isto é, à estimulação das ‘trilhas neurais’ importantes para o retardo dos processos demenciais naturais;
(iii) Fomento ao pensamento crítico: independentemente do tema que está sendo discutido, o exercício de problematização filosófica estimula o questionamento e o debate de ideias que, muitas vezes, são precipitadamente tomadas como certas pelo senso comum. Acreditamos, nesse sentido, que o projeto ‘Café Filosófico’ pode ser uma ferramenta de capacitação a pensamentos mais complexos e funcionais, e a um modo mais reflexivo e aberto para avaliação de suas crenças e estados mentais, o que também está associado à reformulação de trilhas neurais associadas com o declínio cognitivo;
(iv) Socialização: As mais diversas perspectivas filosóficas e científicas têm corroborado a compreensão aristotélica de que o homem é um animal político, isto é, um animal da pólis, ou, para ser mais preciso, um animal social. Nossa plena realização e desenvolvimento, nos ensina a psicologia histórico-cultural, dependem de como são afetados e afetamos o meio. A socialização é, sem dúvida, parte importante dos benefícios presentes em todas as atividades da UNAI-UFU. O projeto ‘Café Filosófico’ busca ser mais uma oportunidade de interação social entre as(os) alunas(os), constituindo, destarte, um cultivo à saúde, contemplada em todos os seus níveis, a saber: a saúde física, mental e emocional. A diminuição do isolamento social está relacionado a um risco menor de problemas demenciais, de transtornos de humor e de ansiedade e a um aumento do fortalecimento imunológico; em consequência, à elevação da expectativa de vida e dos níveis de saúde, bem-estar e qualidade de vida;
(v) Desenvolvimento de habilidades e repertórios emocionais e afetivos e psicológicos: A exemplo dos benefícios que ocorrem em qualquer ciclo do desenvolvimento humano a partir do contato com a literatura, com a filosofia e com as artes em geral, a oportunidade de discutir questões existenciais, éticas e morais e, em consequência, de explorar, em condições controladas e responsáveis, emoções e valores profundos, pode propiciar, as(os) alunas(os) da UNAI-UFU, ferramentas de autoconhecimento e mesmo uma sensação de propósito. O autoconhecimento e a sensação de propósito estão indissociavelmente associados com o fortalecimento da saúde emocional, na mesma medida em que suas ausências estão associadas ao aumento de ideações suicidas, e de transtornos de humor e de ansiedade, especialmente na velhice; e, dentre outras formas possíveis de buscarmos estimular o enriquecimento cognitivo das(os) alunas(os) da UNAI-UFU, podemos citar a
(vi) Flexibilidade cognitiva: o projeto ‘Café Filosófico’ propõem a seus participantes o contato com novas ideias, pontos de vista e perspectivas, desafiando-os a exercitar suas funções cognitivas a partir do convite à flexibilização de seus pontos de vista e à ampliação da capacidade de adaptação a novos cenários (reais ou simulados). O projeto ‘Café Filosófico’ é, portanto, potencialmente benéfico para o alargamento da plasticidade cognitiva, essencial para um envelhecimento saudável.
No ‘Café Filosófico’, introduziremos sessões especiais do ‘Café com a Morte’, que segue o exemplo bem-sucedido da experiência inglesa com o ‘Death Cafe’, no qual o tema geral é a morte em seus múltiplos aspectos, isto é, para além da dimensão biológica. Nos encontros do projeto ‘Café com a Morte’, buscaremos trabalhar, com nossas(os) alunas(os), seus anseios, seus pensamentos e experiências sobre a morte e o morrer, suas compreensões psicológicas de ‘morte em vida’, de ‘morte de sentimentos’, de ‘morte em cultura’ e, dentre outros tantos temas possíveis, ‘a morte e a espiritualidade’, no âmbito da compreensão sustentada pela psicologia do desenvolvimento, a saber: a de que há desenvolvimento na velhice.
O ‘Café com a Morte’ é um subprograma do ‘Café Filosófico’.
2. Propostas de temas
Seguem, abaixo, algumas propostas gerais de temas, todas passíveis de múltiplos desdobramentos e, portanto, de muitas apresentações diferentes. Cada um dos temas listados são grandes tópicos capazes de abarcar incontáveis discussões particulares. Portanto, além de novos temas poderem ser acrescentados a esta lista nada exaustiva, os itens já presentes podem ser desdobrados em subitens e itens afins.
2.1 Projeto ‘Café Filosófico’
2.1.1 Sabedoria e Envelhecimento
Pergunta-guia: O que é sabedoria? Como a experiência da vida molda o nosso entendimento do mundo? A sabedoria é um privilégio do envelhecimento ou pode ser alcançada em qualquer fase da vida?
Discussão: Refletir sobre como a idade traz novas formas de ver a vida, e como o envelhecimento pode ser uma fonte de ‘empoderamento pessoal’ e de aprendizado. A sabedoria tende a estar associada à idade, na medida em que, com o passar do tempo, acumulamos uma vasta gama de experiências, sucessos, fracassos e aprendizados. O envelhecimento traz uma perspectiva mais ampla, permitindo-nos ver a vida com menos pressa e mais aceitação. Com o passar dos anos, muitas pessoas desenvolvem uma habilidade especial de filtrar o que é realmente importante, diferenciando o que é passageiro do que é duradouro. Ocorre que, no entanto, o conceito de sabedoria pode ser visto não apenas como um acúmulo de conhecimento, mas como a capacidade de aplicar esse conhecimento de forma equilibrada, em situações desafiadoras da vida. Sabedoria, pois, envolve não só inteligência, mas também empatia, paciência e o entendimento das complexidades humanas.
Na velhice, as pessoas frequentemente passam a valorizar mais o momento presente e a cultivar uma compreensão mais profunda de si mesmas e dos outros. O envelhecimento também pode trazer uma aceitação das limitações da vida e uma serenidade diante das adversidades. Além disso, a sabedoria é uma via para fortalecer o papel dos idosos como mentores e guias, compartilhando experiências e conselhos valiosos com as gerações mais jovens.
No entanto, também é relevante discutir como a sociedade moderna pode subvalorizar ou desconsiderar a sabedoria dos mais velhos, devido ao foco exagerado no novo e no tecnológico. Como podemos resgatar e valorizar o papel dos idosos na transmissão de conhecimento e sabedoria? E, por outro lado, é possível que a sabedoria não esteja necessariamente vinculada à idade, mas ao amadurecimento emocional e às lições que extraímos de nossas experiências, independentemente de quão jovens ou velhos somos?
Exemplo filosófico: Sócrates, o filósofo grego, é conhecido por sua afirmação: ‘Só sei que nada sei’. Esta afirmação reflete a ideia de que a verdadeira sabedoria vem do reconhecimento de nossa própria ignorância. Essa humildade intelectual pode ser uma característica cultivada com o tempo, à medida que o envelhecimento nos ensina a aceitar a incerteza da vida. Outros filósofos, como Confúcio, também associam a sabedoria à ética e à justiça, destacando a importância do autoconhecimento e do equilíbrio nas relações humanas. Em sua filosofia, envelhecer é alcançar um estado de harmonia interior, de sorte que a sabedoria serve como guia para a ação ética e compassiva.
2.1.2 O Sentido da Vida na Velhice
Pergunta-guia: O que faz a vida valer a pena? Como o sentido da vida muda ao longo dos anos? É possível envelhecer e manter o propósito em uma sociedade que valoriza a juventude? Quais os desafios e as oportunidades do envelhecimento? Qual a importância de projetos de vida e sonhos na velhice?
Discussão: Explorar como o sentido da vida pode se transformar com o passar do tempo e as prioridades mudam. A importância das conexões humanas, legado e bem-estar emocional. De fato, nosso sentido de propósito e as coisas que consideramos importantes tendem a mudar ao longo da vida. Quando jovens, somos muitas vezes impulsionados por objetivos de crescimento profissional, formação de família ou conquistas pessoais. No entanto, conforme envelhecemos, novas prioridades surgem. A reflexão sobre o sentido da vida na velhice é uma oportunidade de entender como os projetos e os sonhos evoluem, e como as conexões humanas, o legado e o bem-estar emocional tornam-se centrais para o sentido de realização.
Na velhice, o sentido da vida pode estar mais relacionado à satisfação com as experiências vividas, à transmissão de valores e histórias para as gerações futuras, à manutenção de vínculos afetivos e ao autocuidado. A reflexão sobre a vida ganha outra dimensão, muitas vezes orientada pela sabedoria acumulada e pela serenidade em relação ao ciclo da vida. Projetos e sonhos podem continuar a ser fundamentais, seja em pequenas metas pessoais, como aprender algo novo, seja em ambições maiores, como contribuir para a comunidade.
Um dos maiores desafios, no entanto, está na maneira como a sociedade contemporânea frequentemente associa valor à juventude, ao sucesso material e à produtividade, desconsiderando a importância da experiência e da sabedoria dos mais velhos. Isso pode levar ao sentimento de invisibilidade ou de perda de propósito para algumas pessoas idosas.
Portanto, uma das reflexões possíveis é: como podemos ressignificar a velhice, de modo que o envelhecimento seja visto como uma fase de novas oportunidades e descobertas, em vez de um declínio inevitável?
Outro ponto relevante é a importância de manter um propósito claro, mesmo em idades avançadas. Ter projetos de vida — sejam eles simples ou ambiciosos — pode manter a mente ativa e proporcionar uma sensação de motivação e bem-estar. Mesmo pequenos objetivos, como cultivar um hobby, participar de atividades comunitárias ou criar conexões sociais podem trazer significado e alegria.
A busca por sentido também está ligada ao legado que deixamos. Para muitos, envelhecer significa refletir sobre como nossas ações e nossas escolhas afetaram os outros, e de que maneira podemos continuar a influenciar positivamente o mundo ao nosso redor. O sentido da vida, então, passa a incluir o impacto que deixamos nas gerações mais jovens e na comunidade.
Exemplo filosófico: O pensamento existencialista de Jean-Paul Sartre é ilustrativo a esse propósito, ao destacar que a vida não tem um sentido predefinido, mas que somos responsáveis por criar significado a partir de nossas escolhas e ações. Isso sugere que, mesmo na velhice, temos o poder de definir e redirecionar nosso propósito. Já Viktor Frankl, em Em Busca de Sentido, enfatiza que o ser humano pode encontrar sentido até mesmo nas adversidades, e que esse sentido é fundamental para nossa sobrevivência emocional. Frankl afirma que ter um propósito — seja o amor por alguém, um trabalho significativo ou a crença em algo maior — é essencial para viver plenamente, independentemente da fase da vida em que nos encontramos.
2.1.3 Liberdade e Autonomia na Velhice
Pergunta-guia: O que significa ser verdadeiramente livre? Como a percepção da liberdade pessoal se transforma ao longo da vida, mormente na velhice? De que maneira a autonomia se relaciona com o envelhecimento e quais são os desafios que os idosos enfrentam para manter sua independência?
Discussão: A liberdade é um dos conceitos mais valiosos da vida humana, mas sua compreensão e aplicação podem mudar com o tempo. Na juventude, a liberdade muitas vezes está associada à ausência de limitações, ao direito de fazer escolhas amplas e de explorar o mundo sem muitas restrições. No entanto, conforme envelhecemos, surgem novas questões sobre o que significa ser livre, especialmente à medida que o corpo e as circunstâncias podem impor novas limitações.
Na velhice, a liberdade se entrelaça fortemente com a autonomia, ou seja, com a capacidade de tomar decisões por si mesmo e controlar aspectos fundamentais da própria vida, como a saúde, o bem-estar financeiro, a moradia e o convívio social. Manter a autonomia pode ser um desafio quando fatores como declínio físico ou mental começam a interferir, o que pode resultar em maior dependência de familiares, cuidadores ou instituições. Um ponto importante para a discussão é a tensão entre a preservação da autonomia pessoal e as necessidades de cuidados, seja pela família ou pelo sistema de saúde.
A autonomia também está relacionada à capacidade de fazer escolhas sobre a própria saúde, como aceitar ou recusar determinados tratamentos médicos, decidir onde e com quem viver, e como lidar com o envelhecimento de forma digna e satisfatória. Refletir sobre essas questões é importante, pois muitos idosos enfrentam pressões sociais e familiares que podem minar sua capacidade de tomar essas decisões. A sociedade, por vezes, impõe limites à autonomia dos mais velhos, sob o argumento da segurança e da proteção, o que pode levar à perda de liberdade.
Além disso, em uma sociedade que valoriza amplamente a juventude e a produtividade, os idosos muitas vezes são marginalizados e têm sua capacidade de autodeterminação questionada. É relevante discutir como garantir que a liberdade e a autonomia dos idosos sejam respeitadas, mesmo em situações de maior vulnerabilidade, e como a sociedade pode criar um ambiente onde o envelhecimento seja visto como uma fase de vida que ainda traz oportunidades de decisão e independência.
Outra questão fundamental é a relação entre liberdade e responsabilidade. Com o passar dos anos, muitos idosos relatam que sua concepção de liberdade se transforma, passando a valorizar mais a responsabilidade com os outros — familiares, amigos, comunidade — do que a liberdade individualista. Isso levanta a reflexão sobre o que significa ser livre, em termos de relações humanas, escolhas coletivas e pertencimento social.
Exemplo filosófico: Jean-Jacques Rousseau, em seu livro O Contrato Social, defende que a verdadeira liberdade consiste em viver de acordo com regras que nós mesmos estabelecemos, em harmonia com os outros. Aplicando isso à velhice, a liberdade pode ser vista não apenas como a ausência de restrições, mas como a capacidade de manter a dignidade e a autonomia em meio às mudanças da vida. Immanuel Kant, por sua vez, argumenta que a liberdade verdadeira está ligada à autonomia moral — a capacidade de agir de acordo com princípios racionais que escolhemos para nós mesmos, independentemente de pressões externas. Na velhice, essa ideia pode ser aplicada às decisões sobre como viver de forma autêntica e digna, mesmo diante de desafios impostos pela idade.
Essas reflexões destacam que, na velhice, a liberdade pode assumir significados mais profundos, sendo fortemente ligada à preservação da autonomia e à capacidade de fazer escolhas significativas sobre a própria vida.
2.1.4 Memória e Identidade
Pergunta-guia: Como nossas memórias moldam quem somos? De que forma elas constroem nossa identidade ao longo da vida? O que perdemos e ganhamos com o passar do tempo em termos de memória? Qual a importância de preservar nossas memórias e histórias de vida, especialmente na velhice?
Discussão: A memória desempenha um papel fundamental na construção da identidade. É por meio das lembranças que formamos uma narrativa coerente sobre quem somos, de onde viemos e como nos tornamos o que somos hoje. Nossas experiências passadas, as decisões que tomamos, os relacionamentos que mantivemos e até os fracassos que enfrentamos são armazenados na memória e contribuem para a percepção atual de nossa identidade. Assim, a memória é uma ponte que conecta o passado ao presente, ajudando a formar o sentido do ‘eu’.
Na velhice, o papel da memória pode se tornar ainda mais proeminente, pois é um momento de vida em que muitas pessoas dedicam mais tempo à reflexão sobre o passado. Memórias de infância, juventude, trabalho e relações familiares são frequentemente revisitadas, e a forma como essas memórias são organizadas pode influenciar a sensação de realização ou arrependimento. Ao recontar nossas histórias, seja para nós mesmos ou para os outros, reforçamos nossa identidade e buscamos dar sentido à trajetória que percorremos.
No entanto, o envelhecimento também pode trazer desafios relacionados à memória, como o esquecimento de detalhes ou até de eventos inteiros. A perda de memória, seja natural ou decorrente de doenças como o Alzheimer, pode afetar a percepção de identidade, levando à sensação de desorientação ou confusão sobre quem se é. Isso levanta a questão: se as memórias constituem nossa identidade, o que acontece quando elas desaparecem? Ao mesmo tempo, é importante considerar que, com o tempo, ganhamos novas formas de ver e interpretar nossas memórias, o que pode enriquecer nossa compreensão de nós mesmos.
Outro aspecto relevante é a memória coletiva, que ultrapassa o âmbito individual. A história de vida de uma pessoa não é apenas uma série de eventos pessoais, mas também está inserida em contextos sociais, culturais e históricos. Para os idosos, preservar e compartilhar suas memórias pode ser uma maneira de transmitir conhecimento e sabedoria às gerações mais jovens, fortalecendo a continuidade entre passado, presente e futuro.
Além disso, o ato de rememorar pode ser uma fonte de bem-estar emocional. Recordar momentos felizes ou significativos pode trazer conforto, e, por outro lado, revisitar momentos difíceis pode proporcionar novas interpretações e até um certo alívio. Nesse sentido, o cuidado com as memórias, seja por meio de relatos escritos, fotos ou conversas, é essencial não só para manter a identidade, mas também para fortalecer os laços afetivos com familiares e amigos.
Exemplo filosófico: O filósofo Paul Ricoeur, em sua abordagem fenomenológica da memória, explora como a memória não é uma simples reprodução do passado, mas uma reconstrução ativa que afeta nossa identidade. Para ele, lembrar é um ato interpretativo, e a forma como escolhemos narrar nossas memórias influencia a maneira como entendemos quem somos. Ricoeur destaca que a memória também é vinculada ao esquecimento, e o que escolhemos esquecer ou lembrar pode ser tão significativo quanto o próprio conteúdo das lembranças. A memória, então, é tanto uma fonte de identidade quanto de transformação, à medida que reavaliamos nossas histórias ao longo da vida. Essas reflexões sobre a memória ajudam a compreender a profunda relação entre o ato de lembrar e a construção da identidade, especialmente na fase da velhice, onde as histórias de vida ganham um papel central na preservação do ‘eu’.
2.1.5 A Felicidade na Velhice
Pergunta-guia: O que é felicidade? Como a visão da felicidade se altera à medida que envelhecemos? É possível encontrar felicidade na velhice, e como essa felicidade se manifesta?
Discussão: A felicidade é um conceito universal, mas sua definição pode variar bastante ao longo da vida. Na juventude, a felicidade muitas vezes está relacionada à realização de metas, ao sucesso pessoal e à exploração de novas oportunidades. No entanto, conforme o tempo passa, a noção de felicidade pode mudar de foco, assumindo uma forma mais introspectiva e serena. Na velhice, a felicidade pode estar mais ligada ao contentamento, à aceitação da vida vivida, e à gratidão pelas experiências e conexões que se mantiveram ao longo do tempo.
A reflexão sobre a felicidade na velhice pode girar em torno de diferentes aspectos, como o papel das relações humanas e da comunidade, a sensação de legado deixado para as próximas gerações e o equilíbrio emocional. Enquanto na juventude muitas pessoas buscam a felicidade em conquistas e desafios, na velhice pode haver um desvio para um tipo de felicidade mais relacionado ao bem-estar interno e à serenidade. Isso pode incluir a aceitação de limitações, a capacidade de viver o momento presente e o desfrute de pequenas alegrias cotidianas, como a convivência com familiares, amigos e a prática de atividades simples e prazerosas.
A velhice, no entanto, também pode trazer desafios que afetam a felicidade, como questões de saúde, perdas afetivas ou a sensação de isolamento. Nesse contexto, uma reflexão importante é sobre como cultivar um senso de felicidade mesmo diante das adversidades naturais do envelhecimento. A capacidade de encontrar alegria na vida, apesar das dificuldades, pode estar vinculada à gratidão, à aceitação e à resiliência emocional. O ato de focar nas experiências que ainda podem ser vividas, em vez de lamentar o que foi perdido, pode ser uma fonte de contentamento profundo.
Além disso, a velhice oferece uma oportunidade única para reavaliar o que realmente importa para cada pessoa. O que antes era visto como essencial para a felicidade pode perder seu peso, enquanto outros elementos, como a tranquilidade e o equilíbrio emocional, ganham maior relevância. A felicidade na velhice pode ser uma busca por uma vida mais plena e significativa, menos atrelada a desejos materiais e mais conectada a valores como paz interior, convivência e realização emocional.
Para muitos, a felicidade na velhice pode se manifestar através de um sentimento de gratidão pelo caminho percorrido e pelas conquistas emocionais, ao invés de focar em ganhos materiais ou na necessidade de ‘fazer mais’. A serenidade que vem com a aceitação das escolhas feitas e do ciclo natural da vida pode ser uma poderosa fonte de felicidade duradoura.
Exemplo filosófico: Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco, discute a ideia de eudaimonia, muitas vezes traduzida como felicidade ou bem-estar. Para ele, a verdadeira felicidade está em levar uma vida virtuosa, ou seja, viver de acordo com a excelência das qualidades humanas, como a sabedoria, a justiça e a coragem. Ele acredita que a felicidade não é uma questão de prazer momentâneo, mas de alcançar uma vida bem vivida, em harmonia com os próprios valores e princípios. Na velhice, isso poderia ser interpretado como a realização de uma vida cheia de virtude e sabedoria, em que a pessoa encontra felicidade não apenas nas realizações externas, mas na plenitude interior e na tranquilidade de saber que viveu de forma íntegra e significativa. Essas ideias destacam que a felicidade na velhice pode ser uma forma de contentamento profundo, baseada na sabedoria acumulada e na capacidade de viver com serenidade, gratidão e aceitação.
2.1.6 O Papel da Mulher na Sociedade ontem e hoje
Pergunta-guia: Como o papel da mulher mudou ao longo das décadas? Quais são as conquistas e desafios que ainda precisam ser enfrentados? O que significa envelhecer como mulher na sociedade contemporânea?
Discussão: O papel da mulher na sociedade tem evoluído significativamente ao longo das décadas, refletindo mudanças sociais, culturais e políticas. Historicamente, as mulheres eram frequentemente relegadas a papéis domésticos e de cuidado, com limitações em suas opções educacionais e profissionais. Contudo, com o advento dos movimentos feministas no século XX, as mulheres começaram a reivindicar direitos e igualdade, buscando não apenas acesso ao mercado de trabalho, mas também autonomia sobre suas próprias vidas.
À medida que as décadas passaram, muitas conquistas foram alcançadas: o direito ao voto, a educação superior, a participação em profissões antes dominadas por homens e o reconhecimento de direitos reprodutivos. Essas mudanças não apenas ampliaram as oportunidades para as mulheres, mas também começaram a transformar a percepção da sociedade sobre o que significa ser mulher.
No entanto, mesmo com esses avanços, desafios persistem. Muitas mulheres ainda enfrentam discriminação no local de trabalho, desigualdade salarial e a expectativa de cumprir papéis tradicionais, como o cuidado da casa e da família. A interseccionalidade também se torna uma questão importante: mulheres de diferentes classes sociais, etnias e orientações sexuais enfrentam realidades distintas. Portanto, é essencial considerar como as mudanças nas normas sociais ainda precisam ser aprofundadas e como as mulheres podem se unir para continuar a luta por igualdade.
Envelhecer como mulher na sociedade contemporânea traz sua própria complexidade. A sociedade frequentemente valoriza a juventude, e as mulheres podem sentir a pressão de manter padrões estéticos e sociais associados à juventude. Isso pode levar a sentimentos de invisibilidade e marginalização, especialmente quando se trata de questões de saúde, sexualidade e vida social.
Entretanto, o envelhecimento também pode oferecer uma nova perspectiva. Muitas mulheres relatam um aumento na liberdade e na confiança à medida que envelhecem, com a possibilidade de redescobrir paixões e interesses pessoais. A experiência e a sabedoria acumuladas ao longo dos anos podem ser vistas como recursos valiosos, permitindo que essas mulheres contribuam de forma significativa para a sociedade, oferecendo exemplo pessoal para as gerações mais jovens e desafiando estereótipos sobre a velhice.
O papel da mulher na sociedade hoje é multifacetado, e a busca por igualdade de direitos continua. As discussões sobre como as mulheres podem ser mais valorizadas em todas as fases da vida são essenciais para promover uma sociedade mais justa e equitativa.
Exemplo filosófico: Simone de Beauvoir, em sua obra O Segundo Sexo, oferece uma análise profunda sobre a condição das mulheres na sociedade. Ela argumenta que as mulheres historicamente foram vistas como o ‘Outro’ em relação ao homem, sendo definidas em termos de sua relação com eles, em vez de serem reconhecidas como indivíduos autônomos. Simone de Beauvoir discute como a educação e a cultura moldam as expectativas sobre o que significa ser mulher, e ela defende a importância da liberdade e da escolha. Sua filosofia enfatiza que as mulheres devem se libertar das amarras sociais e lutar pela sua autonomia e identidade, o que ressoa profundamente nas questões contemporâneas sobre envelhecimento e o papel da mulher na sociedade. Essas reflexões podem levar a um diálogo enriquecedor sobre o papel da mulher, tanto na história quanto na sociedade atual, permitindo que as participantes compartilhem suas experiências e visões sobre o futuro.
2.1.7 Solidão e Conexões na Velhice
Pergunta-guia: Qual é o papel das conexões humanas em nossa vida? Como lidar com a solidão à medida que envelhecemos? Qual a importância da amizade no envelhecimento? Como as amizades moldam nossa vida nessas fases? Quais valores têm sido fundamentais ao longo de nossa vida, e como eles mudaram com o tempo?
Discussão: As conexões humanas são fundamentais para a nossa saúde emocional e mental, especialmente na velhice. A solidão pode se tornar um desafio significativo, à medida que mudanças de vida, como a aposentadoria, a perda de entes queridos e a diminuição da mobilidade, podem levar ao isolamento. Neste contexto, a amizade e os laços familiares se tornam ainda mais importantes, fornecendo apoio emocional e um senso de pertencimento.
A amizade, muitas vezes, pode servir como um substituto ou complemento aos laços familiares, oferecendo compreensão, empatia e uma sensação de comunidade. À medida que envelhecemos, as amizades tendem a evoluir, com algumas se fortalecendo e outras se dissipando. A reflexão sobre os valores que sustentaram essas conexões ao longo da vida — como lealdade, respeito e amor — pode trazer insights sobre o que realmente importa nas relações humanas.
A construção e a manutenção de conexões sociais são essenciais para combater a solidão. Participar de grupos comunitários, clubes ou atividades sociais pode ser uma forma eficaz de manter-se conectado e ativo. Além disso, a amizade na velhice pode se manifestar de maneiras únicas, trazendo alegria e um novo senso de propósito, ao mesmo tempo em que cria um espaço para o compartilhamento de experiências e histórias de vida.
Exemplo filosófico: Aristóteles, em sua obra Ética a Nicômaco, discute a amizade como uma das virtudes mais importantes para a vida feliz. Ele classifica a amizade em três tipos: a amizade baseada na utilidade, a amizade prazerosa e a amizade baseada na virtude, sendo esta última a mais elevada, pois se fundamenta em um respeito mútuo e em valores compartilhados. A reflexão sobre a solidão também pode ser enriquecida por pensadores existencialistas, como Martin Heidegger, que analisa a solidão como parte integrante da condição humana, levando a uma compreensão mais profunda da própria existência.
2.1.8 A Felicidade: O Que é a Felicidade?
Pergunta-guia: O que é felicidade? É algo que podemos alcançar ou é uma jornada contínua? É possível manter a felicidade ao longo de todas as fases da vida? Como as experiências e as relações humanas moldam nossa felicidade?
Discussão: O conceito de felicidade é multifacetado e evolui ao longo das diferentes fases da vida. Para muitas pessoas, a juventude é frequentemente associada a uma busca intensa pela felicidade, frequentemente ligada a conquistas e novas experiências. No entanto, na velhice, a definição de felicidade pode se transformar, muitas vezes se centrando na gratidão, na serenidade e na aceitação do que foi vivido.
Discutir a felicidade implica também explorar como as relações humanas e as experiências vividas influenciam nossa percepção de felicidade. A capacidade de cultivar a felicidade em todas as idades, mesmo diante de desafios, é uma reflexão importante. Questões como a capacidade de encontrar alegria nas pequenas coisas, a resiliência diante das adversidades e a importância das conexões sociais são elementos essenciais para uma vida feliz.
É crucial reconhecer que a felicidade pode ser cultivada através de práticas de gratidão, aceitação e autocompaixão. A sabedoria adquirida ao longo da vida pode proporcionar um novo entendimento do que significa ser feliz, enfatizando que felicidade não é um estado constante, mas sim uma série de momentos que podem ser apreciados e vividos plenamente.
Exemplo filosófico: Epicuro sugere que a felicidade é
encontrada na busca de prazeres simples e na ausência de sofrimento. Sua
filosofia propõe que, ao focar nas pequenas alegrias da vida e evitar o
excessivo desejo por bens materiais, podemos alcançar uma vida mais plena. Além
disso, a filosofia estoica, representada por pensadores como Sêneca e Marco
Aurélio, enfatiza a importância de ter controle sobre nossas reações emocionais
e de aceitar serenamente as circunstâncias da vida como chave para a verdadeira
felicidade.
2.2 Palestras do Programa ‘Café com a Morte’
2.2.1. A Morte e a Finitude
Pergunta-guia: Como a morte e a finitude moldam nossa visão da vida? Como lidar com a ideia de que a morte é inevitável? O que dá significado à vida quando pensamos na morte? Como podemos encontrar sentido sabendo que a vida é finita?
Discussão: A reflexão sobre a morte e a finitude pode ser uma fonte profunda de significado e clareza na vida. À medida que envelhecemos, a consciência da morte se torna mais presente, e esse reconhecimento pode nos levar a uma valorização maior dos momentos vividos e das experiências compartilhadas. Aceitar a morte como parte natural da existência pode nos ajudar a viver de forma mais plena, aproveitando cada momento e buscando conexões significativas com os outros.
Discutir como a finitude nos convida a refletir sobre o legado que deixamos, as contribuições que fizemos e o impacto que tivemos na vida das pessoas ao nosso redor. Essa reflexão pode abrir espaço para conversas sobre o que realmente importa e como podemos viver de maneira autêntica e significativa, mesmo diante da inevitabilidade da morte.
A aceitação da morte pode ser um passo crucial para a paz interior, permitindo que as pessoas concentrem sua atenção no presente e em como desejam passar seus dias. Considerar o que dá sentido à vida e como as experiências e relações moldam essa busca é essencial para encontrar significado, mesmo nas fases finais da vida.
Exemplo filosófico: Martin Heidegger, em Ser e Tempo, discute a consciência da morte como essencial para viver uma vida autêntica, destacando que a compreensão da própria finitude nos impulsiona a buscar um propósito verdadeiro. Viktor Frankl, em Em Busca de Sentido, argumenta que a busca de significado é uma das motivações mais profundas do ser humano, mesmo diante do sofrimento e da finitude. Ele enfatiza que encontrar sentido nas experiências de vida, mesmo as dolorosas, pode nos proporcionar uma força interna para enfrentar as adversidades.
2.2.2 A Morte e morte metafórica a partir da produção artística
Pergunta-guia: Como a morte, literal e simbólica, é retratada na arte e na literatura? De que forma a morte metafórica pode representar transformações, encerramentos de ciclos ou mudanças profundas? Como essas representações artísticas podem nos ajudar a compreender e aceitar as transições inevitáveis da vida?
Discussão: A arte tem sido, ao longo da história, um meio privilegiado para expressar as dimensões mais profundas da experiência humana, incluindo a morte e as suas metáforas. A morte, representada de forma literal ou simbólica, é um tema central em diversas obras clássicas e contemporâneas, permitindo uma exploração mais ampla das questões existenciais, como o fim da vida, o luto, a perda e as transições que marcam as fases da nossa existência.
A morte literal aparece frequentemente nas artes visuais, na literatura e no cinema como um ponto culminante ou uma catástrofe. Obras como Hamlet, de William Shakespeare, retratam a morte como um elemento central na narrativa e como fonte de reflexão filosófica e existencial. Já no cinema, filmes como O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman, exploram a inevitabilidade da morte, muitas vezes personificando-a como uma figura concreta com a qual os personagens interagem.
Por outro lado, a morte metafórica é amplamente utilizada como representação de transformação e renascimento. Nas artes visuais e na literatura, essa morte pode simbolizar o fim de uma fase ou aspecto da vida, permitindo o surgimento de algo novo. Em A Metamorfose, de Franz Kafka, a transformação física do personagem Gregor Samsa pode ser vista como uma metáfora para a morte de sua antiga identidade e o início de um novo, porém trágico, estado de ser. Já no poema Tabacaria, de Fernando Pessoa, o eu-lírico vive uma espécie de morte psicológica, onde a sensação de alienação e vazio existencial leva à dissolução da própria identidade.
A arte é, portanto, um canal poderoso para retratar a morte em suas várias formas, desde o luto pessoal até a mudança de paradigmas e identidades. A morte simbólica também pode ser vista no campo das artes plásticas, como nas obras de Pablo Picasso, cujo período Azul reflete uma visão melancólica e quase fúnebre da condição humana. Obras como Guernica também trazem a morte à tona de forma brutal, como uma denúncia do sofrimento e da destruição causada pela guerra.
Exemplo filosófico: O filósofo Friedrich Nietzsche, em Assim Falou Zaratustra, fala da morte de Deus como uma metáfora para o fim das antigas crenças e valores, abrindo espaço para o surgimento de uma nova visão de mundo. Essa morte simbólica não é apenas um fim, mas um convite à transformação pessoal e cultural. Sigmund Freud, em Luto e Melancolia, explora como o luto e a perda podem ser vistos como uma forma de morte psíquica, que ao ser processada adequadamente, pode resultar em renovação.
Nesse sentido, esse tema abrange os aspectos principais de como a morte e a morte metafórica são abordadas na arte e na produção simbólica, conectando o tema a exemplos literários e filosóficos relevantes.
2.2.3 A morte na ciência
Pergunta-guia: O que acontece biologicamente com o corpo após a morte? Quais são os avanços científicos que desafiam os limites da vida? Como a medicina equilibra o prolongamento da vida e o direito de morrer com dignidade?
Discussão: Na biologia, a morte é um processo natural e inevitável para todos os organismos vivos. O corpo humano, após a morte, passa por uma série de mudanças conhecidas como rigor mortis, livor mortis e algor mortis, que envolvem a rigidez dos músculos, o acúmulo de sangue em áreas mais baixas do corpo e o resfriamento corporal. Após esses processos, a decomposição começa, e o corpo é gradualmente decomposto por bactérias e outros micro-organismos. Esse ciclo biológico, que termina com a decomposição, é essencial para a reciclagem de nutrientes na natureza, mostrando como a morte também alimenta a vida nos ecossistemas.
Os avanços científicos têm desafiado os limites da morte. Criogenia, a prática de preservar corpos ou cérebros em temperaturas extremamente baixas na esperança de ressuscitá-los no futuro, é um campo que busca estender a vida além do que a biologia natural permite. Embora ainda controversa e sem sucesso comprovado, a criogenia levanta questões filosóficas e éticas sobre o que realmente significa estar vivo e quando a morte é definitiva. Além disso, a pesquisa sobre a extensão da vida, como intervenções genéticas e medicamentos que retardam o envelhecimento, continua a evoluir, questionando a fronteira entre vida prolongada e a eventualidade da morte.
Na medicina, o debate entre o prolongamento da vida e o direito de morrer com dignidade é um dos mais complexos e sensíveis. Com o avanço das tecnologias médicas, tornou-se possível prolongar a vida em estágios que antes resultariam em morte certa. No entanto, isso levanta questões éticas sobre a qualidade de vida versus a quantidade de vida. Cuidados paliativos surgiram como uma resposta médica focada em melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças terminais, oferecendo alívio da dor e suporte emocional, sem a intenção de prolongar indefinidamente o processo de morte.
A eutanásia e o suicídio assistido são exemplos de práticas que refletem o debate sobre o direito de morrer com dignidade. Em muitos países, a eutanásia é ilegal ou fortemente regulada, enquanto outros permitem que pacientes terminais escolham quando e como desejam morrer. Este dilema envolve questões profundas sobre a autonomia individual, o valor da vida e os limites da intervenção médica. A ética médica também questiona o papel dos médicos em prolongar a vida a qualquer custo, ou em respeitar os desejos do paciente de evitar tratamentos fúteis e morrer com dignidade.
Exemplo científico: O neurocientista David Eagleman, em seu livro Sum: Forty Tales from the Afterlives, explora as possibilidades da mente e da consciência após a morte, considerando não apenas os aspectos biológicos, mas também as implicações éticas e filosóficas dos avanços tecnológicos.
Exemplo filosófico: Hans Jonas, em sua obra O Princípio Responsabilidade, aborda a responsabilidade da ciência em relação à vida e à morte, discutindo os limites da intervenção humana no prolongamento artificial da vida e o impacto das decisões éticas sobre o futuro da humanidade.
Esse tema, pois, explora os aspectos biológicos da morte e as implicações éticas e tecnológicas da medicina, conectando-os à ciência e à filosofia.
2.2.4 A Morte e a Política
Pergunta-guia: Quais são os dilemas éticos e políticos em torno da pena de morte? Como a morte foi usada como ferramenta de poder e controle em genocídios e mortes coletivas na história?
Discussão: A pena de morte é um dos tópicos mais polarizadores no cenário político global, envolvendo questões éticas, morais e legais. Defensores da pena de morte argumentam que ela serve como um poderoso dissuasor contra crimes graves, como homicídios, além de garantir a punição de criminosos que cometeram atos hediondos. Para essas pessoas, a pena capital é vista como uma forma de fazer justiça às vítimas e à sociedade. Países como os Estados Unidos, China e Irã ainda mantêm a prática da pena de morte, muitas vezes como parte de seu sistema judicial em casos de crimes considerados de extrema gravidade.
Por outro lado, os críticos da pena de morte argumentam que ela viola os direitos humanos fundamentais, particularmente o direito à vida. Além disso, a possibilidade de erro judicial – e, consequentemente, a execução de inocentes – torna o uso da pena capital uma prática extremamente controversa. Organizações internacionais, como a Anistia Internacional, têm se posicionado fortemente contra a pena de morte, e muitos países, como os da União Europeia e o Canadá, baniram completamente essa prática. A ideia de que o Estado pode tirar a vida de uma pessoa também levanta questões sobre o poder que as instituições políticas têm sobre a vida dos indivíduos, e se tal poder pode ser legitimamente exercido.
Além da pena de morte, a política da morte também se manifesta em genocídios e mortes coletivas. Episódios históricos como o Holocausto, perpetrado pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial, e os genocídios em Ruanda e no Darfur, são exemplos devastadores de como a morte foi usada como ferramenta política para consolidar o poder e eliminar grupos étnicos ou culturais considerados ‘indesejáveis’. O genocídio é mais do que um ato de extermínio em massa; é um projeto político que visa destruir as bases culturais, étnicas ou religiosas de uma sociedade.
Esses eventos não ocorrem isoladamente, mas são frequentemente facilitados por narrativas políticas que desumanizam certos grupos, retratando-os como inimigos do Estado ou ameaças à ordem pública. O genocídio também levanta questões sobre a responsabilidade internacional. A inação das grandes potências mundiais diante de genocídios, como no caso de Ruanda, reflete a complexidade da intervenção política e militar em crises humanitárias, onde o custo de agir – ou de não agir – pode ser a vida de milhares de pessoas.
A morte coletiva, portanto, muitas vezes resulta de uma combinação entre poder político, controle social e a construção de narrativas ideológicas. Em muitas sociedades, a manipulação do medo da morte é usada como uma ferramenta para justificar guerras, repressões e outras formas de violência em larga escala.
Exemplo histórico: O Holocausto, durante a Segunda Guerra Mundial, é um dos episódios mais amplamente estudados de genocídio, onde cerca de 6 milhões de judeus foram sistematicamente exterminados pelos nazistas. Da mesma forma, o genocídio de Ruanda em 1994 resultou na morte de cerca de 800.000 tutsis e hutus moderados em apenas 100 dias, um dos genocídios mais rápidos e brutais da história moderna.
Exemplo filosófico: Hannah Arendt, em sua obra As Origens do Totalitarismo, explora como regimes totalitários, como o nazismo, utilizam a morte como um instrumento político, em que o extermínio em massa se torna uma extensão da lógica de controle absoluto sobre a população. Arendt também discute o conceito de ‘banalidade do mal’, referindo-se à forma como pessoas comuns podem ser envolvidas em atos de genocídio sem uma profunda reflexão moral.
Esse tema reflete o debate em torno da pena de morte e as implicações políticas da morte coletiva em genocídios, conectando-as com contextos históricos e filosóficos.
2.2.5 A Morte e a Religião
Pergunta-guia: Como diferentes religiões concebem a vida após a morte? Qual o papel dos rituais fúnebres nas culturas religiosas para lidar com a morte e o luto?
Discussão: A morte é uma questão central em muitas religiões, que oferecem diferentes visões sobre o que acontece após o fim da vida terrena. Essas perspectivas moldam a maneira como os adeptos vivem suas vidas e enfrentam a ideia da finitude. A vida após a morte é vista de maneira diversa nas religiões do mundo:
Na cristandade, o conceito de vida após a morte é marcado pela crença na ressurreição e na eternidade, com a promessa de vida eterna no céu para os justos e a condenação para os ímpios no inferno. Para os cristãos, a morte não é o fim, mas a transição para um destino eterno, influenciado pelas ações morais e pela fé em vida.
No budismo, a morte é parte do ciclo contínuo de nascimento, morte e renascimento (samsara). A vida após a morte depende do carma acumulado ao longo das vidas anteriores, e o objetivo final é alcançar o nirvana, escapando desse ciclo de sofrimento e impermanência. Não há um ‘paraíso’ ou ‘inferno’ no sentido tradicional, mas uma busca pelo despertar e pela libertação.
A visão hindu compartilha com o budismo a crença no renascimento, em que a alma (atman) passa por ciclos de reencarnação até atingir a moksha, a libertação do ciclo de samsara. Dependendo das ações em vida (dharma), a alma pode ascender a uma forma de existência superior ou inferior na próxima vida.
No islamismo, a vida após a morte também desempenha um papel crucial. Os muçulmanos acreditam que, após a morte, haverá um dia do julgamento (Yawm al-Qiyamah), onde as almas serão recompensadas ou punidas com base em suas ações. O paraíso (Jannah) aguarda os justos, enquanto o inferno (Jahannam) é o destino dos ímpios.
Outras tradições espirituais, como as religiões indígenas e animistas, têm visões mais centradas na continuidade da alma no mundo natural ou no reencontro com os ancestrais após a morte.
Os rituais fúnebres têm um papel importante em muitas culturas e religiões, proporcionando uma maneira de lidar com a perda e de oferecer uma passagem simbólica para a vida após a morte. Esses rituais ajudam os vivos a encontrar sentido na morte e a processar o luto. Em muitas tradições, os rituais são vistos como formas de ajudar a alma do falecido a fazer a transição para o além.
No cristianismo, os funerais são cerimônias para honrar a vida da pessoa falecida e reafirmar a esperança na ressurreição. As missas de corpo presente e as orações pelos mortos, como o réquiem, são formas de pedir a Deus pela alma da pessoa e dar conforto aos enlutados.
No budismo e no hinduísmo, os rituais fúnebres frequentemente incluem cremações como uma maneira de ajudar a alma a se libertar do corpo físico e seguir para a próxima reencarnação. No hinduísmo, há também a prática de espalhar as cinzas no rio Ganges, considerado sagrado, como uma forma de purificação.
No islamismo, o funeral islâmico (janazah) é um processo simples, em que o corpo é lavado, envolto em um tecido branco e enterrado o mais rápido possível, com orações para que a alma encontre paz no além.
Em muitas culturas indígenas, a morte é tratada como um ritual de passagem, onde a alma do falecido pode continuar a existir em uma forma espiritual ou se tornar parte da natureza, mantendo uma relação de interdependência com os vivos.
Os rituais fúnebres também servem como momentos de transcendência, onde os enlutados se conectam com o sagrado e buscam compreender o mistério da morte. Esses rituais dão às pessoas uma estrutura simbólica para lidar com a perda e encontrar paz, mesmo diante da dor do luto.
Exemplo filosófico: O teólogo Paul Tillich, em A Coragem de Ser, explora a morte como uma fonte de angústia existencial, mas também como uma oportunidade para se conectar com o sagrado e encontrar sentido. Ele sugere que, em vez de negar a morte, podemos enfrentá-la com coragem, apoiados pelas tradições religiosas que nos ajudam a dar sentido ao que está além da vida.
Exemplo religioso: No Tibete, o Livro Tibetano dos Mortos é uma das obras mais famosas sobre a vida após a morte. Ele descreve os estágios pelos quais a consciência passa após a morte, oferecendo uma visão detalhada de como a alma pode alcançar a libertação ou renascer.
Esse tema se dedica a refletir como a morte e a vida após a morte são abordadas em diferentes religiões, enfatizando o papel dos rituais fúnebres e o conceito de transcendência.
2.2.6 Morte, Arte e Música
Pergunta-guia: Como a morte é retratada na arte e na música? De que maneiras as expressões artísticas nos ajudam a lidar com a finitude? O que a morte nos revela sobre a condição humana quando explorada através dessas formas de expressão?
Discussão: A morte tem sido um tema recorrente nas artes visuais e na música ao longo da história, frequentemente abordada como uma maneira de lidar com a finitude e encontrar significado na transitoriedade da vida. A arte e a música são veículos poderosos para expressar emoções complexas em torno da morte, como dor, perda, aceitação e transcendência. Ao retratar a morte, os artistas e músicos refletem sobre a condição humana, explorando o medo, a beleza e a inevitabilidade do fim.
Na arte, a morte é um tema central que aparece em várias formas, como pinturas, esculturas e instalações. A partir da Idade Média, obras como as danças macabras e as naturezas-mortas (vanitas) serviam para lembrar as pessoas da transitoriedade da vida e da proximidade da morte. Essas obras, com símbolos como caveiras, velas apagadas e ampulhetas, convidavam o espectador a refletir sobre a morte e a brevidade da vida.
O pintor Hans Holbein, em suas gravuras da Dança Macabra, exemplifica como a morte não discrimina entre ricos e pobres, poderosos e humildes, trazendo todos ao mesmo destino.
Na pintura A Morte de Marat, de Jacques-Louis David, o martírio do revolucionário francês é retratado de forma dramática, simbolizando como a morte pode ser politizada e heroificada na arte.
Já no período moderno, artistas como Frida Kahlo abordam a morte de maneira introspectiva, conectando-a a temas pessoais de dor e sofrimento. Suas obras, como A Árvore da Esperança, expressam a relação íntima com a mortalidade e a fragilidade do corpo.
No campo da música, a morte também é uma das grandes inspirações. Composições como os Réquiens de Mozart e Fauré são exemplos profundos de como a música pode ser usada para refletir sobre a morte, seja de maneira religiosa ou espiritual, seja como um lamento.
O Réquiem de Mozart, inacabado, carrega uma mistura de grandeza e solenidade, expressando tanto o medo quanto a aceitação da morte.
O Réquiem de Fauré, por outro lado, é mais sereno, com tons de paz e aceitação, oferecendo consolo em vez de desespero.
Outros gêneros musicais também abordam o tema da morte de maneiras únicas:
No rock e no heavy metal, a morte muitas vezes é retratada com rebeldia, desafiando convenções e tabus culturais sobre a mortalidade. Canções como The End, dos The Doors e Death, de Black Sabbath falam diretamente sobre a morte e o ciclo de vida.
Na música popular brasileira, compositores como Chico Buarque exploram a morte metaforicamente, como em sua canção Funeral de um Lavrador, que lida com a injustiça social e a morte de pessoas comuns em um contexto poético e político. O que dizer então da música que, para muitos, é a maior produção da história da música popular brasileira, Construção, em que um operário morre “na contramão atrapalhando o tráfego”.
A morte simbólica também é explorada através da arte e da música, quando o conceito vai além da morte física e aborda transformações e renascimentos pessoais. Músicas e obras que falam de transições na vida — como o fim de uma era ou a transformação de uma identidade — também se encaixam nessa ideia de morte como um processo contínuo de mudança.
Exemplo filosófico: O filósofo Friedrich Nietzsche, em Assim Falou Zaratustra, reflete sobre a morte como um processo de superação e transformação pessoal. Para Nietzsche, a morte simbólica é essencial para a criação de um novo ser humano, o Übermensch, que transcende as limitações impostas pela existência comum. A arte e a música, nesse sentido, podem ser ferramentas poderosas para expressar e catalisar essas transformações.
Exemplo artístico: As obras de Damien Hirst, como For the Love of God, que apresenta um crânio humano coberto de diamantes, exploram a obsessão contemporânea com a mortalidade e a busca pela imortalidade através da arte e do luxo. A morte, em suas obras, é ao mesmo tempo aterrorizante e fascinante, questionando nossos valores culturais em relação à vida e ao legado.
Esse tema, por sua vez, explora como a morte é expressa nas formas artísticas e musicais, destacando a importância da arte como uma ferramenta para entender e processar a mortalidade humana.
2.2.7 A Morte e o Direito
Pergunta-guia: Quais são os direitos relacionados à morte e ao luto? Como as diferentes culturas e sistemas legais tratam questões como eutanásia e suicídio assistido? Quem tem o direito de decidir sobre o fim da vida?
Discussão: O direito à morte e ao luto são questões que atravessam tanto o campo jurídico quanto o ético, trazendo à tona dilemas profundos sobre o valor da vida, a autonomia individual e o papel do Estado em regulamentar esses aspectos. Muitas legislações ao redor do mundo reconhecem o impacto do luto e proporcionam algumas garantias legais aos enlutados, como o direito a licenças trabalhistas e assistência para funerais, mas as normas variam amplamente entre os países e até mesmo dentro de diferentes regiões de um mesmo país.
No que tange ao direito ao luto, muitos sistemas jurídicos oferecem licenças trabalhistas para aqueles que perderam um ente querido. Essas licenças variam em duração e nos critérios para quem pode acessá-las. Em alguns países, políticas públicas também garantem assistência funerária, especialmente para famílias de baixa renda, reconhecendo a importância de rituais de despedida para o processo de luto.
Além disso, o papel do Estado na regulação das políticas públicas de suporte ao luto tem crescido, refletindo uma compreensão mais ampla da saúde mental e da necessidade de apoio emocional para os enlutados. As leis que amparam o direito ao luto reconhecem o impacto psicológico profundo que a morte pode ter, e muitos governos têm se esforçado para criar redes de apoio mais acessíveis.
A questão do suicídio assistido e da eutanásia envolve debates éticos e legais que tocam o direito à autonomia e à dignidade no final da vida. Em várias jurisdições, esses procedimentos são proibidos, sendo considerados uma violação ao direito à vida, enquanto em outros, como em países europeus como Holanda, Bélgica e Suíça, a eutanásia e o suicídio assistido são permitidos em circunstâncias específicas e rigidamente regulamentadas.
A eutanásia pode ser ativa, quando um médico diretamente administra substâncias letais, ou passiva, quando tratamentos vitais são interrompidos. Em ambos os casos, o princípio da morte digna se baseia na ideia de que prolongar o sofrimento, em alguns contextos, pode ser mais prejudicial do que abreviar a vida de alguém que está em condição terminal ou sem perspectiva de cura.
O suicídio assistido, por sua vez, ocorre quando o próprio paciente administra a substância letal, sendo assistido por profissionais médicos. Esse procedimento é legal em algumas regiões dos Estados Unidos, como em estados como Oregon, Washington e Califórnia, nos quais existem leis de ‘morte assistida’.
Esses dilemas tocam na questão central: quem tem o direito de decidir sobre o fim da vida?. O debate sobre eutanásia e suicídio assistido geralmente envolve dois princípios concorrentes: a autonomia individual, que defende que os indivíduos devem ter o direito de escolher como e quando querem morrer, e o valor intrínseco da vida, que argumenta que a vida humana deve ser preservada a todo custo, independentemente das circunstâncias.
Questões culturais também desempenham um papel importante nessas discussões. Em sociedades onde a vida é vista como sagrada ou sob a proteção de princípios religiosos, como em muitos países de maioria cristã ou islâmica, a eutanásia é fortemente rejeitada. Em contrapartida, em culturas mais seculares ou em que a autonomia individual é altamente valorizada, como em partes da Europa ocidental, a eutanásia pode ser vista como uma escolha legítima.
Exemplo jurídico: Na Suíça, o suicídio assistido é legal, mas com várias restrições. Associações como a Dignitas ajudam pessoas, muitas vezes estrangeiras, a encerrar suas vidas sob supervisão médica, o que levanta debates internacionais sobre o ‘turismo da morte’ e os dilemas éticos envolvidos na regulamentação de tais práticas. O caso suíço é um exemplo de como um país pode estruturar um sistema legal em torno de escolhas de fim de vida, proporcionando alternativas para aqueles que buscam uma morte digna.
Exemplo filosófico: O filósofo britânico John Stuart Mill, em sua obra Sobre a Liberdade, argumenta que os indivíduos devem ter soberania sobre seu próprio corpo e mente, desde que suas ações não prejudiquem os outros. Essa visão liberal de autonomia pessoal muitas vezes é usada como base para justificar o direito ao suicídio assistido e à eutanásia, especialmente em casos de sofrimento extremo.
A complexidade do tema envolve tanto a proteção à vida quanto o respeito à autonomia pessoal, exigindo uma ponderação cuidadosa entre valores éticos, direitos individuais e a intervenção do Estado.
Esse tema explora como o direito e as políticas públicas lidam com questões ligadas ao luto, à eutanásia e ao suicídio assistido, refletindo sobre os dilemas éticos e culturais envolvidos nessas discussões.
2.2.8 A Morte e o Cotidiano
Pergunta-guia: O que acontece com nossa identidade digital após a morte? Como a sociedade contemporânea lida com a morte no contexto do envelhecimento e da cultura digital?
Discussão: No mundo atual, em que grande parte de nossas interações ocorrem em ambientes digitais, a morte no contexto virtual abre novas questões sobre o que significa ‘morrer’. A presença digital de uma pessoa, composta por perfis em redes sociais, contas de e-mail, blogs e outras plataformas, continua a existir após sua morte. Isso levanta questões sobre quem tem o direito de gerenciar essas contas e o que acontece com esse legado digital.
Plataformas como o Facebook e o Instagram já oferecem a possibilidade de transformar perfis de usuários falecidos em ‘memoriais’, permitindo que amigos e familiares deixem homenagens e preservem suas memórias virtuais. Porém, isso também levanta dilemas sobre o direito à privacidade e o controle dos dados digitais de uma pessoa após sua morte. Muitos países ainda estão ajustando suas leis para lidar com a herança digital, criando políticas sobre o acesso a contas e dados pessoais por familiares ou representantes legais.
O legado digital é, portanto, uma extensão da nossa vida em uma era cada vez mais conectada, e debater o que será feito dos nossos dados digitais após nossa partida torna-se crucial. Além disso, é relevante refletir sobre como a morte virtual impacta aqueles que ficam: a possibilidade de interagir com perfis digitais de pessoas falecidas pode tanto ajudar no processo de luto quanto causar mais sofrimento, prolongando a sensação de presença do falecido de uma maneira difícil de processar emocionalmente.
Outra questão importante sobre a morte no cotidiano envolve a maneira como a sociedade contemporânea, especialmente nas culturas ocidentais, encara o envelhecimento e sua proximidade com a morte. Existe uma pressão social intensa, alimentada por padrões de beleza e consumo, para evitar os sinais de envelhecimento a qualquer custo, fenômeno conhecido como ageísmo. Esse preconceito contra os idosos e o envelhecimento é evidente em diversas esferas da sociedade, como o mercado de trabalho, a mídia e a moda, onde a juventude é frequentemente glorificada como sinônimo de valor e vitalidade.
À medida que as pessoas envelhecem, a proximidade da morte se torna mais palpável. No entanto, em vez de encarar essa realidade com aceitação e sabedoria, muitas vezes há um esforço coletivo para negá-la ou adiá-la, através de intervenções médicas, cosméticas e até tecnológicas. Isso pode resultar em uma cultura que valoriza excessivamente a juventude e minimiza a importância do processo natural de envelhecimento e morte. A pressão para permanecer jovem pode dificultar a aceitação da morte como parte do ciclo natural da vida, gerando frustração, ansiedade e até marginalização daqueles que são vistos como ‘velhos’.
Morte e o envelhecimento são, portanto, aspectos do cotidiano que nos forçam a refletir sobre como a cultura ocidental, obcecada com a juventude e a longevidade, negligencia o papel da sabedoria e da aceitação que podem vir com o envelhecimento. Em vez de temer a morte e o processo de envelhecer, talvez seja mais saudável encarar ambos como oportunidades para refletir sobre o significado da vida e sobre como podemos viver de maneira mais plena, abraçando cada etapa da existência.
Exemplo filosófico: O filósofo francês Jean Baudrillard, em sua obra A Transparência do Mal, fala sobre como a virtualidade e a digitalização da vida mudam nossa relação com a morte. O mundo digital nos confunde, prolongando a presença dos mortos de uma maneira que não é mais física, mas simbólica, desafiando a separação clara entre vida e morte que tínhamos anteriormente.
Exemplo cultural: Na cultura ocidental contemporânea, a indústria de cosméticos e antienvelhecimento exemplifica a pressão para evitar sinais visíveis de envelhecimento e, por extensão, da morte. Isso reflete uma sociedade que teme o envelhecimento e não aceita a finitude da vida de forma natural. Por outro lado, em culturas orientais, como no Japão, o envelhecimento é visto como um sinal de sabedoria e respeitabilidade, e a morte é entendida como parte do ciclo de vida, integrada com rituais significativos de transição.
Esse tema, portanto, aborda como a presença digital após a morte e as pressões da sociedade para evitar sinais de envelhecimento impactam nossa relação com a morte no cotidiano, explorando tanto o contexto virtual quanto o cultural.
2.2.9 Morte e Ecologia
Pergunta-guia: Qual é o papel da morte nos ciclos ecológicos? Como a destruição ambiental e as mudanças climáticas afetam nossa percepção da morte em escala planetária?
Discussão: No contexto da ecologia, a morte é vista como uma parte essencial e inevitável dos ciclos de vida na natureza. Sem a morte, o equilíbrio ecológico seria impossível, já que a decomposição e a compostagem são processos cruciais que permitem a reciclagem de nutrientes nos ecossistemas. O que morre se transforma em fonte de vida para novos organismos, alimentando plantas, micro-organismos e outros seres vivos. A morte natural é, portanto, um fator de renovação e sustentabilidade nos sistemas biológicos, sendo um elo vital para o funcionamento dos ecossistemas.
A compostagem, por exemplo, ilustra o ciclo natural da vida e morte. Restos de plantas e alimentos, quando decompostos, voltam à terra em forma de nutrientes, enriquecendo o solo e promovendo o crescimento de novas plantas. Esse processo de reciclagem biológica ressalta que a morte é um momento de transição e continuidade, não o fim definitivo, dentro dos ecossistemas naturais.
Por outro lado, a ideia da morte do planeta levanta uma discussão sombria sobre o estado atual da crise ambiental e a forma como a humanidade tem contribuído para a destruição dos ecossistemas. A morte da natureza, provocada por fatores como o desmatamento, a poluição e as mudanças climáticas, ameaça a sobrevivência de inúmeras espécies e altera drasticamente o equilíbrio ecológico. As extinções em massa que estão ocorrendo atualmente, muitas vezes atribuídas à ação humana, são comparáveis a catástrofes naturais de eras geológicas passadas, mas agora são amplamente causadas por atividades industriais e de consumo humano.
A morte do meio ambiente impacta diretamente a vida humana, uma vez que dependemos dos ecossistemas para obter água, alimentos, ar limpo e outros recursos essenciais. À medida que os ecossistemas colapsam, a sobrevivência de várias espécies, incluindo a nossa, fica em risco. O aumento das temperaturas globais, o derretimento das calotas polares e a acidificação dos oceanos são exemplos de como o planeta está morrendo em um sentido ecológico, ameaçando não apenas as gerações futuras, mas também as populações mais vulneráveis no presente.
Esse cenário levanta a questão de como podemos viver de maneira sustentável, respeitando os ciclos de vida e morte da natureza. O combate às mudanças climáticas e a preservação do meio ambiente são esforços que buscam restaurar o equilíbrio natural e evitar a extinção de espécies, a degradação dos solos e a perda de biodiversidade. No entanto, a luta contra a morte ecológica exige uma transformação radical em nossa forma de pensar e agir em relação ao planeta, priorizando a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental sobre o consumo excessivo e a exploração desenfreada de recursos.
Exemplo filosófico: O filósofo francês Michel Serres, em sua obra O Contrato Natural, discute a ideia de que o ser humano deve estabelecer um contrato de respeito com a natureza, reconhecendo que a morte ecológica é também a nossa morte. Ele argumenta que, ao destruir o meio ambiente, estamos, na verdade, comprometendo nossa própria existência, uma vez que fazemos parte desse ciclo natural.
Exemplo científico: O conceito de Antropoceno, uma era geológica marcada pelo impacto humano no planeta, é frequentemente discutido no contexto das mudanças climáticas e das extinções em massa. Cientistas como Paul Crutzen argumentam que a humanidade se tornou uma força geológica significativa, capaz de alterar o curso da vida na Terra. O Antropoceno é uma época que evidencia como a morte do meio ambiente pode levar à morte de muitas formas de vida, incluindo a nossa.
Exemplo cultural: Documentários como Uma verdade inconveniente (2006) e O Dilema das Redes (2020) ilustram o impacto da degradação ambiental e das mudanças climáticas sobre a vida no planeta. Esses filmes provocam reflexões sobre como nossas ações diárias contribuem para a morte do planeta e o que podemos fazer para reverter esse curso.
Esse tema aborda tanto a morte natural e regenerativa nos ciclos ecológicos quanto a morte destrutiva provocada pela crise ambiental, explorando como essas formas de morte impactam a vida humana e nossa responsabilidade no processo.
2.3 Considerações finais
Em todas essas modalidades, o trabalho pode desencadear interações entre os participantes, com momentos de reflexão, debate ou até arte colaborativa, dependendo da natureza do evento. Cada um deles pode ajudar a explorar a morte em suas diferentes manifestações e contextos, promovendo uma discussão profunda e diversa.
3. A dinâmica dos encontros
O projeto ‘Café Filosófico’ tem como objetivo promover um espaço de reflexão e diálogo sobre temas relevantes para a vida, especialmente em um contexto que abrange a sabedoria e o envelhecimento. A dinâmica proposta envolve várias etapas que garantem a participação ativa das(os) alunas(os) e a criação de um ambiente acolhedor e enriquecedor.
Escolha do Tema: O processo começa com a seleção de um tema pertinente, que será divulgado junto às alunas e alunos. A escolha do tema deve incentivar a curiosidade e a discussão, refletindo questões que estejam conectadas à experiência humana e ao envelhecimento.
Reuniões de Aprovação: Para assegurar a qualidade e a profundidade da discussão, serão realizadas reuniões com a Dra. Karina, responsável pela supervisão do evento. Nessas reuniões, a pauta será discutida e ajustada conforme necessário, garantindo que os conteúdos abordados sejam relevantes e instigantes.
Preparação do Espaço: A criação de um ambiente físico adequado é fundamental para o sucesso do café filosófico. O espaço deve ser acolhedor, permitindo que os participantes se sintam confortáveis e à vontade para compartilhar suas opiniões.
Recursos Visuais: Embora não seja obrigatório, a utilização de recursos visuais, como imagens, vídeos ou textos curtos, pode enriquecer a apresentação do tema. Esses materiais visuais têm o potencial de introduzir o assunto de forma dinâmica, estimulando a reflexão e a discussão.
Distribuição Espacial: A disposição dos participantes no espaço deve facilitar a conversa para promover uma comunicação mais fluida e garantir que todos tenham a oportunidade de se expressar, contribuindo para um diálogo mais inclusivo.
Diálogo Acolhedor: É essencial cultivar um ambiente onde a diversidade de opiniões seja respeitada e valorizada. A prática do diálogo acolhedor envolve escuta ativa e empatia, permitindo que cada participante se sinta seguro para compartilhar suas perspectivas.
3.1 Atividades Complementares
Para enriquecer a experiência do projeto ‘Café Filosófico’, são propostas algumas atividades complementares:
Divulgação de Textos Motivadores: Para fomentar a reflexão prévia, será feita a divulgação de textos que abordem o tema a ser discutido. Essa leitura prévia permitirá que os participantes cheguem mais preparados e com questionamentos prontos para a discussão.
Associação de Temas: Será explorada a relação entre temas já percorridos ou a percorrer, além da possibilidade de utilizar filmes que dialoguem com os temas abordados. Isso ampliará as referências e as conexões entre as ideias discutidas.
Convidados Esporádicos: Convidar especialistas ou pessoas que tenham experiências relevantes pode enriquecer as discussões, trazendo novas perspectivas e conhecimentos.
3.2 Práticas de Preparação e Retorno (feedback)
A dinâmica do Café Filosófico será continuamente aprimorada por meio das seguintes práticas:
Flexibilização de Conteúdos: Os conteúdos serão adaptados às atividades, às necessidades e aos interesses do grupo. Essa flexibilidade permitirá uma abordagem mais personalizada e engajante.
Avaliação dos Participantes: A coleta de feedback dos participantes após cada encontro será fundamental para avaliar o formato do café filosófico e identificar áreas de melhoria.
Divulgação da Agenda: Para manter todos informados e engajados, a agenda das atividades será divulgada junto às alunas e alunos da UNAI-UFU. Essa transparência ajudará a criar um senso de comunidade e participação ativa no processo.
Com essas diretrizes, espera-se que o projeto ‘Café Filosófico’ se torne um espaço rico de aprendizado e troca de experiências, promovendo a reflexão sobre temas significativos para a vida e o envelhecimento.
4. Para reflexão: Resta quanto tempo?, por Rubem Alves
Gostaria de finalizar o Projeto com um texto reflexivo cujo tema é “Resta quanto tempo?”, de Rubem Alves, uma das crônicas presente no seu livro-coletânea intitulado Pimentas: para provocar um incêndio, não é preciso fogo.
“COMOVO-ME AO RECORDAR-ME DO POEMA do Vinícius “O haver”. É um poema crepuscular. Ele contempla o horizonte avermelhado, volta-se para trás e faz um inventário do que sobrou. Fiquei com vontade de fazer algo parecido, sabendo que não sou Vinícius, não sou poeta, nada sei sobre métrica e rimas. E eu começaria cada parágrafo com a mesma palavra com que ele começou suas estrofes: Resta...
Resta a luz do crepúsculo, essa mistura dilacerante de beleza e tristeza. Antes que ele comece ao fim do dia, o crepúsculo começa na gente. O Miguelim menino já sentia assim: “O tempo não cabia. De manhã já era noite...”. Assim eu me sinto, um ser crepuscular. Um verso de Rilke me conta a verdade sobre a vida: “Quem foi que assim nos fascinou para que tivéssemos um ar de despedida em tudo o que fazemos?”.
Restam os amigos. Quando tudo está perdido, os amigos permanecem. Lembro-me da antiga canção de Carole King “You got a friend”: “Se você está triste, no fundo do abismo e tudo está dando errado, precisando de alguém que o ajude — feche os olhos e pense em mim. Logo logo estarei ao seu lado para iluminar a noite escura. Basta que você chame o meu nome... Você sabe que eu virei correndo pra ver você de novo. Inverno, primavera, verão ou outono, basta chamar que eu estarei ao seu lado. Você tem um amigo...”. Eu tenho muitos amigos que continuam a gostar de mim a despeito de me conhecerem. E tenho também muitos amigos que nunca vi.
Resta a experiência de um tempo que passa cada vez mais depressa. “Tempus Fugit”. “Quando se vê já são seis horas. Quando se vê já é sexta-feira. Quando se vê já é Natal. Quando se vê já terminou o ano. Quando se vê não sabemos por onde andam nossos amigos. Quando se vê já passaram cinquenta anos...” (Mário Quintana)
Resta um amor por nossa Terra, nossa namorada, tão maltratada por pessoas que não a amam. Meu deus mora nas fontes, nos rios, nos mares, nas matas. Mora nos bichos grandes e nos bichos pequenos. Mora no vento, nas nuvens, na chuva. Eu poderia ter sido um jardineiro... Como não fui, tento fazer jardinagem como educador, ensinando às crianças, minhas amigas, o encanto pela natureza.
Resta um Rubem por vezes áspero, com quem luto permanentemente e que, frequentemente, burlando a minha guarda, aflora no meu rosto e nas minhas palavras, machucando aqueles que amo.
Resta uma catedral em ruínas onde outrora moravam meus deuses. Agora ela está vazia. Meus deuses morreram. Suas cinzas, então, voaram ao vento.
Resta, na catedral vazia, a luz dos vitrais coloridos, o silêncio, o repicar dos sinos, o canto gregoriano, a música de Bach, de Beethoven, de Brahms, de Rachmaninoff, de Fauré, de Ravel...
Resta ainda, nos pátios da catedral arruinada, a música do Jobim, do Chico, de Piazzola...
Resta uma pergunta para a qual não tenho resposta. Perguntaram-me se acredito em Deus. Respondi com versos do Chico: “Saudade é o revés do parto. É arrumar o quarto para o filho que já morreu”. Qual é a mãe que mais ama? A que arruma o quarto para o filho que vai voltar ou a que arruma o quarto para o filho que não vai voltar? Sou um construtor de altares. É o meu jeito de arrumar o quarto. Construo meus altares à beira de um abismo escuro e silencioso. Eu os construo com poesia e música. Os fogos que neles acendo iluminam o meu rosto e me aquecem. Mas o abismo permanece escuro e silencioso.
Resta uma criança que mora nesse corpo de velho e procura companheiros para brincar. De que é que a alma tem sede? “De qualquer coisa como tudo que foi a nossa infância. Dos brinquedos mortos, das tias idas. Essas coisas é que são a realidade, embora já morressem. Não há império que valha que por ele se parta uma boneca de criança” (Bernardo Soares ).
Resta um palhaço... Na véspera de minha volta ao Brasil, a jovem ruiva sardenta que havia sido minha aluna entrou na minha sala e me disse: “Sonhei com você. Sonhei que você era um palhaço”. E sorriu. Tenho prazer em fazer os outros rirem com minhas palhacices. O que escrevo, frequentemente, é um espetáculo de circo. Faço malabarismos com palavras. Pois a vida não é um circo?
Resta uma ternura por tudo o que é fraco, do pássaro de asa quebrada ao velho trôpego e surdo. Fui um adolescente fraco e amedrontado. Apanhei sem reagir. Cresceu então dentro de mim uma fera que dorme. Toda vez que vejo uma pessoa humilde e indefesa sendo humilhada por uma pessoa que se julga grande coisa, a fera acorda e ruge. Tenho medo dela.
Resta a minha fidelidade às minhas opiniões que teimo em tornar públicas, o que me tem valido muitas tristezas e sucessivos exílios. Mas sei que minhas opiniões, todas as opiniões, não passam de opiniões. Não são a verdade. Ninguém sabe o que é a verdade. Meu passado está cheio de certezas absolutas que ruíram com os meus deuses. Todas as pessoas que se julgam possuidoras da verdade se tornam inquisidoras. Por isso é preciso tolerância.
Resta uma tristeza de morrer. A vida é tão bonita. Não é medo. É tristeza mesmo. Lembro-me dos versos da Cecília, que sentia a mesma coisa. “E fico a meditar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega. O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas e nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias. De longe o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isso...”
Resta um medo do morrer — aquelas coisas que vêm antes que a morte chegue. Acho que as pessoas deveriam ter o direito de dizer, se quisessem: “É hora de partir...”. E partissem. Se Deus existe e se Deus é bondade, não posso crer que Ele ou Ela nos tenha condenado ao sofrimento, como última frase da nossa sonata. A última frase deve ser bela.
Resta quanto tempo? Não sei. O relógio da vida não tem ponteiros. Só se ouve o tique-taque... Só posso dizer: “Carpe Diem” — colha o dia como um morango vermelho que cresce à beira do abismo. É o que tento fazer.”
5. Referências (em construção)
5.1 Literatura (em construção)
“Memórias de Minhas Putas Tristes”, de Gabriel García Márquez
Este romance curto aborda a vida de um homem idoso que reflete sobre sua solidão, desejo e o que significa envelhecer enquanto experimenta uma nova relação que o transforma.
“A Morte de Ivan Ilitch”, de Liev Tolstói
Tolstói trata da velhice e da morte de forma filosófica, ao narrar a história de Ivan Ilitch, um magistrado que, ao se aproximar da morte, questiona o sentido de sua vida e a superficialidade de suas escolhas.
“O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway
A luta de um pescador idoso contra um peixe gigante simboliza a resiliência, o envelhecimento e a dignidade que vêm com a experiência de vida, mesmo em face da derrota e da morte.
“O Amor nos Tempos do Cólera” de Gabriel García Márquez
Uma história de amor que atravessa décadas, mostrando como o tempo, a idade e o envelhecimento afetam as relações, os desejos e as escolhas dos personagens.
“Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez
Embora o livro seja uma saga familiar, o envelhecimento dos personagens é central à narrativa, destacando a repetição de ciclos e a transformação física e emocional que acompanha o tempo.
“Mrs. Dalloway”, de Virginia Woolf
O romance trata, entre outras questões, da passagem do tempo e do envelhecimento através dos olhos de Clarissa Dalloway, que reflete sobre as escolhas feitas na juventude enquanto lida com a vida na meia-idade.
“Rei Lear”, de William Shakespeare
Uma das peças mais famosas de Shakespeare, “Rei Lear” aborda o envelhecimento, a perda do poder e a loucura que pode surgir na velhice, com o rei Lear enfrentando o declínio de sua saúde mental e física.
“A Casa dos Espíritos”, de Isabel Allende
Através de várias gerações, este romance aborda a passagem do tempo, o envelhecimento e como a velhice molda a memória e a identidade, especialmente na figura da matriarca Clara.
“O Aleph”, de Jorge Luis Borges
A obra de Borges frequentemente toca no envelhecimento e na sabedoria acumulada ao longo da vida. Seus contos filosóficos, como “O Aleph”, desafiam as noções de tempo, memória e o que significa envelhecer com conhecimento.
“Orgulho e Preconceito”, de Jane Austen
A sabedoria nascida da maturidade e do envelhecimento aparece na figura de Mr. Bennet, que, apesar de suas falhas, revela-se um personagem que reflete sobre as dinâmicas familiares e sociais com um humor sagaz.
“Diário de um ano ruim”, de J.M Coetzee
Em Diário de um Ano Ruim, um velho e célebre escritor, no umbral da aflição do mal de Parkinson, sente-se atraído por uma jovem vizinha, de origem filipina, que vive em concubinato com um australiano, de 42 anos de idade, profissional do mercado financeiro.
“As Intermitências da Morte”, de José Saramago
Embora o livro trate da ausência da morte em uma sociedade, há uma reflexão profunda sobre a vida, o envelhecimento e a inevitabilidade do fim, além de discutir a relação da sociedade com a velhice.
“Trem Noturno para Lisboa”, de Pascal Mercier
A história gira em torno de um professor de línguas que, já
em idade avançada, reflete sobre as escolhas da vida e decide embarcar em uma
viagem em busca de novos significados para a sua existência.
“A Velha Casa”, de Lygia Fagundes Telles
Este conto reflete sobre a decadência física e emocional do envelhecimento, explorando memórias, arrependimentos e o peso do tempo na vida de uma mulher idosa.
“A Casa da Madrinha”, de Lygia Bojunga Nunes
Embora seja uma obra voltada para o público infantojuvenil, o livro aborda temas universais, como a passagem do tempo e a relação de gerações, retratando a figura da madrinha idosa como símbolo de sabedoria e acolhimento.
“A Tartaruga de Darwin”, de Juan Mayorga
Esta peça teatral, que também pode ser vista como um texto literário, explora o envelhecimento através da lente de uma tartaruga centenária que vivenciou os principais eventos da história contemporânea, metaforizando a relação entre tempo, memória e sobrevivência.
“A Segunda vida de Missy”, de Beth Morrey
Um retrato emocionante e reflexivo sobre a vida adulta e o envelhecimento, A segunda vida de Missy é uma celebração de como os dias comuns podem ser extraordinários quando estamos cercados de pessoas queridas e do poder de perdoar a si mesmo, em qualquer idade.
“O Diário de um Velho Louco”, de Jun'ichirō Tanizaki
Neste romance, um homem idoso lida com sua decadência física enquanto escreve em seu diário sobre o desejo, a morte e as fantasias que surgem com o envelhecimento.
“A Casa das Belas Adormecidas”, de Yasunari Kawabata
Este romance apresenta um homem idoso que frequenta uma casa onde homens mais velhos passam noites ao lado de jovens adormecidas, sem a possibilidade de tocá-las, levando a uma reflexão sobre desejo, velhice e morte.
“Gilead”, de Marilynne Robinson
Este romance apresenta a história de um pastor idoso que, ciente de sua mortalidade, escreve uma carta para seu jovem filho, refletindo sobre a vida, a fé e a sabedoria adquirida ao longo dos anos.
“The Mountain”, de Elisabeth Bishop
Em “The Mountain”, Elizabeth Bishop apresenta a velhice como uma experiência de profunda alienação — de si mesmo, do ambiente físico e sensorial e do mundo social mais amplo. Essa alienação tem aspectos sensoriais e interiores: a deterioração da visão e da audição, combinada com o que parece ser mobilidade e memória reduzidas, faz com que o falante se sinta isolado do ambiente. Também tem aspectos sociais: em resposta à mudança de condição do falante, ele sente que os outros o ignoram ou o impugnam, o que exacerba sua sensação de solidão. Os poetas abordaram o tema do envelhecimento de uma ampla variedade de perspectivas, às vezes escrevendo do ponto de vista de uma pessoa mais velha falando com uma mais jovem, ou do ponto de vista de uma pessoa mais jovem imaginando sua velhice. Aqui, veremos como alguns outros poetas abordaram o tema do envelhecimento.
“Uma nova chance para o Sr. Doubler”, de Seni Glaister
O sr. Doubler mora sozinho na Mirth Farm, no topo de uma montanha, tendo como única companhia a sra. Millwood, que cuida da sua casa. Não que isso o incomode, ele até prefere a vida isolada dedicada aos seus tubérculos. Plantadas com grande dedicação, as batatas do sr. Doubler são o seu legado, e nada mais lhe importa. No entanto, quando a sra. Millwood fica doente, o mundo como o sr. Doubler conhece desmorona, e ele se vê forçado a uma nova realidade - repleta de estranhos. Agora, de volta ao mundo renegado por ele, será que o sr. Doubler vai encontrar na gentileza de desconhecidos uma nova forma de enxergar a vida?
“Noites Brancas”, de Fiódor Dostoiévski
Embora não trate diretamente da velhice, a obra oferece uma reflexão sobre o tempo e a solidão, temas que ressoam com o envelhecimento e a nostalgia.
5.1.1 Poesias e prosas breves (em construção)
Poesias
Versos de Natal (Manuel Bandeira)
Envelhecer (Mário Quintana)
Poema da Gare de Astapovo (Mário Quintana)
Seiscentos e Sessenta e Seis (Mário Quintana)
Meu Pai (Ferreira Gullar)
Acidente na Sala (Ferreira Gullar)
Aprendizado (Ferreira Gullar)
Envelhecer (Hermann Hesse)
Pior Velhice (Florbela Espanca)
Páscoa (Adélia Prado)
Os Velhos (Carlos Drummond de Andrade)
Velhas árvores (Olavo Bilac)
O tempo anda passando a mão em mim (Viviane Mosé)
Envelhecer (Albert Camus)
Retrato (Cecília Meireles)
Mestre (Ricardo Reis)
Prosas breves
Como Teodora, minha avó (Marilene Dias dos Santos Grandisoli)
Elas envelheceram (J. B. Pontalis, em À Margem das Noites)
Pont Neuf (J. B. Pontalis, em Elas)
Lentidão (Norberto Bobbio, em O Tempo da Memória)
Um velho rock and roll (Mário Bortolotto, em Souvernis da Guerra)
Filhos c(uida)/(astra)dores (Hemerson Ari Mendes)
5.2 Psicologia (em construção)
“Tratado de geriatria e gerontologia”, de Elizabete Viana Freitas e Ligia Py.
Um clássico da geriatria e gerontologia, já disponível em 5ª edição revista, ampliada e revisada: “Tratado de Geriatria e Gerontologia completa 20 anos, mantendo seu objetivo primordial: servir como fonte de informações atualizadas e relevantes à realidade brasileira para os profissionais da área da saúde e do cuidado social. Esta quinta edição atualizada, que conta com a colaboração de um seleto grupo de especialistas, mantém a mesma estrutura conceitual, porém com 38 novas revisões e avaliações críticas a respeito da pesquisa, da clínica e das modalidades de intervenção no campo do envelhecimento, tais como: desigualdades sociais no Brasil, Biodireito, economia da longevidade, conceitos de tempo em Gerontologia, população negra e cidadania, Idoso rural, velhice LGBT, educação financeira, imunidade, imunização e covid-19, Medicina nuclear em Geriatria e telemedicina. Outra novidade impactante são os 23 capítulos que integram a Parte 1 do livro, cujos conteúdos estão disponíveis online no ambiente virtual de aprendizagem do Grupo GEN para todos os leitores que o adquirirem.”
“Desenvolvimento humano”, de Diana Papalia e Gabriela Martorell
Um clássico da psicologia do desenvolvimento humano, já disponível em 14ª edição revista, ampliada e revisado: “O livro clássico de Papalia e Martorell, Desenvolvimento humano, chega à sua 14ª edição apresentando conteúdos atualizados que permitem aos estudantes uma compreensão ampla da experiência humana em toda sua complexidade e diversidade. A partir de uma abordagem cronológica, o livro acompanha todas as fases do desenvolvimento, desde a formação de uma nova vida até o momento da morte. Para cada etapa, são apresentados dados tanto sobre o desenvolvimento físico e cognitivo quanto sobre o desenvolvimento psicossocial. Sua já consagrada abordagem didática inclui recursos que guiam a leitura e reforçam a aprendizagem, como Pontos principais, Objetivos de aprendizagem, Verificadores “Você é capaz de…”, Resumos e Palavras-chave. Além disso, inclui as seções Janela para o Mundo, que possibilitam uma visão de diferentes tópicos sob uma perspectiva cultural (p. ex., cuidados pré-natais, brigas entre irmãos, relação entre cultura e cognição, uso da internet, estereótipos sobre o envelhecimento, cuidado com os idosos, rituais fúnebres, entre outros), e Pesquisa em Ação, que trazem dados recentes sobre Temas atuais, como mudanças de carreira na meia-idade, abuso contra idosos, suicídio assistido, entre outros”.
“A Velhice” de Simone de Beauvoir
“Em A Velhice, Simone de Beauvoir nos convida a uma exploração profunda e comovente da fase da vida que muitas vezes é negligenciada. Ela não apenas fornece uma revisão histórica detalhada da velhice, mas também propõe uma mudança radical na maneira como a encaramos. Desafiando a visão tradicional da senilidade, a autora mergulha em análises rigorosas, apoiadas por pesquisas e estatísticas. No entanto, Beauvoir mantém uma sensibilidade única, evitando ser cativa das frias certezas dos números. Este livro é uma obra de grande densidade, revelando uma realidade por vezes cruel, mas também rica em experiências”.
“Psicologia do Envelhecimento”, de Ian Stuart-Hamilton
Esta obra, que está em sua 3ª ed., oferece uma introdução ao estudo psicológico do envelhecimento, abordando aspectos como memória, personalidade, adaptação emocional e o impacto das mudanças cognitivas na velhice.
“Bioética, envelhecimento humano e dignidade no adeus à vida”, de Leo Pessini.
A presença do capítulo do Pessini (2016 [2002]) no Tratado de geriatria e gerontologia não é à toa: o capítulo gira em torno a dois objetos da bioética, a saber: (i) o envelhecimento humano e (ii) a morte, o que Pessini (2016 [2002], p. 199) chama de “momento crucial”, quando então “teremos pela frente como desafio assumir com sabedoria a dimensão de finitude de nossa existência” e, em consequência, “nos despedir da vida com dignidade e elegância”.
Memória e sociedade: lembrança de velhos, de Ecléa Bosi
Um lindo trabalho sobre memória e lembranças de velhos: “Ensaio polifônico sobre a memória e suas relações com a vida dos imigrantes e operários da cidade de São Paulo, elaborado a partir de depoimentos de pessoas idosas - de ‘lembranças de velhos’. Uma fonte preciosa de ensinamentos sobre o mundo do trabalho no Brasil”.
O processo de envelhecimento e a atribuição de sentido à vida, de Taiane do Nascimento Andrade-Boccato e Adriana de Fátima Franco
Belíssimo artigo sobre o sentido da vida no envelhecimento.
5.3 Filosofia (em construção)
“A República”, de Platão
Tema: O papel da velhice na sabedoria e na justiça. Explicação: Platão, por meio da figura de Sócrates, aborda a ideia de que a velhice pode trazer sabedoria, sendo um tempo em que a mente se liberta das paixões e desejos da juventude. Para Platão, os anciãos são ideais para governar, pois a experiência e a prudência os capacitam a buscar o bem comum, acima dos interesses pessoais.
“Sobre a Velhice”, de Cícero
Tema: A velhice como parte natural da vida. Explicação: Cícero oferece uma defesa da velhice, contrariando a visão negativa de que a idade avançada é um fardo. Ele argumenta que a velhice traz vantagens, como o aumento da sabedoria e a oportunidade para viver uma vida mais contemplativa. Ele também enfatiza a importância de continuar ativo mental e fisicamente para manter a vitalidade na velhice.
“Ser e Tempo”, de Martin Heidegger
Tema: O envelhecimento e a finitude da existência. Explicação: Heidegger propõe que o ser humano é um “ser-para-a-morte” e que a consciência de nossa finitude molda o modo como vivemos. O envelhecimento é um processo que nos aproxima da realização desse fato. A velhice, nesse sentido, pode ser vista como uma fase crucial para a reflexão sobre a existência autêntica, ou seja, viver de acordo com o reconhecimento da finitude.
“A Dialética do Esclarecimento”, de Theodor Adorno e Max Horkheimer
Tema: O envelhecimento e a sociedade contemporânea. Explicação: Adorno e Horkheimer discutem como o capitalismo e a racionalidade técnica transformam a velhice em um tempo de marginalização. Para eles, a sociedade industrial tende a valorizar a produtividade e a juventude, relegando os idosos a uma posição de inutilidade. Eles criticam a forma como a modernidade aliena os idosos, privando-os de um papel significativo na sociedade.
“A velhice”, de Simone de Beauvoir
Tema: A velhice como um fenômeno social e existencial. Explicação: Simone de Beauvoir, em sua análise sobre a velhice, argumenta que o envelhecimento é tanto um processo biológico quanto uma construção social. Ela critica a maneira como a sociedade marginaliza os idosos e explora a perda de autonomia e o isolamento experimentados na velhice. Beauvoir também reflete sobre como a cultura determina a percepção do envelhecimento e o papel que os idosos podem desempenhar.
“Fenomenologia da Percepção”, de Maurice Merleau-Ponty
Tema: O corpo envelhecido e a experiência da velhice. Explicação: Merleau-Ponty destaca a importância do corpo na maneira como nos relacionamos com o mundo. No contexto da velhice, o corpo envelhecido transforma nossa experiência de tempo, espaço e interação com os outros. A velhice muda a percepção corporal e a forma como nos posicionamos no mundo, oferecendo uma oportunidade para refletir sobre a consciência e a presença.
“Ética a Nicômaco”, de Aristóteles
Tema: A velhice e a vida virtuosa. Explicação: Aristóteles, em sua obra sobre ética, explora a ideia de que a virtude é o caminho para a eudaimonia (felicidade ou florescimento humano). Na velhice, a virtude se manifesta através da sabedoria prática, pois a experiência adquirida ao longo da vida permite decisões mais ponderadas e prudentes. Ele também afirma que a felicidade plena é possível mesmo na velhice, desde que a pessoa viva uma vida virtuosa.
“O Mito de Sísifo”, de Albert Camus
Tema: Enfrentar o envelhecimento com a aceitação do absurdo. Explicação: Camus discute o absurdo da vida humana, a busca de sentido em um mundo que não oferece respostas definitivas. No contexto da velhice, essa visão pode ser aplicada à ideia de que, apesar da inevitabilidade do declínio físico e da proximidade da morte, é possível viver a vida com dignidade e rebeldia. A aceitação do absurdo pode libertar o indivíduo para viver a velhice sem a angústia de encontrar um significado último.
“O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir
Tema: A velhice e a condição feminina. Explicação: Embora o foco principal de Beauvoir seja o papel da mulher na sociedade, ela também discute a questão do envelhecimento, especialmente para as mulheres. Na velhice, as mulheres muitas vezes enfrentam dupla marginalização – pelo envelhecimento e pelo sexismo. Beauvoir reflete sobre como o corpo feminino, que outrora foi valorizado pela juventude e beleza, torna-se objeto de descaso na velhice, e como isso afeta a identidade feminina.
“Condição Humana”, de Hannah Arendt
Tema: A velhice e o espaço público. Explicação: Arendt não trata diretamente da velhice, mas suas ideias sobre a ação e o espaço público podem ser aplicadas ao envelhecimento. Ela sugere que a participação no espaço público e a interação com os outros são fundamentais para a vida humana plena. Na velhice, isso pode ser interpretado como a necessidade de manter a conexão com a sociedade, encontrando maneiras de continuar atuante e relevante no espaço público, em vez de se isolar.
“Tempo e Narrativa”, de Paul Ricoeur
Tema: A memória, a identidade e o envelhecimento. Explicação: Ricoeur explora a relação entre tempo, narrativa e identidade pessoal. Na velhice, a forma como contamos nossa própria história tem um impacto profundo na nossa percepção de quem somos. A memória assume um papel central, e o envelhecimento pode ser visto como um momento em que as narrativas pessoais são reavaliadas e reinterpretadas à luz de uma perspectiva temporal mais ampla.
“O Existencialismo é um Humanismo”, de Jean-Paul Sartre
Tema: Liberdade e responsabilidade na velhice. Explicação: Sartre argumenta que a existência precede a essência, e que o ser humano é livre para criar o próprio destino, independentemente das circunstâncias. Na velhice, essa filosofia implica que o indivíduo, apesar das limitações físicas e sociais, ainda possui a liberdade de definir o que fazer com o tempo que lhe resta. A velhice pode ser vista como um estágio em que a responsabilidade por dar sentido à vida se torna ainda mais evidente.
“Meditações”, de Marco Aurélio
Tema: A velhice e a filosofia estoica. Explicação: Marco Aurélio, um dos principais expoentes do estoicismo, reflete sobre a mortalidade, a finitude e a aceitação do ciclo natural da vida. Na velhice, segundo a filosofia estoica, a serenidade pode ser alcançada ao aceitar que o envelhecimento e a morte são partes naturais da existência. Marco Aurélio sugere que a mente treinada pela filosofia pode encarar a velhice com tranquilidade e dignidade, sem se deixar abater pelas perdas físicas ou sociais.
“Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust
Tema: O tempo, a memória e o envelhecimento. Explicação: Embora seja uma obra literária, o tratado de Proust é profundamente filosófico, especialmente em relação à percepção do tempo e da memória. À medida que os personagens envelhecem, há uma crescente consciência de como o tempo altera suas identidades e relações. Proust explora como a memória reconfigura o passado e como o envelhecimento afeta a percepção do eu ao longo da vida.
“A Morte de Ivan Ilitch”, de Leon Tolstói
Tema: O enfrentamento da morte e o significado da vida na velhice. Explicação: Tolstói, embora seja também um literato, propõe nesta obra uma reflexão filosófica sobre o sentido da vida diante da morte iminente. O protagonista, Ivan Ilitch, ao enfrentar sua morte, reavalia suas escolhas e percebe que viveu de maneira superficial. A obra reflete sobre como a velhice pode ser um momento de intenso autoconhecimento e busca de sentido, quando confrontada com a mortalidade.
“Ser Singular Plural”, de Jean-Luc Nancy
Tema: A coexistência e a velhice. Explicação: Nancy propõe que a existência humana é essencialmente compartilhada, um “ser-com”. Na velhice, essa filosofia pode ser interpretada como a importância de manter a interconexão com os outros, já que o isolamento muitas vezes afeta os idosos. A velhice seria, portanto, uma fase em que as relações interpessoais e a presença do outro são fundamentais para preservar a dignidade e o sentido de identidade.
“A Arte de Viver”, de Epicteto
Tema: Enfrentar o envelhecimento com serenidade. Explicação: Epicteto, um dos filósofos estoicos mais influentes, ensina que devemos focar no que podemos controlar e aceitar com serenidade o que está além do nosso controle, como o envelhecimento. Para ele, o envelhecimento é uma oportunidade para exercitar a filosofia prática e viver de acordo com a natureza, aceitando a transitoriedade da vida sem temor.
“As Confissões”, de Santo Agostinho
Tema: A reflexão sobre o tempo e a mortalidade. Explicação: Santo Agostinho, em sua obra autobiográfica, discute a natureza do tempo e como ele afeta a percepção da vida. Na velhice, a passagem do tempo torna-se um Tema central, levando à reflexão sobre o que significa viver bem e como a eternidade se relaciona com a finitude humana. O envelhecimento, para Agostinho, pode ser um momento de aproximação com o divino e de preparação para a vida após a morte.
“O Mundo como Vontade e Representação”, de Arthur Schopenhauer
Tema: O sofrimento e a aceitação do ciclo de vida. Explicação: Schopenhauer vê a vida como uma constante luta e sofrimento, em que o desejo humano nunca é plenamente satisfeito. Na velhice, esse ciclo de desejos e frustrações diminui, o que ele interpreta como uma libertação parcial das pressões da vida. A aceitação do envelhecimento, e da morte que se aproxima, pode ser vista como o fim natural de uma existência marcada por desejos incessantes.
5.4 Filmes (em construção)
“Amor” (2012), de Michael Haneke
Tema: A fragilidade na velhice e o cuidado. Explicação: Este filme retrata um casal de idosos, Georges e Anne, cuja relação é profundamente abalada quando Anne sofre um derrame que a deixa progressivamente incapacitada. O filme explora o amor, a dedicação e as dificuldades que surgem ao cuidar de alguém que está envelhecendo e enfrentando doenças debilitantes.
“Longe Dela” (2006), de Sarah Polley
Tema: Alzheimer e a perda de identidade na velhice. Explicação: Fiona, uma mulher idosa, começa a perder a memória devido ao Alzheimer e é internada em uma instituição de cuidados. Seu marido, Grant, precisa lidar com o afastamento emocional à medida que Fiona se esquece dele e começa a se relacionar com outra pessoa. O filme explora as complexas emoções de amor, perda e identidade no contexto da velhice.
“Cocoon” (1985), de Ron Howard
Tema: O envelhecimento e o desejo de rejuvenescimento. Explicação: Um grupo de idosos encontra uma piscina com poderes regenerativos, permitindo-lhes recuperar a vitalidade e a juventude. O filme aborda a eterna busca pela juventude e a aceitação do ciclo natural da vida, questionando o que significa envelhecer com dignidade e viver plenamente.
“As Invasões Bárbaras” (2003), de Denys Arcand
Tema: Reflexões sobre a vida e a morte na velhice. Explicação: O filme acompanha Rémy, um homem idoso e doente terminal, que recebe visitas de antigos amigos e familiares enquanto enfrenta a morte iminente. As conversas refletem sobre o envelhecimento, o legado pessoal e as mudanças nos valores sociais ao longo do tempo, abordando a velhice como um momento de reavaliação da vida.
“Nebraska” (2013), de Alexander Payne
Tema: O envelhecimento e os laços familiares. Explicação: Woody Grant, um homem idoso e teimoso, acredita ter ganhado um prêmio em dinheiro e decide viajar até o Nebraska para reivindicá-lo. Acompanhado por seu filho, o filme explora as complexidades das relações familiares, o isolamento e os sonhos que persistem na velhice, com uma abordagem realista sobre o envelhecimento.
“As Confissões de Schmidt” (2002), de Alexander Payne
Tema: O vazio existencial na aposentadoria. Explicação: Warren Schmidt, recém-aposentado e viúvo, percebe que sua vida não tem o significado que ele esperava. O filme explora a crise existencial que muitos enfrentam na velhice, quando as estruturas que sustentavam suas identidades (trabalho, casamento), desmoronam, deixando espaço para a reflexão sobre o sentido da vida.
“Up: Altas Aventuras” (2009), da Pixar
Tema: O luto e a aventura na velhice. Explicação: Esta animação acompanha Carl Fredricksen, um idoso viúvo que decide realizar o sonho que ele e sua esposa falecida tinham: viajar para a América do Sul em sua casa flutuante. Embora seja uma animação, o filme trata com delicadeza Temas como o luto, as memórias, e a possibilidade de novas aventuras e significados na velhice.
“O Exótico Hotel Marigold” (2011), de John Madden
Tema: Redescobertas e novas experiências na aposentadoria. Explicação: Um grupo de aposentados britânicos viaja para a Índia, atraído pela promessa de um luxuoso hotel de baixo custo. Ao chegar, percebem que o hotel está em ruínas, mas a experiência acaba proporcionando-lhes novas perspectivas sobre a vida, amizade e o envelhecimento.
“Conduzindo Miss Daisy” (1989), de Bruce Beresford
Tema: Amizade intergeracional e o envelhecimento. Explicação: O filme acompanha a relação entre Miss Daisy, uma senhora idosa e teimosa, e Hoke, seu motorista afro-americano. Com o passar dos anos, eles desenvolvem uma amizade profunda, e o filme explora questões sobre preconceito, solidão e como o envelhecimento afeta as dinâmicas sociais e pessoais.
“O Filho da Noiva” (2001), de Juan José Campanella
Tema: Amor na velhice e reconciliação familiar. Explicação: Rafael, dono de um restaurante, passa por uma crise pessoal e reflete sobre suas relações familiares, especialmente com sua mãe, Norma, que sofre de Alzheimer. O filme aborda o envelhecimento com sensibilidade, especialmente no contexto das relações familiares e a necessidade de amor e reconciliação na velhice.
“E se Vivêssemos Todos Juntos?” (2011), de Stéphane Robelin
Tema: A vida em comunidade na velhice. Explicação: O filme retrata cinco amigos idosos que, diante das dificuldades de viverem sozinhos, decidem morar juntos para cuidar uns dos outros. Ele aborda questões como a amizade, a autonomia e a interdependência na velhice, desafiando a ideia de que os idosos devem ser isolados em asilos ou instituições.
“Hanami – Cerejeiras em Flor” (2008), de Doris Dörrie
Tema: Luto, velhice e a busca de significado. Explicação: O filme segue Trudi e Rudi, um casal de idosos, e explora o luto quando Trudi falece inesperadamente. Após a morte de sua esposa, Rudi embarca em uma jornada para realizar os sonhos de Trudi e encontrar seu próprio propósito na vida. A velhice é retratada como um momento de redescoberta e aceitação do luto.
“Elsa & Fred” (2005), de Marcos Carnevale
Tema: O amor na velhice e a busca por sonhos. Explicação: Elsa, uma mulher idosa cheia de vida, e Fred, um viúvo solitário, se encontram e iniciam um romance na velhice. O filme celebra a possibilidade de viver intensamente, mesmo na última fase da vida, e mostra que o envelhecimento não impede o amor ou a busca por novas aventuras.
“A Balada de Narayama” (1983), de Shôhei Imamura
Tema: Tradições e o envelhecimento. Explicação: Este filme japonês explora uma tradição fictícia em que, aos 70 anos, os idosos de uma vila devem ser levados ao topo de uma montanha para morrer. O filme aborda o envelhecimento em um contexto cultural que valoriza a sobrevivência do grupo, mas reflete sobre os valores humanos, dignidade e o ciclo natural da vida e morte.
“Viver Duas Vezes” (2019), de Maria Ripoll
Tema: Alzheimer e as relações familiares na velhice. Explicação: O filme segue Emilio, um homem idoso diagnosticado com Alzheimer, que decide procurar seu primeiro amor antes que sua memória desapareça completamente. Ao lado de sua família, a história explora as complexidades do envelhecimento, da perda de memória e dos laços familiares que se tornam fundamentais durante esse processo.
“Antes de Partir” (2007), de Rob Reiner
Tema: Reflexões sobre a morte e a velhice. Explicação: Edward e Carter, dois homens idosos que estão enfrentando doenças terminais, decidem criar uma lista de coisas para fazer antes de morrer e embarcam em uma jornada para realizar esses desejos. O filme trata da velhice como uma fase de reflexão sobre o significado da vida, os arrependimentos e as últimas oportunidades de viver plenamente.
“A Última Gargalhada” (1924), de F. W. Murnau
Tema: Perda de status e dignidade na velhice. Explicação: Este clássico do cinema mudo acompanha a história de um porteiro de hotel idoso que é rebaixado de seu cargo de prestígio, o que o leva a uma profunda crise de identidade e dignidade. O filme aborda como o envelhecimento afeta a autoestima e o papel que a sociedade dá aos idosos, refletindo sobre o valor que associamos ao trabalho e à aparência.
“O Declínio do Império Americano” (1986), de Denys Arcand
Tema: Reflexões sobre a vida na meia-idade e na velhice. Explicação: O filme traz um grupo de amigos de meia-idade que refletem sobre a vida, o amor e suas escolhas, com uma perspectiva que antecipa o envelhecimento. Embora o foco seja na meia-idade, o filme lida com o tempo que passa e a inevitabilidade da velhice, abordando as crises e expectativas relacionadas ao envelhecer.
“Histórias que Contamos” (2012), de Sarah Polley
Tema: Memória, narrativa e identidade. Explicação:
Este documentário explora a história de uma família e revela como a memória é
construída e interpretada de maneira diferente por cada membro. Embora o foco
não seja diretamente o envelhecimento, o filme faz uma reflexão profunda sobre
o papel da memória e identidade na vida das pessoas à medida que envelhecem,
mostrando como nossas narrativas mudam ao longo do tempo.
“A Família Savage” (2007), de Tamara Jenkins
Tema: A relação entre pais e filhos na velhice. Explicação: Dois irmãos, Wendy e Jon Savage, precisam cuidar de seu pai idoso e doente, com quem tinham uma relação distante. O filme explora o impacto emocional e prático do envelhecimento, tanto para os idosos quanto para seus cuidadores, mostrando a complexidade dos laços familiares e o enfrentamento das responsabilidades na velhice.
“Venus” (2006), de Roger Michell
Tema: Sexualidade e desejo na velhice. Explicação: Este filme segue a história de Maurice, um ator idoso que desenvolve um interesse romântico por uma jovem. Embora Maurice esteja na velhice, o filme desafia as expectativas sobre o envelhecimento, ao lidar com o desejo sexual, a vitalidade e a busca por conexões, mesmo em uma idade avançada.
Jerusa (2017), Jeferson De
Tema: A história gira em torno de Jerusa, uma mulher de 70 anos que vive uma vida repleta de desafios e lutas, especialmente em relação ao seu lugar na sociedade e às suas relações familiares Explicação: A trama é marcada por temas como envelhecimento, solidão e a busca por conexão, apresentando uma perspectiva sensível sobre as experiências de vida de uma mulher idosa. Jerusa lida com as dificuldades de um mundo que muitas vezes marginaliza os mais velhos e tenta encontrar significado em suas interações com os outros, incluindo sua filha e amigos.
5.5 Artes plásticas (em construção)
“Retrato de uma Mulher Idosa” (1639), de Rembrandt
Tema: Realismo e dignidade na velhice. Explicação: Rembrandt foi um mestre em capturar a humanidade de seus retratados, e seus retratos de idosos são especialmente notáveis pela expressão de dignidade e introspecção. Esta obra, em particular, mostra a riqueza emocional da velhice, com a mulher representada com realismo e sem idealizações, destacando suas rugas e a profundidade de sua experiência.
“Os Velhos” (1894), de Goya
Tema: A decadência física e o envelhecimento. Explicação: Esta obra faz parte da série “Pinturas Negras” de Goya, nas quais ele explora Temas sombrios e inquietantes, incluindo o envelhecimento. Goya mostra os idosos em um estado de fragilidade física e mental, sugerindo as consequências da passagem do tempo. A obra reflete as ansiedades em torno da velhice e da morte.
“Três Idades da Mulher” (1905), de Gustav Klimt
Tema: O ciclo da vida e a velhice. Explicação: Esta pintura simbolista representa três fases da vida feminina: infância, maturidade e velhice. A mulher idosa está representada de forma nua e vulnerável, contrastando com a vitalidade da mulher mais jovem. A obra reflete sobre a inevitabilidade do envelhecimento e a beleza que pode ser encontrada em todas as fases da vida.
“O Despertar da Humanidade” (1947), de Jean Dubuffet
Tema: A sabedoria e a ancestralidade. Explicação: Dubuffet foi um expoente da arte bruta, e em várias de suas obras, ele celebra figuras idosas como guardiões da sabedoria e da memória cultural. Em “O Despertar da Humanidade”, ele retrata figuras arquetípicas que simbolizam a experiência acumulada e a conexão com as raízes mais profundas da civilização.
“A Vovó” (1888), de Henryk Siemiradzki
Tema: Ternura e afeto na velhice. Explicação:
Este quadro retrata uma avó idosa e uma criança em uma cena familiar e
acolhedora. Siemiradzki usa a luz e as cores suaves para destacar a ternura e a
continuidade entre gerações, enfatizando o papel vital dos idosos na
transmissão de afeto e conhecimento para os mais jovens.
“O Velho Guitarrista” (1903), de Pablo Picasso
Tema: Solidão e sofrimento na velhice. Explicação: Criada durante o “período azul” de Picasso, esta pintura retrata um idoso desolado tocando guitarra, em uma postura melancólica e frágil. A obra reflete a solidão e a vulnerabilidade que muitas vezes acompanham o envelhecimento, utilizando tons frios e uma composição sombria para destacar o sentimento de desolação.
“Mãe Idosa” (1922), de Kathe Kollwitz
Tema: A maternidade na velhice e o luto. Explicação: Kathe Kollwitz foi uma artista alemã conhecida por suas obras profundamente emocionais, muitas das quais abordam a perda e o sofrimento. Em “Mãe Idosa”, ela retrata uma mulher idosa envolvida em tristeza, refletindo sobre a maternidade na velhice e as cicatrizes emocionais que o tempo deixa.
“A Anciã” (1882), de Édouard Manet
Tema: Beleza e simplicidade na velhice. Explicação: Manet retrata uma mulher idosa com simplicidade e dignidade, afastando-se dos padrões de beleza da época que valorizavam a juventude. A anciã é representada de maneira realista, com suas rugas e feições marcadas pelo tempo, sugerindo uma aceitação da beleza que vem com o envelhecimento.
“Os Desastres da Guerra” (1810-1820), de Francisco Goya
Tema: O envelhecimento diante da violência e do sofrimento. Explicação: Embora esta série de gravuras trate da guerra e de suas consequências, muitas das imagens de Goya incluem figuras idosas que representam o impacto do tempo em um contexto de destruição. Os idosos nessas gravuras estão frequentemente entre os mais vulneráveis, vítimas do conflito e da degradação física, simbolizando a fragilidade da vida humana.
“Mãe e Filha” (1913), de Paula Modersohn-Becker
Tema: Envelhecimento e maternidade. Explicação: A obra explora a relação intergeracional entre uma mãe e sua filha, refletindo sobre o ciclo da vida e o papel da mulher ao longo das diferentes fases do envelhecimento. Modersohn-Becker usa uma linguagem visual simplificada para capturar a essência da maternidade e o passar do tempo.
“Vieux Paysan” (1890), de Camille Pissarro
Tema: O trabalhador idoso e o ciclo da vida. Explicação: Pissarro, um dos principais pintores impressionistas, muitas vezes retratou a vida rural. “Vieux Paysan” (Velho Camponês) é uma obra que retrata um trabalhador idoso, refletindo sobre a dignidade dos trabalhadores rurais mesmo na velhice. A pintura destaca o envelhecimento como uma fase da vida, onde a continuidade com a terra e o trabalho persiste.
“Cabanes des Pêcheurs” (1912), de Claude Monet
Tema: Reflexão sobre a natureza e o tempo. Explicação: Embora Monet não tenha focado diretamente no envelhecimento humano, suas séries de pinturas sobre a natureza, especialmente as últimas, criadas durante a velhice, refletem uma percepção cada vez mais intensa do tempo e de sua passagem. Suas paisagens, muitas vezes envoltas em neblina, sugerem a efemeridade e o ciclo natural do envelhecimento e da morte.
“A Velhice” (1894), de Gustave Courbet
Tema: A fragilidade e a dignidade da velhice. Explicação: Courbet retrata uma mulher idosa em um estado de vulnerabilidade, mas ao mesmo tempo, digna. A obra mostra o corpo envelhecido de forma crua, mas com uma beleza única que desafia os estereótipos de beleza associados à juventude, convidando à reflexão sobre o respeito pela experiência acumulada ao longo da vida.
“Idoso Comendo Frutas” (1866), de Édouard Manet
Tema: A simplicidade da vida cotidiana. Explicação: Manet retrata um idoso em um momento cotidiano de comer frutas, sugerindo que a vida continua a ter seus prazeres, mesmo na velhice. A obra evoca uma sensação de tranquilidade e aceitação, celebrando a simplicidade das pequenas coisas.
“O Último Dia de Um Condenado” (1880), de Francisco Goya
Tema: A reflexão sobre a vida e a morte. Explicação: Embora o foco principal seja a pena de morte, Goya utiliza figuras idosas para simbolizar a reflexão sobre a vida, o tempo e a inevitabilidade da morte. A representação da velhice neste contexto é uma crítica poderosa à condição humana e à fragilidade da vida.
“Mulher Idosa com um Chapéu” (1906), de Henri Matisse
Tema: A beleza da vida em todas as idades. Explicação: Matisse, conhecido por suas cores vibrantes e formas ousadas, retrata uma mulher idosa com um chapéu elegante, celebrando a individualidade e a beleza em qualquer fase da vida. A obra enfatiza a alegria e a autoaceitação que podem vir com a idade.
“Os Velhos” (1900), de Henri Rousseau
Tema: A inocência e a simplicidade da vida. Explicação: Rousseau retrata um casal idoso em um ambiente sereno, refletindo sobre a paz e a sabedoria que vêm com a idade. A simplicidade da cena e o uso de cores vivas convidam à contemplação sobre o significado da vida na velhice.
“A Morte de Sardanápalo” (1827), de Eugène Delacroix
Tema: A luta entre vida e morte. Explicação: Embora a obra não trate diretamente da velhice, a representação de figuras idosas entre os personagens em agonia sugere a fragilidade da vida. Delacroix capta a tensão entre a vitalidade e a inevitabilidade da morte, refletindo sobre a transitoriedade da existência.
“Retrato de Velho” (1840), de Jean-Auguste-Dominique Ingres
Tema: A dignidade na velhice. Explicação: Ingres retrata um homem idoso com uma expressão serena, revelando a dignidade e o caráter que vêm com a experiência. A atenção aos detalhes e à textura da pele na pintura convida à apreciação da beleza que reside na maturidade.
“Self-Portrait with Gray Felt Hat” (1886), de Vincent van Gogh
Tema: O envelhecimento e a identidade. Explicação: Neste autorretrato, Van Gogh explora o Tema do envelhecimento e da introspecção. A expressão pensativa e as marcas do tempo em seu rosto capturam a complexidade da identidade ao longo dos anos, refletindo sobre a jornada da vida e as transformações que ocorrem com o passar do tempo.
“A Velhice” (1899), de Pierre-Auguste Renoir
Tema: A alegria na velhice. Explicação: Renoir
apresenta uma mulher idosa em uma cena alegre e vibrante, ressaltando que a
velhice não precisa ser sinônimo de tristeza ou solidão. A paleta de cores
quentes e a composição cheia de vida transmitem uma mensagem de otimismo e
celebração da vida na maturidade.